Bolsa chinesa dá sinais de instabilidade após crescer 120% em um ano

Na sessão desta terça-feira, o principal índice esteve a perder 5%, mas depois recuperou.

Foto

A bolsa chinesa viveu esta terça-feira mais um dia de sobressaltos, com o principal índice da praça de Xangai a fechar nos 4576 pontos, em alta de 2,2%, mas depois de ter que recuperar de uma queda de quase 5% nas primeiras horas de negociação.

O indicador de fecho permitiu algum alívio num mercado que, só na semana passada, caiu cerca de 13%, com a sessão de sexta-feira a representar só por si um recuo de mais de 5%. Mas os analistas ainda não dão como seguro que a praça chinesa possa regressar nos próximos tempos a um ritmo de crescimento sustentado.

A principal razão para a queda de ontem e dos últimos dias reside no facto de muitos investidores terem, de repente, sido obrigados a formular ordens de venda massivas para pagar a quem lhes tinha emprestado dinheiro.

Muitas empresas de corretagem chinesas recorrem ao chamado margin call, um sistema através do qual disponibilizam dinheiro aos investidores, mas ficam com o direito de reclamar essas verbas quando a carteira de títulos cai abaixo de um patamar pré-determinado.

“Trata-se de um círculo vicioso em que as pessoas são forçadas a vender porque se atingiu a margin cal, o que acaba por colocar ainda mais pressão vendedora sobre o mercado”, explica Gerry Alfonso, director de corretagem na companhia Shenwan Hongyuan Securities, citado pela agência Bloomberg.

Mas o comportamento da bolsa chinesa está também a ser influenciado pelo facto de muitos investidores estarem a desviar dinheiro para outro tipo de aplicações, nomeadamente, para as ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) que muitas companhias estão a realizar.

Dados disponibilizados pela consultora Wind Info mostram que as entradas em bolsa poderão reunir cerca de 1100 milhões de dólares, este mês, muito acima dos cerca de 800 milhões investidos neste tipo de operações em Maio.

O fenómeno margin call e a transferência de investimentos da bolsa para as ofertas públicas iniciais poderão ser fenómenos passageiros, mas há um outro dado que contribui para a volatilidade da bolsa chinesa e que tem a ver com o facto de o principal índice do mercado de Xangai ter acumulado nos últimos 12 meses uma valorização de cerca de 120%

Este ganho sem paralelo nos restantes mercados financeiros mundiais foi muito determinado pela campanha que o Governo promoveu há cerca de um ano para deslocar os investimentos no sector imobiliário (em fase de esgotamento) para a bolsa. Os jornais estatais promoveram inúmeros trabalhos sobre as virtualidades do investimento em produtos financeiros.

O que os analistas notam é que este boom no mercado financeiro não tem correspondência na evolução da situação conjuntural. A aterragem da segunda maior economia do mundo é visível desde meados do ano passado e, no primeiro trimestre deste ano, o produto interno bruto cresceu a um ritmo (7%) que é o mais baixo desde 2009 e faz esquecer os crescimentos a dois dígitos do início da década.

“Basicamente, o que temos na China é uma economia em abrandamento, elevada valorização bolsista, endividamento alto, investidores naif e um governo poderoso que diz às pessoas para mergulharem, porque a água está boa”, escreveu esta semana Will Deener, colunista do Dallas Morning News.

Sugerir correcção
Comentar