BCE já comprou 1073 milhões de euros de dívida pública portuguesa

Taxa de juro da dívida portuguesa continua a cair, beneficiando da acção do BCE.

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Mario Draghi cumpriu em Março a sua meta de compra de activos de 60 mil milhões de euros REUTERS/Kai Pfaffenbach

Pelo menos no primeiro mês, o Banco Central Europeu conseguiu cumprir a sua promessa. Em Março, comprou mais de 60 mil milhões de euros de activos na zona euro, contribuindo para o ambiente positivo nos mercados e, espera-se, dando um passo para afastar o risco de deflação. Em Portugal, foram comprados 1073 milhões de euros em títulos de dívida pública portugueses, uma das principais explicações para a persistente descida das taxas de juro das obrigações nacionais.

De acordo com os dados publicados esta terça-feira, as compras totais de activos realizadas nos mercados pelo banco central até ao final de Março atingiram o objectivo mensal de 60 mil milhões de euros que tinha sido definido à partida. Deste valor, 47.356 milhões de euros corresponderam a aquisições de títulos de dívida pública no mercado secundário, distribuídos por dívida emitida por entidades supranacionais (como o fundo de estabilização financeira europeu) e dívida emitida pelos Estados da zona euro, excluindo a Grécia.

Para Portugal, foram 1073 milhões, o que corresponde a cerca de 2,6% do montante total de dívida emitida pelos Estados (41676 milhões de euros). Isto significa que a aquisição de dívida portuguesa esteve, durante o mês de Março, em linha com a percentagem do capital que Portugal detém no BCE (2,47% entre os 19 países que compõem a zona euro). A maturidade média dos títulos comprados é de 10,96 anos.

Como era de esperar, o país que foi alvo de um maior volume de compras de dívida pública foi a Alemanha, com títulos no valor de 11.063 milhões de euros a serem adquiridos em Março. A França, com 8752 milhões, a Itália, com 7604 milhões e a Espanha, com 5444 milhões são os países que se seguem. O BCE não está a comprar dívida grega, dado que o país não cumpre os requisitos mínimos exigidos em termos de ratings e não chegou ainda a acordo para a definição de um programa de financiamento com a troika. A maturidade média dos títulos comprados anda nestes países entre os oito e os nove anos, com excepção da Espanha que, com 11,66 anos, é o único país que ultrapassa Portugal.

A aquisição de títulos de dívida pública nos mercados por parte do BCE tem vindo a contribuir decisivamente para a descida das taxas de juro dos títulos emitidos pela generalidade dos países da zona euro. Portugal, que era um dos países que ainda mantinha taxas mais elevadas antes de se tornar evidente que o BCE iria actuar, tem sido agora um dos mais beneficiados. As suas taxas de juro a 10 anos estão neste momento nos 1,63%.

De acordo com a Bloomberg, o valor dos títulos de divida portugueses a 10 anos subiu 7% nos mercados secundários no decorrer deste ano (o que corresponde a uma descida da taxa de juro implícita), o que é a variação mais elevada entre todos os títulos analisados pela agência noticiosa no Mundo. Os títulos italianos valorizaram-se 5,6%, os espanhóis 3,9% e os alemães 3,6%. A Espanha fez emissões a um ano esta terça-feira com taxas de juro negativos, algo que já tem acontecido em prazos mais elevados no caso da Alemanha.

Os números divulgados agora pelo BCE são o mais recente indicador positivo que é dado aos mercados relativamente ao impacto do programa de compra de activos lançado pelo banco central.

A forte depreciação do euro e o impacto que esta tem nas exportações europeias e na inflação já demonstravam que o efeito da injecção de liquidez poderia ser significativo. Agora, perdeu também força o receio que o BCE não seja capaz de cumprir na totalidade a sua promessa: a de comprar 1,1 biliões de euros de activos entre 9 de Março passado e o final de Setembro de 2016, a um ritmo de 60 mil milhões de euros por ano.

Aparentemente, nesta fase inicial, o BCE entrou em força como comprador nos mercados obrigacionistas e conseguiu encontrar quem estivesse disposto a vender dívida. No actual cenário de taxas de juro muito baixas, em que os investidores e os bancos encontram dificuldades em encontrar activos seguros onde possam colocar a sua liquidez, há quem desconfie que se consiga encontrar no mercado 1,1 biliões de euros de activos disponíveis para o BCE comprar. Pelo menos os primeiros 60 mil milhões foram conseguidos.

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