Banco de Portugal melhora estimativas para este ano e piora para o próximo

Boletim de Verão aponta para uma contracção da economia de 2% em 2013 e para a perda de 212 mil postos de trabalho. Incerteza ameaça projecções.

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Banco de Portugal aponta para crescimento das exportações em 2013. Manuel Roberto

O Banco de Portugal reviu em alta a sua estimativa para a variação do PIB durante este ano, mas está agora mais pessimista em relação ao ritmo da retoma em 2014. O crescimento mais forte das exportações e o impacto do corte da despesa pública são os principais motivos para as revisões realizadas no Boletim de Verão, divulgado nesta terça-feira. A instituição alerta, contudo, para os riscos da actual situação política.

A contracção da economia prevista para este ano passa dos 2,3%, estimados no Boletim de Primavera, para 2%. O Banco de Portugal fica assim com uma projecção mais favorável que o Governo e a troika.

A explicação para este maior optimismo reside principalmente na evolução das exportações. O Banco de Portugal previa um crescimento de 2,2% este ano, mas agora aponta para 4,7%. Ainda assim, a queda do consumo privado e do investimento também serão menores do que o esperado.

Este cenário mais positivo para 2013 não se prolonga para 2014, ano para o qual o banco prevê agora um crescimento de 0,3%, menos do que a retoma de 1,1% que era antes projectada. Neste caso, a explicação está no facto de, agora, o Banco de Portugal ter passado a incluir nos seus cálculos as medidas de austeridade previstas para o próximo ano. O consumo privado, investimento e consumo público ficam com um desempenho bastante mais desfavorável.

O Banco de Portugal alerta que a crise política aumenta a incerteza das projecções agora divulgadas. "As projeções para a economia portuguesa encontram-se rodeadas de uma incerteza particularmente elevada, associada aos recentes desenvolvimentos internos, que se adiciona às exigências da indispensável implementação do programa de ajustamento económico e financeiro", refere o documento.

Economia perde mais de 212 mil postos de trabalho
Apesar de a contracção da economia ser menos forte do que o esperado, a situação do mercado de trabalho continuará a agravar-se durante este ano. O Banco de Portugal estima uma redução do emprego na ordem dos 4,8%, quando no Boletim da Primavera se apontava para uma quebra de 3,3%.

Tomando como referência a população empregada no primeiro trimestre do ano, esta redução traduzir-se-á em menos 212 mil postos de trabalho.

No próximo ano, a queda do emprego será menor, com as estimativas a apontarem para uma redução de 1,3%.

Esta evolução, realça o Banco de Portugal, “traduz uma redução muito acentuada tanto do emprego público como do emprego no sector privado. Neste contexto, importa realçar que a projecção tem implícita uma redução do emprego privado de 5,1% em 2013 e uma queda de 0,3% em 2014”.

A instituição alerta ainda que, à semelhança do que aconteceu em 2012, “a redução do emprego no horizonte de projecção deverá ser claramente superior à da actividade, o que sugere que o ajustamento é percebido pelos agentes económicos como permanente”.

Esta situação terá consequências no prolongamento do cenário recessivo e vai colocar desafios adicionais ao mercado de trabalho, principalmente “se a redução observada das contratações for acompanhada de um aumento significativo das separações”.

Por outro lado, “a reafectação sectorial do emprego, que é potenciada por uma evolução da actividade particularmente desfavorável nos sectores relativamente mais intensivos em mão-de-obra, como a construção, pode gerar fenómenos de persistência de desemprego associados a um desajustamento da oferta e da procura de emprego, característica marcante de períodos de forte reestruturação sectorial”, lê-se no documento.

Embora a instituição liderada por Carlos Costa não avance com estimativas em relação à taxa de desemprego, esta contracção irá contribuir para o agravamento deste indicador. Ainda nesta terça-feira, a OCDE apontava para uma taxa de desemprego de 18,6% no conjunto do ano, ligeiramente acima das últimas previsões do Governo que apontam para uma taxa de 18,5%. 

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