A galinha dos ovos podres

Não é normal um banco ser intervencionado duas vezes pelo Estado. Se no primeiro caso os principais accionistas fora vítimas do PREC, agora foi o líder da família Espírito Santo quem provocou um Processo de Recapitalização em Cadeia. A palavra “ nacionalização” não é usada, mas o certo é que há a utilização de dinheiro do Estado, por via do empréstimo ao Fundo de Resolução.

Há várias diferenças face ao BPN, começando pela dimensão do BES e acabando no facto de Oliveira e Costa não dar inúmeras entrevistas com opiniões sobre tudo e mais alguma coisa. Também as há na forma como o Estado intervém. Mas o certo é que intervém, e convém clarificar muito bem  se há o mínimo de riscos nessa estratégia.

Para trás fica um nome familiar, caído em desgraça, um prospecto de aumento de capital que levou muitos accionistas a entrarem no banco ou a manter posições e o suposto interesse de vários investidores privados que surgiriam antes de uma intervenção do Estado. O BES é agora um banco em saneamento, com muitos clientes, como os depositantes, a não ganharem para o susto. Para estes há o Novo Banco. O “mau” pagam os accionistas (todos) e alguns credores. 

A instituição que funcionou como uma espécie de galinha dos ovos de ouro para os principais accionistas e várias empresas passou a ser uma galinha dos ovos podres. Como é que isso se passou ainda terá de ser mais bem explicado. Para já, fica a ideia de que o responsável do galinheiro era também uma raposa, e que os vigilantes da quinta foram lidando com os buracos na rede à medida que estes iam aparecendo, até se perceber que havia mais buracos do que rede.

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