A descontinuidade de políticas

Não são as décimas a mais ou a menos do desemprego que preocupam. É a tendência.

É o segundo número da semana a confirmar que o arranque do ano, na frente económica, não está a correr propriamente bem. Na segunda-feira, o INE desvendou os dados das exportações (de mercadorias) que mostram uma quebra de 2% no acumulado do trimestre. “Preocupado”, mas “sem alarmismos”, comentou Marcelo Rebelo de Sousa. As mesmas palavras também poderiam ser usadas para qualificar os números do desemprego revelados nesta terça-feira pelo INE, que dão conta da existência de 640.200 desempregados.

O número é “preocupante” porque representa uma subida da taxa para os 12,4%, num trimestre em que não só aumentou a população desempregada como também subiu o número de empregos destruídos. Não são as duas décimas a mais que preocupam, mas sim a estabilização da taxa acima dos 12%, um valor extremamente elevado. É a confirmação do diagnóstico feito pela Comissão Europeia e pelo FMI no último relatório sobre Portugal, em que ambos avisaram que a criação de emprego iria abrandar e que o ritmo ficaria alinhado com o crescimento da economia, sendo que a economia não está a crescer grande coisa.

Daí a necessidade, agora mais do que nunca, de não se desistir das chamadas "políticas activas de emprego", que ajudam a colocar ou recolocar no mercado, mesmo que temporariamente, os mais jovens ou os desempregados de longa duração. Aliás, no relatório da terceira avaliação pós-troika, a Comissão Europeia chega a questionar o Governo sobre a parceria entre os centros de emprego e as agências privadas de emprego, uma ideia que foi lançada em 2012 pelo anterior Governo, mas que nunca saiu do papel e que o actual executivo, pelos vistos, já meteu numa gaveta. A descontinuidade de políticas em áreas tão estruturantes como a do mercado de trabalho já não é preocupante, mas sim alarmante.

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