Viva, Diana!

Estou a ver, enquanto escrevo, Dianne Reeves a cantar no Ronnie Scott's. Ao contrário do que previ ontem, cheio daquele medo que vem das recomendações no escuro, ela está a cantar com todo o tempo do mundo.

Nunca a ouvi cantar assim. A minha geração, infelizmente, foi aquela que promoveu os discos de estúdio – pensados, trabalhados e filtrados até à exaustão – acima do que pensávamos ser a preguiça espontânea dos álbuns "ao vivo".

Só as duas palavras "ao vivo" levam-me automaticamente à morte em palco. É um grande erro. Dianne Reeves ao vivo é uma improvisadora desobedientíssima, fazendo justiça à liberdade de Ella Fitzgerald quando cantava scat (diminutivo de escatalógico, significando não tanto o fim do mundo como a merda do mundo a continuar).

É muito melhor – mais brava, mais livre, mais gorda, mais instintiva e jazzística – do que todos os discos que já gravou.

George Clooney – sobrinho de Rosemary Clooney – reduziu-a com boas mas estupidíssimas intenções a crooner no menos mau filme dele que foi Good Night, and Good Luck.

O concerto que agora decorre mostra que Dianne Reeve em concerto é mil vezes melhor e mais verdadeira do que em qualquer disco. Escrevi ontem sobre ela e enganei-me em tudo.

Ela é uma torrente de improvisações que despreza a perfeição musical e vocal com que nasceu. Como quase sempre a culpa é da companhia discográfica: agora a Concord.

Beautiful Life é um álbum com 12 ou 13 valores. Já o concerto foi perfeito.

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