Sid Vicious viveu depressa e morreu jovem há 25 anos

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Sid Vicious era um dos ícones mais controversos do movimento "punk" DR

Nesse dia, havia sido, mais uma vez, libertado da prisão. O juiz deixou-o sair depois da audiência e regressou a casa de um amigo em Greenwich Village, Nova Iorque, na companhia da mãe. Em casa, consumiu uma dose de heroína fornecida pela mãe e, depois de terem tomado uma refeição, uma outra, mais pura do que o habitual. Teve um colapso, acabou por vir a si, e deixaram-no a dormir. Noite alta, acordou e tomou uma nova dose.

Na manhã de 2 de Fevereiro de 1979, faz hoje precisamente 25 anos, foi encontrado morto devido a "overdose". Com raiva, na solidão, como acontece quase sempre com aqueles que ousam rebelar-se, diz o mito. Sozinho, frágil, dependente, por responsabilidade própria, dizem alguns daqueles que com ele privaram.

Aos 21 anos, morria Sid Vicious. O mito havia emergido dois anos antes, quando conheceu John Lydon e integrou os Sex Pistols, mas tornou-se mais vibrante a partir dessa manhã. Até hoje. Para muitos, continua a personificar a ideia mítica de "viver depressa, morrer jovem", que tem alimentado décadas de cultura popular. Se o movimento punk da segunda metade da década de 70 foi anarquia, niilismo, excesso, uma falta de interesse em relação a tudo e todos, o vazio pelo vazio, o preto e branco da realidade que manchava a imagem cor-de-rosa que a sociedade britânica da época queria perpetuar, então ele é o ícone perfeito do punk. A música, rápida, enérgica e simples pode ter sido eternizada por discos como "Never Mind The Bollocks" dos Sex Pistols ou "Give' em Enought Roupe" dos The Clash, mas a imaginário e atitudes que, ainda hoje subsistem, quando se fala de punk, é Sid Vicious. Quem não se recorda dele interpretando "My way" de Sinatra, desafinado, fanfarrão, desafiador?

Vicious como o rato

John Simon Ritchie, seu verdadeiro nome, nasceu a 10 de Maio de 1957 em Londres. Filho de Ann Beverley, uma militante do movimento "hippie", e de John Ritchie, passou toda a infância com a mãe. Saiu da escola aos 15 anos e foi trabalhar para uma fábrica têxtil antes de tirar um curso de fotografia. Os seus ídolos eram David Bowie, os Roxy Music e os T. Rex.


Em 1973 conheceu John Lydon (mais tarde adoptaria o nome de Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols) no Colégio Técnico de Hackney. Lydon rebaptizou-o e começou a chamar-lhe Vicious, tal como ao seu rato de estimação. Em simultâneo, o futuro obreiro dos Pistols, Malcolm MacLaren, e a sua sócia, a agora famosa designer de moda, Vivienne Westwood, abriram uma loja de roupa em Londres de nome "Sex", naquele que constitui um dos principais embriões para o emergir do punk. Em 1975, MacLaren conhece Lydon e os Sex Pistols nascem.

Sid segue a banda por todo o lado, enquanto tenta aprender os acordes mais rudimentares da viola-baixo. Depois do grupo já ter lançado o single "Anarchy in the UK" e de se terem tornado no alvo principal do circo mediático, devido a concertos tumultuosos e aparições na TV consideradas chocantes, Vicious entra para a banda, substituindo o baixista Glen Matlock. Estávamos em Fevereiro de 1977 e a ocasião ficou marcada por um outro acontecimento vital na sua vida - o encontro com a americana Nancy Spungen, de 19 anos, uma seguidora de bandas rock e viciada em heroína. Dizem as más línguas que foi ela que o persuadiu a agir como uma estrela de rock, dizendo-lhe que era o verdadeiro líder dos Pistols.

Ele agiu como tal. Rotten era o rosto, mas Vicious personificava o verdadeiro espírito do punk. Não sabia extrair praticamente nenhum acorde do seu baixo - nem sequer participou nas sessões de gravação do álbum "Never Mind The Bollocks" - mas todo ele era provocação e atitude de confronto. Em 78, numa digressão americana, chamou ao público "bando de maricas", agrediu alguém com o instrumento, e teve a primeira "overdose". No regresso a Inglaterra, a amizade com Rotten cai por terra devido à sua dependência da heroína, e os Pistols dão por encerrada a sua actividade. Muda-se para Nova Iorque onde vem a formar a banda Idols e edita um álbum de versões de temas dos Sex Pistlos, New York Dolls e Heartbreakers. O resto, é o perpetuar do mito.

Hotel Chelsea

O casal Sid e Nancy aloja-se no quarto nº100 do conhecido Hotel Chelsea, na West 23rd Street, mas as esperanças de um novo começo desvanecem-se devido às drogas. Em Setembro de 78, os membros que restavam dos New York Dolls e Mick Jones dos The Clash promovem um concerto de suporte a Sid, mas este estava cada vez mais isolado. A 12 de Outubro, manhã cedo, acordou do sono induzido pelas drogas para descobrir Nancy, na casa de banho, numa poça de sangue com a sua faca-de-mato ao lado. Quando a polícia chegou, apesar de não se lembrar de nada devido à ingestão de droga, admitiu tê-la assassinado, sendo acusado de homicídio em segundo grau. O caso ficou envolto em mistério e é libertado sob caução. Seguiram-se tentativas de suicídio e uma nova prisão em Dezembro de 1978 por agressão a Todd Smith, irmão da cantora Patti Smith. É libertado a 1 de Fevereiro de 1979. No dia seguinte, faz hoje 25 anos, morre.

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