Será pedir de mais?

Um novo capítulo, notável, na arte do trio. Jazz de câmara, elegante, sofisticado e invulgarmente directo.

Recuperado directamente do conjunto de registos mais interessantes lançados o ano passado, este "Am I Asking Too Much", do clarinetista John Ruocco, evoca o universo poético de outro músico, Jimmy Giuffre, pelo som, pela forma como é trabalhado o silêncio e pela excepcional clareza do fraseado.

Contando com a colaboração de dois grandes músicos, John Taylor no piano e Riccardo Del Fra no contrabaixo, Ruocco desenvolve uma música sofisticada, tocada sem rodeios e pretensiosismos, tranformando-a na coisa mais simples do mundo.

Afinal, exactamente aquilo que fez Giuffre em álbuns como "Free Fall" ou "Flight, Bremen 1961". Natural dos Estados Unidos, Ruocco mudou-se cedo para a Europa desenvolvendo uma sólida carreira entre a Holanda e a Bélgica, associado a formações como a Dutch Jazz Orchestra ou a Den Haag Conservatory Big Band. Agora com 56 anos, começa finalmente a conquistar alguma visibilidade, reforçada pela participação no último disco da compositora Myriam Alter (Enja), registo onde participam ainda Jacques Morelenbaum, Greg Cohen ou Joey Baron. O som do trio, lírico e intimista, surpreende-nos ao revelar uma força oculta e velada, o tipo de força que se esconde por detrás dos grandes poetas jazz como Bill Evans, Chet Baker ou Lee Konitz.

A escolha do pianista John Taylor, um especialista em tempos lentos e na incorporação do silêncio no discurso musical, confere a "Am I Asking Too Much" um toque clássico e intemporal, acentuado pela espontaneidade das secções improvisadas que surgem como natural extensão das composições do clarinetista. Em "Benebe", quarto tema do álbum, sentimos que poderíamos ficar a ouvir apenas o clarinete, sem qualquer acompanhamento, de tal forma são a beleza e força projectadas pelo sopro de Ruocco. No entanto, é decididamente a comunicação intensa entre os três músicos e o seu permanente sentido de risco que faz deste um registo especial.

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