Salman Rushdie fala num "clima de medo" 20 anos depois de "Os Versículos Satânicos"

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Há uma recompensa de 2,5 milhões de euros pela morte do escritor Foto: Shaun Curry/AFP

Mais de vinte anos depois de ter sido condenado à morte pelo ayatollah Ruhollah Khomeini, Salman Rushdie disse, numa entrevista à BBC, que hoje um livro que criticasse o islão como o seu romance Os Versículos Satânicos dificilmente seria publicado.

"Estamos numa situação difícil, porque há um clima de muito medo e nervosismo", prosseguiu o romancista britânico nascido na Índia, que viveu 11 anos na clandestinidade. Diz que proibição do seu livro e as ameaças de morte que recebeu ajudaram a criar esse "clima de medo permanente".

"Se olharmos para a forma como a liberdade de expressão está a ser atacada pelo extremismo religioso, as coisas de que as pessoas são acusadas são sempre as mesmas: blasfémia, heresia, insulto, ofensa", enumerou. "Isto é vocabulário medieval."

Na véspera da entrevista de Rushdie à estação britânica, uma fundação religiosa iraniana tinha anunciado que aumentara a recompensa pela sua morte para 3,3 milhões de dólares (2,5 milhões de euros), com o argumento de que se o seu polémico romance não tivesse sido publicado, "certamente que os últimos insultos sob a forma de caricaturas, artigos ou filmes não teriam ocorrido".

Para Rushdie, o que aconteceu foi precisamente o contrário. E deu um exemplo: depois dos protestos contra o filme Innocence of Muslims, o Channel 4 britânico cancelou a transmissão do documentário Islam: The Untold Story, com receio de reacções violentas.

A única forma de ultrapassar o problema da autocensura, sublinhou, é os editores serem "mais corajosos". Acrescentou que só se vive numa sociedade livre quando se sente que se tem o direito de falar ou de fazer o que se quiser.

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