O Museu do Prado não sabe onde estão 885 das suas obras

A fiscalização que o Tribunal de Contas espanhol tem em curso na instituição está a identificar uma sucessão de problemas na gestão de fundos do museu, detentor de uma das mais importantes colecções de arte do mundo.

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Paulo Pimenta/arquivo

O Museu do Prado, de Madrid, que tem uma das mais importantes colecções de arte do mundo, desconhece o paradeiro de 885 das suas obras, apurou o Tribunal de Contas espanhol, segundo uma notícia avançada pelo El País.

É um número impressionante, mas que já foi mais alto, acrescenta o diário: entre 2008 e 2012, o Serviço de Depósitos do museu localizou 41 obras das 926 que, nessa altura, chegaram a compor a lista das peças de paradeiro desconhecido.

Não quer dizer que todas essas obras estejam definitivamente perdidas: a instituição atribuiu as perdas e posteriores localizações a uma “reordenação das colecções” feita em conjunto com o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, também de Madrid. Assim, 12 das peças do Prado entretanto já localizadas “estavam depositadas em diversas instituições”, diz o relatório do Tribunal de Contas de novo citado pelo El País. Também entre 2001 e 2006, foram localizadas obras: mais dez.

São os casos mais felizes. No entanto, um porta-voz do museu já disse à imprensa espanhola que uma parte importante – se não a maioria – dos trabalhos por localizar poderão ter sido destruídos em incêndios e durante as guerras. Talvez tentando justificar a escala do número de obras por localizar, o mesmo porta-voz explicou: “Não chega suspeitar, se não consta [de documentação oficial] que [essas obras] tenham sido destruídas, não se podem tirar dos inventários.”

A juntar a essa dificuldade, o Prado tem por criar o seu Centro de Gestão de Depósitos e revela ter “insuficiência de meios humanos” para investir na gestão dos seus acervos.

São problemas com que se confrontam muitas grandes instituições mundiais. Ainda assim, as explicações do museu não estão a convencer o Tribunal de Contas, diz ainda o El País. O tribunal diz que “prosseguirá” com as buscas das obras que constem em “arquivos antigos” e entende ser “imprescindível” que o museu prossiga também com os seus trabalhos de busca e controle dos seus depósitos noutras instituições – uma secção dos inventários conhecida como “Prado Disperso”. A “ausência” de relatórios periódicos sobre o estado das colecções é uma “debilidade” que os fiscalizadores recomendam que seja sanada.

Ainda segundo este diário espanhol, já nos anos 1980 os responsáveis pelo Prado deram como perdidos cerca de 350 telas e, uma década depois, os inventários do museu declarariam que cerca de 500 obras tinham sido destruídas ou estavam em paradeiro desconhecido.

Nessa altura, os acervos do Prado guardavam cerca de oito mil obras – quase menos 20 mil do que actualmente. Hoje, o museu terá 27.509 obras, das quais 7621 pinturas, 15.480 desenhos e estampas e 4408 esculturas e peças de artes decorativas. Destas, 3206 obras estão em depósitos fora do Prado, 2975 das quais dispersas por 263 instituições espanholas. No decorrer da actual fiscalização, o museu solicitou a certificação do paradeiro de 1789 destas obras a 82 instituições. Só 64,63% ficou confirmado por 53 instituições. Algumas das instituições não responderam e 25 fizeram saber que havia discrepâncias entre os seus arquivos e os do Prado.

Na opinião do Tribunal de Contas, estas discrepâncias terão a ver com a antiguidade dos depósitos em causa bem como com falta de controlo de arquivos. O plano de actuação decretado para o período de quatro anos, entre 2013 e 2016, prevê a fiscalização in situ de pelo menos parte das obras que o Prado tem dispersas. Além da localização, pretende-se que sejam também analisadas as condições e conservação e segurança das peças. Durante essa campanha, deverão ser tratadas 1500 obras em 130 instituições, devendo ser fotografadas e integradas num arquivo informático de gestão de fundos actualmente em desenvolvimento.           

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