Na hora de levar o palco do Rock in Rio para casa, o sentimento é ambíguo

Os gritos de apoio às bandas deram lugar ao barulho de máquinas, concentradas na despedida rápida do festival
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Os gritos de apoio às bandas deram lugar ao barulho de máquinas, concentradas na despedida rápida do festival Rui Gaudêncio
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Com o Optimus Primavera Sound no Porto, o Rock in Rio despede-se de vez de Lisboa no final do mês. Mas, até lá, ainda há algum trabalho pela frente: o processo de desmontagem do maior festival do mundo é exigente e gera nostalgia e descompressão.

Quem entra no Parque da Bela Vista, pode ter alguma dificuldade em reproduzir os cincos dias de animação partilhados pelas 353 mil pessoas, números oficiais, que marcaram presença na quinta edição do Rock in Rio Lisboa.

Os gritos de apoio às bandas preferidas, as gargalhadas e todos os sons extasiados associados à Cidade do Rock deixaram de se ouvir há menos de uma semana. Agora, deram lugar ao barulho das máquinas, dos martelos e dos camiões que cruzam o recinto em todas as direcções, concentrados na despedida rápida e eficaz do festival que já não tem som, luz, nem vídeo.

Com o adeus marcado para final de Junho, é mais fácil desmontar do que dar vida a um evento que ocupa 85 hectares e carrega, em música e entretenimento, o título de maior do mundo. No entanto, para o coordenador de engenharia do Rock in Rio, Ricardo Escarduça, os processos são abordados da mesma forma. “Tanto a montagem como a desmontagem têm tarefas não sobrepostas, mas sequenciais. É planeado o início e o fim de cada actividade, para que as fases seguintes possam ser iniciadas”, explica.

Grande parte dos palcos e outras estruturas já começou a ser desmontada e, sequencialmente, o festival prepara-se para devolver o parque à cidade. O cuidado empregue à devolução deverá implicar alguns trabalhos de reparação. “São coisas perfeitamente reparáveis: uma pedra solta na calçada, um trilho que um pneu de máquina pesada deixou no relvado e revitalizar todo o prado pisado pelas massas de multidão”, concretiza Ricardo Escarduça. “A principal preocupação é ir embora o mais rapidamente possível, mas, no dia da conclusão, temos de garantir que o parque está em boas condições”, sublinha.

Não sobra quase nada

O Palco Mundo já não está em condições de receber nomes como Metallica, Linkin Park, Lenny Kravitz, Stevie Wonder e Bruce Springsteen, que, nesta edição, levaram o público ao rubro. Dezenas de trabalhadores arregaçam as mangas para concluir a desmontagem do cenário até ao final da semana, com ajuda da única grua existente no parque, e depois se dedicarem à estrutura metálica.

Seguindo na direcção do palco Sunset, passa-se pela Rock Street, onde as casas ao estilo de Nova Orleães são dos poucos apontamentos coloridos no recinto. O chão é pontuado por panfletos esquecidos e caixotes do lixo com garrafas de água e copos de plástico de cerveja a lembrar a maior fonte de hidratação do festival. Mais alguns funcionários, dos cerca de 100 recrutados para fase de desmontagem, passam carregados com vigas de madeira e chega-se ao destino, onde só resta a estrutura e a tenda da régie vazia.

A montanha russa e a roda gigante já partiram para outras paragens, mas ainda andam todos a braços com a “desmontagem alucinante” da tenda VIP. “É que temos material de revestimento de tecto e paredes e decoração e ainda a tenda”, justifica o coordenador de engenharia do Rock in Rio. No interior, os pufs cor-de-rosa, que antes preenchiam o espaço, estão amontados e as mesas e cadeiras empacotadas esperam que alguém as carregue. Sobram, no tecto, os candeeiros de formas indefinidas, qual indício de glamour.

A despedida do festival gera um sentimento agridoce para as mais de oito mil pessoas acreditadas que, diariamente, entravam e saíam da cidade do Rock. “Para mim, a desmontagem é uma sensação de enorme de alívio e descompressão, de dever cumprido”, afirma Ricardo Escarduça.

Ao acabar do stresse, de telefonemas e reuniões constantes, que pautam de intensidade a organização do evento, alia-se um vazio nos primeiros dias em que se desfaz a rotina. “O Rock in Rio é perito em gerar uma mistura de emoções intensas nas pessoas. Esse vazio preenche-se com a quantidade de coisas que vamos poder voltar a fazer e com o prazer de contribuir para a satisfação do público”, remata.

Para o contentamento de muitos, tal como na desmontagem, esse vazio também tem data de início e de fim. Começa no final de Junho, mas termina passados dois anos, com o regresso à capital portuguesa para a sexta edição do maior festival de música e entretenimento do mundo.

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