Instituto Francês em Lisboa vai vender edifício e muda-se para embaixada

Serviços vão deixar de ter edifício autónomo e passam para o Palácio de Santos. Consulado geral no Porto vai passar a agência consular.

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Pedro Inácio/Arquivo

O Instituto Francês de Portugal (IFP) vai abandonar as actuais instalações no edifício na Avenida Luís Bívar, em Lisboa – que vai ser posto à venda –, e passar para a Embaixada de França, no Palácio de Santos.

A mudança foi confirmada ao PÚBLICO pelo embaixador Jean-François Blarel, que ao mesmo tempo anunciou o encerramento da delegação do IFP no Porto e do próprio consulado geral de França nesta cidade, que vai passar a agência consular, representado por um cônsul honorário.

“A preocupação de optimizar permanentemente a divulgação cultural da França em Portugal correspondendo cada vez melhor às inúmeras expectativas do público neste domínio”, foi a justificação dada, por mail, pelo diplomata para estas medidas, que são da responsabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país.

Nesse sentido, as mudanças em Portugal não são mais do que parte de “uma ampla reestruturação da carga consular” da França em todo o mundo, explicou por sua vez ao PÚBLICO o novo cônsul no Porto, Patrick Howlett-Martin, que chegou a esta cidade no início de Setembro, depois de ter passado por Cabo Verde, onde também foi fechado o consulado francês – e o mesmo aconteceu, de resto, em cidades como Veneza, Nápoles e… Washington, assinala Howlett-Martin.

No caso de Lisboa, o IFP vai “regressar” ao Palácio de Santos, “retomando, assim, uma tradição histórica”, uma vez que a ala oeste do palácio fora “precisamente construída, em 1937, para o acolher”, recorda Jean-François Blarel.

Sem responder às perguntas específicas que o PÚBLICO colocou sobre que valências e serviços se irão manter (e/ou perder) com esta mudança, o embaixador francês refere que, “hoje, a actividade do IFP manifesta-se através da sua abertura ao público, das suas parcerias com os municípios e com as instituições culturais portuguesas, da sua projecção em Portugal inteiro”. E cita a Festa do Cinema Francês, ainda em curso, e que este ano se estendeu a 18 cidades e aldeias do país.

Jean-François Blarel refere ainda “a multiplicação de eventos organizados hors murs do instituto, bem como através da Internet”, citando o caso concreto de uma "Culturateca" online, recém-inaugurada.

Uma consequência inevitável do fecho das instalações na Avenida de Luís Bívar é a necessidade de a Alliance Française, um dos inquilinos do edifício, encontrar nova sede. O embaixador francês assegura que a transferência dos serviços do IFP “não porá em causa a permanência das funções da Alliance Française de Lisboa". Francis Maizieres, director na capital portuguesa desta associação especialmente vocacionada para o ensino da língua, confirmou estar “já à procura de novas instalações”, mas não quis tecer qualquer comentário sobre o fecho do instituto.

Depois da localização inicial no Palácio de Santos, o instituto passou a chamar-se Franco-Português em 1984 e, em 2011, ganhou instalações próprias na Avenida de Luís Bívar, com a designação de Institut Français du Portugal. Além da Alliance, tem um auditório, uma livraria, uma mediateca (com uma componente relevante de publicações de carácter científico) e uma cafetaria. A degradação das instalações e a diminuição da sua procura terão também pesado na decisão do governo francês de proceder a esta mudança e vender o edifício. Actualmente, o IFP é dirigido por Azouz Begag, escritor e político, que chegou a ser ministro com a pasta da promoção da igualdade de oportunidades (2005-07) no governo de Dominique de Villepin.

No caso do Porto, as mudanças estão já marcadas para Abril do próximo ano. O cônsul Patrick Howlett-Martin, cuja carreira diplomática passou já também por Cuba e Brasil, diz não ter grande preocupação com uma eventual diminuição da presença cultural francesa na Região Norte, onde existe uma numerosa comunidade do país. A criação de uma agência consular, com um cônsul honorário, associado ao trabalho do Liceu Francês no Porto – “que tem 80% de alunos portugueses, o que é uma percentagem rara”, nota o cônsul – e da Alliance (que tem secções também em Braga, Guimarães e Viseu, além de outras cidades no país), não só garante como pode mesmo “consolidar a afirmação da cultura francesa”, diz Howlett-Martin. E lembra que “a embaixada em Lisboa não fica assim tão longe”.

O cônsul acrescenta que Portugal não pode ficar de fora deste “esforço do governo francês de responder à crise e às exigências do nosso tempo diminuindo a sua carga consular no mundo".

Refira-se que, no caso do Porto, o fecho do consulado de França vem suceder-se ao que já tinha acontecido com as representações congéneres da Itália, Inglaterra e Alemanha, mantendo-se actualmente na cidade, da União Europeia, apenas o consulado de Espanha.

O presidente da AF no Porto, Manuel Novaes Cabral, vê nas mudanças agora anunciadas como “uma oportunidade" para que a Alliance, em paralelo com a valência do ensino – onde a procura tem aumentado de forma pronunciada desde a reinstalação da associação em 2007 – passe a “ocupar também um espaço na difusão da cultura francesa”. “Vamos assumir a nossa responsabilidade neste domínio”, diz o também presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, que na semana passada foi condecorado pela França com o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.

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