Homens cheios de ruído num lugar cheio de silêncio

A nova produção da companhia Circolando estreia-se às 22h desta sexta-feira, no Mosteiro de São Salvador de Travanca, em Amarante.

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Miguel Nogueira
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Um retalho do quotidiano terrestre, congelado, à nossa frente. Uma rapariga a fazer tricô, outra de olhos postos num velho televisor, outra ainda a escrever num caderno de linhas, duas mulheres sentadas em torno de uma mesa, um homem a passar a ferro, outro a fazer exercício numa bicicleta fixa...

Agasalhe-se. As noites caem frias. Estamos sentados no pátio interior do Mosteiro de São Salvador de Travanca, exemplar do século XI, em Amarante.

A Circolando estreia esta sexta-feira um espectáculo híbrido, como é seu hábito: Horas, dirigido por André Braga, desta vez com o Coro Gregoriano de Penafiel.

Revela-se aquela gente capaz de unir as vozes numa melodia, sem qualquer instrumento a acompanhá-las. Morreu e subiu aos céus e lá exercita a arte de rezar e cantar ao mesmo tempo sem que se perceba o que diz. Não se confundem com eles os dois homens que se contorcem, amiúde no chão, como animais rastejantes.

Um diálogo entre o real e o imaginado, entre o interior e o exterior, entre a escuridão e a luz, entre o presente e o passado? André Braga atribui à Idade Média, o tempo em que este conjunto monástico foi construído e esteve sob gestão de abades trienais beneditinos, “uma decadência e uma desorientação que de alguma maneira se aproximam do aqui e do agora”.

Há paz naquelas figuras humanas de vestes brancas, sem asas nas costas, com rostos de animais irracionais, como se dissessem que é deles, dos irracionais, o maior grau de pureza. E angústia nos dois homens que se contorcem como se não tivessem coluna vertebral. São homens cheios de ruído interior a viver uma experiência radical: o recolhimento num lugar de silêncio e de oração.

Horas é um espectáculo com imagens lindíssimas, vozes límpidas, movimentos certeiros, uma viagem maniqueísta. Uma mistura de dança contemporânea, canto gregoriano e vídeo, para ver esta sexta-feira, às 22h, e este sábado, à mesma hora, seguindo a Rota do Românico até à Rua do Mosteiro, na freguesia de Travanca.

Lá para Setembro, a produção da Circolando vai voltar à cena, pelo menos, em Penafiel, Santa Maria da Feira e Gaia.

 

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