Gurlitt deixa colecção a museu suíço

O coleccionador alemão que morreu na terça-feira, e que tinha 1400 obras de arte escondidas no seu apartamento de Munique, deixou tudo ao Kunstmuseum de Berna.

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Kunstmuseum de Berna

Um museu suíço, o Kunstmuseum de Berna, foi nomeado herdeiro exclusivo de Cornelius Gurlitt, o coleccionador alemão que morreu na terça-feira, aos 81 anos, no mesmo apartamento de Munique em que escondeu, durante décadas, 1400 obras de grandes nomes da pintura moderna, avaliadas em mais de mil milhões de euros.

O coleccionador terá feito testamento poucas semanas antes de morrer, segundo o seu porta-voz, Stephan Holzinger, que acrescentou apenas que caberá aos tribunais determinar se o testamento é válido e se não existem eventuais objecções legais a este legado. “Percebo que haja agora muita especulação, mas nesta fase não quero adiantar mais nada”, disse Holzinger.

A notícia foi divulgada esta quarta-feira, mas o jornal alemão Süddeutsche Zeitung já noticiara na terça-feira ao final da tarde que Gurlitt não queria dispersar a colecção e decidira deixá-la a uma instituição estrangeira. O jornal, sem citar fontes, sugeria que as hipóteses mais prováveis seriam um museu austríaco ou suíço, e que Gurlitt excluíra a possibilidade de doar obras a uma instituição alemã porque estava “irritado” com a perseguição das autoridades judiciais do seu país.

Cornelius Gurlitt tinha uma irmã mais nova que ainda é viva, Benita, mas aparentemente não lhe deixou nada.

Os responsáveis do museu contemplado no testamento – fundado em 1879, o Kunstmuseum de Berna é o mais antigo museu de arte suíço dotado de uma colecção permanente – já reagiram à notícia, afirmando-se “surpreendidos e encantados” por saber que estas pinturas irão enriquecer a sua colecção. Num comunicado enviado aos meios de comunicação, o museu afirma ainda que esta doação “acarreta uma considerável responsabilidade" e coloca questões “difíceis e sensíveis, particularmente de natureza legal e ética”.

Há exactamente um mês, a 7 de Abril, Gurlitt celebrara um acordo judicial com o governo alemão, comprometendo-se a ajudar a identificar e devolver aos seus legítimos herdeiros as pinturas que tivessem sido saqueadas no período nazi. Em contrapartida, as autoridades acederam a devolver-lhe a parte da colecção que o seu pai teria adquirido legalmente. Uma equipa de especialistas nomeada pelo governo federal alemão e pelas autoridades bávaras já determinara que pelo menos 380 pinturas tinham sido saqueadas pelos nazis, havendo muitas outras ainda em investigação.

As primeiras já não deverão ser entregues ao museu suíço, uma vez que não estariam legalmente na posse de Gurlitt, e é provável que as pinturas de origem ainda duvidosa  também não o sejam, pelo menos por enquanto. Ainda assim, restam algumas centenas de obras que tinham reentrado na posse do coleccionador, uma vez que não se descobriram quaisquer provas de que tivessem sido adquiridas por meios ilegais.

O Kunstmuseum de Berna tem uma colecção de arte de cerca de três mil pinturas e esculturas de diversos períodos, incluindo obras de Picasso e Paul Klee.

 

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