Festa do Cinema Francês quer recuperar o tempo perdido

15ª edição da mostra de cinema começa hoje em Lisboa antes de viajar por 18 cidades portuguesas e quer atingir os 50 mil espectadores este ano

Foto
"La Cour de Babel" é o filme de abertura DR

Azouz Begag, director do Institut Français du Portugal (IFP), é peremptório: “a Festa do Cinema Francês (FCF) tornou-se na montra da presença cultural francesa em Portugal”. Por isso, a edição 2014 do evento, que tem início hoje pelas 21h30 no cinema São Jorge, em Lisboa, com a projecção do documentário de Julie Bertuccelli La Cour de Babel é um momento de viragem.

Para marcar o 15º ano da FCF, Azouz Begag quer fazer dela “a fundação da acção cultural” daquele braço cultural do governo francês, reacordando o interesse pelo cinema e pela cultura franceses que sente adormecido há muito tempo entre nós.

“Quero verdadeiramente recuperar o tempo perdido desde há uma geração,” diz ao PÚBLICO, e no processo “quebrar os estereótipos de elitismo e arrogância ligados à cultura e à língua francesa”. Para isso, o director do IFP aposta na sólida popularidade da mostra de cinema de produção francesa e propõe ambiciosa expansão. A edição 2014 prolonga-se por quase dois meses, terminando apenas a 22 de Novembro, com sessões em 18 cidades de todo o país (algumas das quais tomaram elas próprias a iniciativa de contactar o IFP para fazer parte do programa) e ainda em cinco aldeias do Norte de Portugal (por existir aí “uma maior presença da cultura e da língua francesa através da emigração em França”). É a Festa na Aldeia, que pede de empréstimo o título da primeira longa-metragem de Jacques Tati e vai mostrar “cinema ambulante” num écrã insuflável de seis por quatro metros em aldeias onde não existem actividades culturais.

O objectivo da FCF 2014 é atingir os 50 mil espectadores. “Se conseguimos atingir [em 2013] os 23 mil espectadores em apenas sete cidades, penso que 50 mil com 18 cidades é realista”, defende Azouz Begag. São os públicos mais jovens que a Festa quer atingir este ano: “Todos sabem que os jovens adoram cinema, e tenho a ambição de lhes mostrar este ano a variedade e a qualidade de um cinema que não conhecem, bem como de trazer muitas turmas escolares para um primeiro contacto com a língua.”

Daí que a escolha de filmes para a edição 2014, feita de entre a produção francesa dos últimos 18 meses, preste atenção a obras sobre a família, a infância, a adolescência. Vão de documentários sobre os universos escolares (La Cour de Babel, o filme de abertura, e A Caminho da Escola, de Pascal Plisson) às comédias populares (As Férias do Menino Nicolau, nova adaptação das histórias escritas por Goscinny e desenhadas por Sempé), passando por títulos de sensibilidade mais independente (Vandal, de Hélier Cisterne) ou aclamados pela crítica (Les Combattants, de Thomas Cailley).

A selecção, como confirma o adido audiovisual do IFP, Jean-Chrétien Sibertin-Blanc, reflecte igualmente uma direcção que tem vindo a ser afinada ao longo dos anos - “apagar” a divisão tradicional entre o cinema de autor e o cinema popular, fazer esquecer a imagem um pouco “autista” de um cinema ou “elitista”, em colaboração com a maioria dos distribuidores portugueses (cerca de metade dos 25 filmes do programa oficial estão adquiridos para futura exibição comercial).

“A Festa sempre teve o objectivo de atingir todos os públicos,” explica Sibertin-Blanc, “e o espírito tem sempre sido o mesmo: fazer descobrir a diversidade do cinema francês. Tentamos ter uma selecção de alta qualidade, exigente, diversificada.” Que passa, este ano, por homenagear Alain Resnais, um dos “autores” mais unânimes do cinema francês dos últimos 50 anos, falecido em Março último, numa retrospectiva a ter lugar na Cinemateca Portuguesa; a Festa apresenta este sábado em ante-estreia os seus dois últimos filmes, Vocês Ainda Não Viram Nada e Amar, Beber e Cantar (respectivamente às 19h00 e 21h30).

A programação e o calendário das sessões podem já ser consultadas no site oficial em www.festadocinemafrances.com . Depois da inauguração, a Festa segue em Lisboa até dia 18 de Outubro. Quase ao mesmo tempo, estará no Seixal (4 a 10 de Outubro) e em Coimbra (6 a 10), antes de seguir para Portimão (9 a 11), Porto (13 a 19), Santarém (21 a 23), Faro (21 a 26), Braga (28 a 30), Guimarães (31 de Outubro a 4 de Novembro), Leiria (4 a 6 de Novembro), Beja (4 a 9), Caldas da Rainha (6 a 8), São Pedro do Sul (7 a 9), Viana do Castelo (11 a 14), Almada (12 a 16), Setúbal (13 a 15), Aveiro (20 a 21) e Funchal (25 a 28).

 

Sugerir correcção
Comentar