Cinemas já recuperaram 350 mil espectadores em 2006

As salas de cinema estão hoje melhor do que há um ano, com mais espectadores em relação ao primeiro semestre de 2005. O ano começou mal, com perdas de 700 mil entradas até Março, mas no segundo trimestre houve uma tremenda recuperação. O DVD talvez já não seja o principal concorrente do cinema. Há espaço para os dois. Então, o que faz a diferença para o mercado? Ter filmes para o grande público.

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Mais espectadores, mais receitas de bilheteira, foi assim que acabou o primeiro semestre de 2006 nas salas de cinemas em Portugal. É cedo para dizer que a crise acabou para os exibidores, mas é uma surpresa quando se olha para 2005, onde os cinemas perderam 1,4 milhões de espectadores, e para os primeiros três meses deste ano: um desastre, com perdas de 700 mil espectadores.

Abril, Maio e Junho foram meses excepcionais, o que resultou num semestre com mais 344 mil espectadores em relação ao mesmo período de 2005. Até Junho, 7,5 milhões de pessoas foram ao cinema, contra 7,2 milhões no ano passado (mesmo assim, ainda se está longe dos números de 2004 - 8,1 milhões -, o primeiro ano em que as entradas passaram a ser controladas informaticamente). Abril foi um mês particularmente acima da média, com mais 38,6 por cento de espectadores, tornando-o no terceiro melhor resultado mensal em quase três anos - só é ultrapassado por Agosto de 2004 e Dezembro de 2005.

Segundo a Lusomundo, esta recuperação tem uma explicação simples: foi um semestre de títulos muito fortes, o grande factor que influencia a ida de pessoas às salas de cinema. E houve vários blockbusters que surgiram no segundo trimestre, como o polémico O Código Da Vinci, de Ron Howard, que em Portugal foi o filme mais visto neste semestre, com mais de 700 mil entradas. Outras obras como a animação Idade do Gelo 2 tiveram um bom resultado - foi o segundo mais visto. Piratas das Caraíbas - O Cofre do Homem Morto é o terceiro da lista, seguindo-se Missão Impossível 3, Infiltrado, Pular a Cerca e Munique. (A lista dos mais vistos inclui já dados de Julho, embora não tenham ainda sido divulgados o número de espectadores desse mês.)

Ano vai acabar bem

José Pedro Ribeiro, presidente do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM), diz que estes números vêm confirmar que não houve uma mudança nos hábitos dos portugueses e que a oscilação no mercado deve-se unicamente "à ausência de títulos fortes". Neste semestre, diz, essa ausência não aconteceu e aí estão os resultados. "Se lhe derem bons filmes, filmes mais comerciais e atractivos, as pessoas vão ao cinema." José Pedro Ribeiro admite que os próximos tempos serão positivos: "Acredito que haja um indício no sentido de uma recuperação. Há um puxar para cima."

O presidente do ICAM diz até que os cenários mais pessimistas não têm razão de ser: "O primeiro semestre de 2006 é um claro indício de que as salas de cinema não vão acabar."

Rui Gomes, do Observatório das Actividades Culturais, concorda: "Apesar de tudo, o cinema é das práticas culturais mais generalizadas, com maior importância em relação a outros consumos, como ir ao teatro."

Rui Gomes argumenta ainda que as descidas dos últimos anos se deveram "à generalização do DVD e à oferta de televisão via cabo". A venda de DVD continua a subir em Portugal (ver texto ao lado), mas a um ritmo menor. É por isso que, diz José Pedro Ribeiro, há "espaço para o cinema e para o DVD". "São mercados que, em vez de serem concorrentes, complementam-se."

Mesmo assim, garante Rui Gomes, será difícil voltar aos números do início da década, onde se chegou a ter perto de 20 milhões de espectadores. Em 2004 houve 17,1 milhões de espectadores, baixando para 15,7 em 2005. "Deverá haver uma estabilização ao nível dos 16/18 milhões."

Como ajudar o cinema? Rui Gomes não sabe se "mais campanhas levariam mais pessoas ao cinema". José Pedro Ribeiro concorda, embora ache que em relação ao cinema português (depois do megassucesso O Crime do Padre Amaro em 2005, os filmes nacionais regressaram a números discretos) acredite que poderia ajudar se, por exemplo, "a RTP se envolvesse mais na promoção dos filmes que apoia".

O presidente do ICAM também pensa que a produção nacional pode vir a "beneficiar de uma recuperação de públicos", como aquela que se sentiu nos primeiros seis meses do ano, embora acrescente não ser essa a prioridade do instituto que dirige. "O nosso objectivo é apoiar a produção de filmes de valor cultural e artístico e que a sua análise não se reduza ao número de espectadores."

Hollywood olha para fora

Essa não é a perspectiva de Hollywood, onde a indústria do cinema apenas tem em atenção a lógica comercial. Mas Hollywood também teve de mudar alguma coisa, sobretudo depois de os Estados Unidos não terem escapado em 2005 (e na última década) à queda do mercado. Daí que, diz o New York Times, Hollywood tenha começado a ver com outros olhos os mercados estrangeiros como o europeu (Portugal, por exemplo, é uma gota no oceano, mas está num honroso décimo lugar na União Europeia quanto ao número de bilhetes vendidos - ver texto à direita).

A razão é simples: filmes como O Código Da Vinci (o mais visto em 2006 em Portugal) fizeram nos Estados Unidos 169 milhões de euros até ao final da primeira semana de Agosto, contra 452 milhões no estrangeiro.

Há outro dado importante: a indústria prevê uma subida no número de espectadores durante os próximos cinco anos e as maiores subidas vão registar-se na Ásia e na Europa central e ocidental. Segundo a empresa PricewaterhouseCoopers, espera-se que a indústria do entretenimento cresça mundialmente a um ritmo anual de 5,3 por cento até 2010, incluindo a venda de bilhetes e de DVD.

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