A estante que uniformizou o mundo

A Billy é um dos produtos mais conhecidos e populares da IKEA e até serve de base a um indicador que avalia a saúde da economia mundial. Barata, minimal e modernista, vai mudar pela primeira vez em 30 anos.

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A Billy é um dos produtos mais conhecidos e populares da IKEA e até serve de base a um indicador que avalia a saúde da economia mundial. Barata, minimal e modernista, vai mudar pela primeira vez em 30 anos.

Billy. Não será bem um sinónimo de IKEA, mas é quase. A Billy é, a par das mesas quadradas Lack, um dos produtos mais conhecidos da empresa sueca. Como os pequenos lápis beges, os sacos amarelos ou os sacos azuis, a estante Billy é uma presença facilmente identificável no mar de mobiliário e produtos para a casa que a IKEA espalha pelos seus labirintos de convite às compras em cada gigantesca loja. A partir deste mês, a Billy está um pouco diferente. É a primeira vez em cerca de 30 anos que a estante barata e omnipresente nas casas de jovens adultos de todo o mundo vai mudar.

Ao longo das suas três décadas de vida, a Billy tem sido um testemunho de mudança e um símbolo — como quando se introduziram na gama prateleiras e estantes adequadas para armazenar DVD e CD, por exemplo, ou pelo facto de ser um indicador económico. Tal como há o Índice Big Mac (o mais conhecido produto da McDonald’s), há o Índice Billy: são indicadores anuais usados pela Economist ou pela Bloomberg, respectivamente, para comparar os custos relativos de bens em países de todo o mundo. O Índice Billy compara os preços de uma das estantes da gama em todos os mercados onde está presente a IKEA (que é o maior retalhista de mobiliário do mundo) e avalia se foram aplicados descontos, onde se mantêm mais baixos ou sobem perante a inflação do euro, desvalorizações do dólar ou crises de confiança do consumidor, por exemplo. É o design como farol.

Agora, a Billy — que tem também um dos nomes de baptismo mais simples e universal do mundo IKEA, povoado por cadeiras de baloiço Värmdö, linhas Kunsgholmen ou brinquedos Smakrip — vai mudar, mas não demasiado. Por fora, é o revestimento que ganha um acabamento mais duradouro e resistente a riscos; na versão similar, a madeira fica mais perto do material imitado, sendo que, na versão branca, a cor será mais clara e nítida. Também as suas extremidades serão arredondadas, na eterna demanda da protecção da casa quando há crianças a correr pelos corredores.

Por dentro, a Billy do século XXI terá prateleiras reforçadas (algumas Billy carregadas com tomos mais densos são conhecidas por abaular a meio, passados alguns anos de estadia de enciclopédias e histórias universais) e os orifícios que permitem a customização da estante com a ordenação de prateleiras à vontade do freguês serão menos visíveis. Por falar em customização, serão acrescentadas à gama Billy prateleiras de vidro ou extensões para que a estante possa ganhar portas, por exemplo, além de, diz a empresa sueca, ser mais fácil combinar Billy de diferentes tamanhos em módulos.

Presente em 26 países com 305 lojas, dizer IKEA tornou-se equivalente a dizer design acessível e “faça-você-mesmo” (embora, segundo a comediante norte-americana Amy Poehler, IKEA signifique “discussão” em sueco, muito provavelmente para aqueles casais perdidos no labirinto da loja ou atordoados na montagem dos produtos). A gama Billy faz-se de estantes de diferentes alturas e larguras, módulos para a sua extensão, prateleiras e outros simples acessórios, linhas rectas e minimais. A típica estante Billy alta custa 90 euros e as baixas 35 euros.

Mudar algumas das suas características é actualizar um desenho feito num guardanapo pelo designer Gillis Lundgren — que também criou as embalagens planas da IKEA — em Outubro de 1979 porque simplesmente queria “uma estante verdadeira só para livros”. É mudar um produto que está espalhado pelo mundo no âmbito da demanda IKEA de implantar o “minimalismo funcional global”, como lhe chama o director do museu nacional de design Cooper-Hewitt dos EUA. Citado pela New Yorker, Bill Moggridge acrescenta que os traços IKEA (que são particularmente visíveis na espartana Billy) são “modernistas e muito neutros para evitar preferências locais”.

Nos seus primeiros 30 anos de vida, venderam-se mais de 41 milhões de Billy, sendo a média de vendas anuais de três milhões de estantes, segundo o diário britânico The Guardian. A partir deste mês, a versão original da Billy vai começar a desaparecer das lojas e permanecerá apenas, além de nas casas de proprietários pelo globo, no futuro Museu IKEA. Em Almhult, o local onde ficava a primeira loja IKEA, nasce no Outono de 2015 o repositório da história de como uma marca sueca pôs em prática o sonho do design acessível, uniformizando vidas pelo planeta, um bocadinho de Suécia de cada vez.     

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