"O cinema espanhol está em coma", denunciam os produtores

Quebras na afluência de espectadores e na produção e orçamentos dos filmes espanhóis preocupam indústria, que quer novo modelo de financiamento público

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Hugh Jackman foi uma das estrelas do festival espanhol RAFA RIVAS/afp

O título é do diário El País: “a indústria do cinema espanhol está em coma”. A Federação de Produtores espanhóis anunciou em pleno Festival de San Sebastián, onde estão estrelas como Hugh Jackman ou Oliver Stone e correspondentes das mais importantes publicações mundiais do sector, que em 2012 a facturação do cinema local caiu15% e a taxa de emprego 12% - números que em 2013 tendem a ser bem piores, como ilustram os números das rodagens em curso até finais de Setembro deste ano, 92 contra as 129 de 2012.

Cerca de 1,4 milhões de espectadores deixou as salas, referem os produtores, e “em 2013 as previsões do Instituto Nacional de Estatística [de Espanha] são ainda piores, com uma queda anual, até ao mês de Julho, de 20,8%” na taxa de emprego gerada pelo cinema em Espanha, lamentou quinta-feira à noite o produtor José Antonio Félez. O El País cita ainda dados quanto aos orçamentos dos filmes espanhóis rodados em 2012, que tomam como bitola os valores acima do milhão de euros: mais de 50% dos filmes feitos no ano passado tiveram menos de um milhão para trabalhar. Isto num momento em que, apesar de tudo, há um crescimento de 19,9% nas vendas internacionais de uma indústria que conta com quatro filmes premiados com Óscares de melhor filme estrangeiro.

Os produtores espanhóis aproveitaram o palco de San Sebastián para exigir que o Governo intervenha rapidamente no modelo de financiamento do sector e que crie incentivos fiscais para salvar a indústria da sua dormência. A estas invectivas sobre o cenário de depressão do lado da produção juntou-se a questão, muito debatida em Espanha, da subida do IVA sobre os produtos culturais – fixou-se nos 21% em 2012, temendo-se que tenha efeitos dissuasores do lado do consumo e que tenha influído na quebra de receitas do cinema espanhol.

De acordo com a imprensa espanhola, está paralisada a comissão de trabalho que deveria estar há um ano a desenhar e negociar um novo modelo de financiamento para reagir aos problemas do Fundo Nacional da Cinematografia – o instrumento estatal através do qual o Ministério da Cultura encaminha para o sector as suas verbas de apoio públicas, a diminuir há vários anos. Apesar de ter como objectivo participar na construção de uma nova lei de financiamento do cinema que deveria vigorar já a partir de Janeiro de 2014.

O momento é “de absoluta urgência”, disse em San Sebastián Joxé Portela, o presidente da FAPAE, a confederação que agrega todas as empresas de produção de cinema e televisão espanholas. Para este responsável, “é necessário que saibamos se existe vontade política ou não para fazer avançar este novo modelo [de financiamento] porque o trabalho técnico está feito”.

Entretanto soube-se sexta-feira que a parcela que cabe à Cultura no Orçamento de Estado espanhol para 2014 crescerá 17,1%  – mais 81 milhões de euros do que em 2012  – aumento que o ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, disse que se deve a uma aposta "em concreto" no teatro, não acrescentando mais pormenores.

Recorde-se que se se fala num coma do cinema espanhol, deste lado da fronteira os produtores, distribuidores e realizadores denunciaram 2012 como sendo “o ano zero do cinema português”. A suspensão dos concursos a apoios públicos para a produção cinematográfica ou realização de festivais em 2012 gerou uma paralisia no sector e só no final do ano foi promulgada a nova Lei do Cinema e do Audiovisual.

Esta prevê alterações na forma de captação de verbas para o sector, algumas das quais têm sido contestadas – os operadores de televisão por subscrição estão em incumprimento desde Julho quanto ao pagamento da taxa anual – e discutidas publicamente pelos agentes do sector. Outras estão a ser alvo de discussão pública por questões específicas, como o modelo de financiamento da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, que está suborçamentada pelo menos desde Abril deste ano. A sua situação será discutida no Parlamento a 9 de Outubro com dois projectos-lei (Bloco de Esquerda e PCP) e um projecto de resolução (PS) que pedem alterações à lei n.º 55/2012 para garantir estabilidade no financiamento da instituição.

No início deste ano, o Observatório Europeu do Audiovisual concluía que “o declínio [das vendas de bilhetes] no Sul da Europa reflectiu a falta de êxitos locais", enfatizando a importância do "impacto do sucesso nacional nos resultados anuais”.  
 
 
 
 

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