Christie’s já pôs um preço final na colecção do museu de Detroit

Leiloeira avaliou a parte do acervo comprada com dinheiros camarários. São 2773 obras que, em caso de venda, renderão entre 330 e 630 milhões de euros.

<i>The Wedding Dance</i>, c. 1566, de  Brueghel, o Velho
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The Wedding Dance, c. 1566, de Brueghel, o Velho Detroit Institute of Art
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A Visitação, 1640, de Rembrandt van Rijn Detroit Institute of Art
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Natureza-morta com Velas Caídas, 1929, de Max Beckmann Detroit Institute of Art
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A Janela, 1916, de Henri Matisse Detroit Institute of Art
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Auto-retrato com Chapéu de Palha, 1887, de Vincent van Gogh Detroit Institute of Art

O relatório final da Christie’s, uma das maiores leiloeiras do mundo, tem 150 páginas e já foi entregue ao gabinete encarregado de gerir a bancarrota da cidade norte-americana de Detroit, liderado por Kevyn Orr.

O relatório final da Christie’s, uma das maiores leiloeiras do mundo, tem 150 páginas e já foi entregue ao gabinete que gere a bancarrota de Detroit, liderado por Kevyn Orr.

A empresa foi encarregada, em meados deste ano, de avaliar parte da colecção do museu de arte da cidade, o Detroit Institute of Art (DIA), para que Orr e a sua equipa possam saber quanto renderá esta garantia já tantas vezes mencionada como “solução de recurso” nos esforços de tirar a capital da indústria automóvel americana da situação de calamidade financeira em que se encontra.

Contas feitas a 5% do acervo do DIA — a Christie’s pôs um preço apenas nas 2773 obras compradas com fundos camarários — e chega-se ao intervalo 454-867 milhões de dólares (entre 330 e 630 milhões de euros). A casa de leilões cingiu-se apenas a uma pequena parcela da colecção de 66 mil peças porque a restante está abrangida por outros vínculos ao museu, como doações e empréstimos, explicam os jornais.

No comunicado em que dá conta de que o relatório está entregue, a leiloeira garante ainda que o extenso documento avança também uma série de “recomendações” para que a cidade saiba como pode tirar partido destas obras sem ter de prescindir dos seus direitos de propriedade.

No mesmo comunicado, o presidente da Christie’s americana, Doug Woodham, garante que a empresa cumpriu o que lhe foi pedido pela equipa de gestão de emergência de Detroit, conferindo às quase 3000 peças o “justo valor de mercado”. “Também fornecemos alternativas à venda capazes de angariar dinheiro para a cidade, permitindo manter a colecção intacta.”

Entre estas alternativas estão, escreve o jornal Detroit News, a de dar algumas das obras como garantia para futuros empréstimos, alugar outras a museus que o solicitem ou permitir que sejam adquiridas por coleccionadores e organizações sem fins lucrativos que, depois, as emprestariam ao DIA a título permanente. O estabelecimento de um “fundo de obras-primas” cujas acções seriam adquiridas por investidores e a criação de receita através de exposições itinerantes são outras hipóteses.

Os responsáveis do museu já vieram manifestar-se contra estas propostas, dizendo que “põem a colecção em sério risco” e assegurando, lê-se no diário espanhol El País, que tencionam recorrer a todos os mecanismos legais para manter o acervo intocável.

Os valores agora apresentados estão ligeiramente acima dos divulgados a 2 de Dezembro pelo estudo preliminar da leiloeira. Contudo, muitos especialistas e credores alertam para o facto de que os números avançados podem estar muito abaixo do valor real, já que obras como a de Brueghel, o Velho (Dança de Casamento, c. 1566) não aparecem há décadas no mercado e que, por isso, se torna impossível estabelecer paralelismos com leilões recentes ou chegar a estimativas rigorosas.

Em caso de venda, Dança de Casamento promete ser a obra mais cara do lote, ficando algures entre 100 e 200 milhões de dólares (73 a 146 milhões de euros). Mas há outras pinturas na casa das dezenas de milhões, como Auto-retrato com Chapéu de Palha, 1887, de Vincent van Gogh (58 a 110 milhões de euros), A Visitação, 1640, de Rembrandt van Rijn (37 a 66 milhões), e A Janela, 1916, de Henri Matisse (29 a 58 milhões).

Lembra o diário The New York Times que a possível venda de parte do acervo do DIA tem provocado polémica. Se, por um lado, os credores da cidade argumentam em tribunal que uma colecção de arte não é um bem essencial, podendo ser alienada para pagar dívidas nas áreas da saúde e das pensões, por outro, os que apoiam o museu defendem que o acervo faz parte da história de Detroit e que sob pretexto algum deve ser vendido.

Recentemente, o DIA entrou em negociações com os mediadores da bancarrota – a falência foi decretada em Julho, quando a cidade foi a tribunal pedir protecção contra os credores –, em particular com o juiz federal Gerald Rosen. É este representante que está em conversações privadas com uma série de filantropos para tentar reunir 500 milhões de dólares (365 milhões de euros) que seriam entregues aos responsáveis municipais caso estes concordassem em abdicar do museu, que seria transformado numa instituição sem fins lucrativos, à semelhança de tantos outros espalhados pelo país.

Seja qual for o valor atingido pelo acervo vendável do DIA, ficará certamente muito longe do montante total da dívida de Detroit, avaliada em, pelo menos, 18 mil milhões de dólares (13 mil milhões de euros).
 
 

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