A Arco vista por olhos reais

Os príncipes espanhóis inauguraram esta manhã de quinta-feira a feira de arte contemporânea de Madrid.

Foto
Pablo Mesegar Cortesia Arco 2013

Houve tempos em que a loucura com a visita da família real espanhola, que anualmente inaugura a feira de arte contemporânea de Madrid, era absoluta. Era, na verdade, parte integrante – e importante – da estratégia de venda da feira. Mas esses tempos parecem ter acabado.

Esta quinta-feira, como tem vindo a acontecer desde 2009, os príncipes herdeiros, Felipe e Leticia, voltaram a substituir os reis na visita à Arco. Chegaram pontualmente às 12h e entraram com uma comitiva de membros do governo e convidados, entre os quais o embaixador da Turquia, que é o país convidado deste ano na feira, e o secretário de Estado da Cultura português, Jorge Barreto Xavier.

Houve uma muralha de imprensa que os rodeou a todos ao longo do percurso de uma hora por entre galerias espanholas e internacionais.

Mas já não se vê em Espanha – pelo menos na Arco – o circo de adoração que noutros tempos arrastava até ao Parque Ferial Juan Carlos II centenas de curiosos de máquina fotográfica em punho, todos a acotovelar-se pela oportunidade de estar mais perto.

Ainda houve fotojornalistas a tropeçar em esculturas enquanto corriam atrás de uma foto. E o aparato de segurança mantém-se. Mas vivem-se outros tempos. Por um lado, mergulhada no seu mundo de crescentes polémicas, a família real parece ter perdido o favor de grande parte da população, que não tem também a sua princesa em grande estima. Por outro lado, como parte da sua estratégia de crescente profissionalização, a Arco só amanhã deixará entrar o grande público, pelo que a visita real se faz agora maioritariamente entre agentes do circuito da arte.

E de que é feita esta visita? Como se vê a feira por olhos reais? Infelizmente, com menos arte do que diplomacia.

Este ano, ao contrário do que aconteceu já várias vezes, nenhuma das 11 galerias portuguesas presentes fez parte do percurso inaugural. Há dois anos, por exemplo, Felipe e Letizia visitaram a Vera Cortês. E Letizia até se deteve tempo suficiente para tentar perceber junto da galerista portuguesa como se escolhe arte. Este ano, a visita começou com uma breve passagem pela Travesia Cuatro (Espanha), junto à entrada do Pavilhão 10, para logo de seguida se deter no stand da decana Juana de Aizpuru, talvez a mais conhecida galerista espanhola e a fundadora da Arco.

Juana de Aizpuru lá estava, com o seu cabelo cor de fogo. Felipe e Letizia pararam frente a uma fotografia de grandes formatos de Wolfgang Tillmans e depois a um óleo de Albert Oehlen. E seguiram caminho. No total, a comitiva visitou dez galerias, entre as quais quatro espanholas e quatro turcas, uma alemã e uma brasileira, acrescendo uma breve paragem na zona de Solo Projects, uma zona de comissariado especial este ano dedicada à América Latina. Mas o percurso teve o dobro das paragens: 20. Ou seja, metade das visitas do acto inaugural da feira, que apesar do folclore é uma oportunidade de grande visibilidade internacional, foram dedicadas a diplomacia pura, sobretudo junto de instituições, nomeadamente os stands da comunicação social, como os jornais espanhóis El País, El Mundo e ABC e a Radio Nacional.

À chegada, Felipe mostrou-se preocupado com um fait divers da véspera: quis saber como se tinha resolvido o problema da escultura partida na galeria Max Estrella. Em hora de ponta de visitas profissionais, alguém se encostou e derrubou sem querer o homem barrigudo que Bernardís Roig representou com uma perna a menos e apoiado sobre um néon branco. Constou que os dois braços que a escultura tem cruzados atrás das costas se partiram. O príncipe soube. E ficou surpreendido quando lhe disseram que a peça já estava de novo no seu lugar. É uma edição em série, mas esse pormenor não deve ter constado do briefing sobre a Arco.

 

A jornalista viajou a convite da TourEspaña
 
 
 
 
 
 

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