Bill Cosby volta a ser julgado por agressão sexual, desta feita de uma menor

Actor nega acusação, cujo julgamento agora começa em Los Angeles. Judy Huth era adolescente quando diz ter sido forçada a actos sexuais. “O julgamento de Judy pode ser a nossa última hipótese de justiça”, diz outra alegada vítima.

Foto
Bill Cosby EPA/BASTIAAN SLABBERS

Esta segunda-feira recomeçam as tentativas de julgar o comediante Bill Cosby por crimes sexuais. Depois de ter sido condenado por agressão sexual agravada, e depois libertado por erros processuais, o actor que em tempos era conhecido como “o pai da América” vai ser novamente alvo de um processo em que Judy Huth o acusa de a ter agredido sexualmente quando ela era adolescente, nos anos 1970.

O processo de selecção do júri, figura essencial no sistema judicial norte-americano, começa esta segunda-feira em torno das alegações de Huth de que Cosby a apalpou contra a sua vontade e a obrigou a um acto sexual quando estavam na Mansão Playboy, em Los Angeles, há 50 anos. O processo cível é por agressão sexual e devolve Cosby, que sempre se disse inocente deste crime e daquele pelo qual foi condenado em 2018 por ter sedado e agredido sexualmente a ex-jogadora de basquetebol Andrea Constand, ao banco dos réus. A primeira sessão do julgamento está agendada para 1 de Junho.

A condenação pelo caso Constand foi a primeira grande decisão judicial pós-#MeToo e parecia pôr fim a décadas de denúncias por dezenas de mulheres que não se conheciam mas relatavam um modus operandi que se tornaria famoso: Bill Cosby drogaria as mulheres em quem estaria interessado e depois cometia actos sexuais com elas sem o seu consentimento ou conhecimento. Admitiu o uso de fármacos para tais fins num depoimento em 2005, motivado por um processo de Constand e que acabaria por findar num acordo sigiloso. Foi esse depoimento e acordo, cujas condições implicaram, no entender do Supremo Tribunal da Pensilvânia, que fez com que a sua condenação histórica de 2018 fosse anulada — estaria implícito que Cosby não podia responder por esses crimes.

Com Bill Cosby em liberdade, Judy Huth regressa agora à carga com um processo que data de 2014 e que ficou em banho-maria quando Cosby foi detido e o caso Constand começou a ser julgado. Huth tem hoje 64 anos e conheceu o actor e comediante num parque durante uma filmagem em meados dos anos 1970. Cosby convidou-a e a uma amiga para irem ao clube de ténis de que era membro e deu-lhes álcool; levou-as à mansão da revista de Hugh Hefner, onde Huth alega que ele abusou sexualmente dela. Tê-la-á forçado a um acto sexual, detalha o New York Times.

Por se tratar de uma menor na altura — há versões diferentes sobre se ela teria 15 ou 16 anos quando dos alegados acontecimentos — este caso é o único do género e um dos poucos que restam no sistema judicial americano contra Cosby (a maioria foi resolvida com acordos ou ficou pelo caminho). “Penso que o julgamento de Judy pode ser a nossa última hipótese de justiça e de ver responsabilização na nossa luta contra Bill Cosby”, disse Victoria Valentino, que alega que o actor a drogou e violou em 1969 em Los Angeles, ao New York Times — Cosby também nega tal acto. “Provavelmente é a única via disponível”, corrobora Patricia Steuer, que acusa Cosby de a drogar e agredir sexualmente em 1978 e em 1980 — o que Cosby também nega.

Os advogados de Cosby dizem que os registos de presença da Mansão Playboy relativos a 1974 não contêm os nomes de Huth ou da sua amiga e dizem que o actor “nega veementemente que a queixosa fosse menor de idade”. Cosby invocou a Quinta Emenda da constituição norte-americana, que lhe permite não testemunhar para não se incriminar, e não subirá ao banco do tribunal para depor. Também não estará presente no julgamento.

Bill Cosby tem hoje 84 anos e onze dos processos cíveis de que foi alvo foram resolvidos com acordos, detalha o New York Times. O prazo de prescrição de crimes sexuais foi alargado no estado da Califórnia em 2020. Há um outro processo cível contra Cosby, movido pela actriz e artista Lili Bernard, em Nova Jérsia — a alegada vítima diz que o actor a drogou e a atacou sexualmente num hotel em Atlantic City, naquele estado norte-americano, onde em 2019 os prazos de prescrição para este tipo de caso foram também revistos.

Notícia corrigida às 11h16 de 24 de Maio: designação da emenda da constituição dos EUA

Sugerir correcção
Comentar