Bancos estrangeiros já fecharam mais de 200 balcões em Portugal mas o número pode duplicar

Seis bancos nacionais já encerraram 500 balcões nos últimos quatro anos, e o processo de emagrecimento vai continuar.

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O banco inglês Barclays anunciou a saída de Portugal, Espanha, França e Itália. AFP

A queda da actividade bancária, que em muitos casos está na origem de prejuízos elevados, levou os bancos a recuperar uma receita antiga: a redução da estrutura de custos, através do encerramento de balcões e do despedimento de trabalhadores. A falta de perspectivas de melhoria da operação em Portugal está a levar duas instituições estrangeiras - o Barclays e o BBVA – a avançar medidas mais drásticas: a saída do país.

Desde 2010, os bancos estrangeiros já encerraram 209 balcões, reduzindo a presença de 678 a 469 agências (ver quadro). A perspectiva de saída do Barclays e BBVA pode implicar o encerramento de mais 230 balcões, reduzindo a presença estrangeira a cerca de um terço face há quatro anos.

O facto de os balcões serem quase todos arrendados, o que também é verdade para os bancos nacionais, facilita os processos de emagrecimento da rede.

A redução da presença estrangeira pode ser minimizada se os bancos em causa conseguirem vender a operação total em Portugal (carteira de clientes e cedência de balcões) hipótese pouco provável, dado o sobredimensionamento do sector bancário nacional no seu todo. Até agora, as manifestações de interesse têm sido vagas. O Banco BIC admite ficar com alguns balcões do Barclays, mas está impedido de adquirir um banco de raiz, por causa de ter adquirido o BPN. O Banco Santander Totta, que já encerrou sete dos 20 balcões que pretende fechar este ano, exclui o interesse na rede, mas admite estudar a aquisição de activos. O Crédito Agrícola está, segundo uma notícia recente do Jornal de Negócios, a estudar a operação do BBVA em Portugal, mas não há informação sobre o seu foco de interesse.

Segundo dados da Associação Portuguesa de Bancos, o Barclays era a instituição estrangeira com mais agências em Portugal, 279, em 2010. A redução da presença em Portugal começou em 2012, está agora a quase metade ­-147 espaços - da presença de há quatro anos. Neste momento, o grupo britânico, que também pretende sair de Itália, Espanha e França, conta com 1.600 funcionários em Portugal, tendo sofrido uma redução de mais de 400 trabalhadores entre 2012 e 2013.

O BBVA, que tal como o Barclays registavam prejuízos na operação em Portugal, nos últimos anos, reduziu dez balcões entre 2010 e 2014, detendo actualmente 83.

O Banco Popular é o segundo banco estrangeiro com maior presença em Portugal, detendo de momento 173 agências, segundo os números do sítio da instituição na Internet. Ao longo dos últimos quatro anos, o Banco Popular também tem reduzido o seu número de agências em território nacional. Em 2010, contava com 232, tendo reduzido 59 sucursais até ao corrente ano. O período entre 2011 e 2012 já tinha encerrado 34 pontos de venda.

Com uma operação mais reduzida em Portugal, mas com um percurso bastante regular desde 2010, surge o Deutsche Bank. O banco alemão, ao contrário das outras instituições estrangeiras, aumentou o número de agências desde 2010, ano em que detinha 51 balcões, até 2014, tendo actualmente 56.

Depois do encerramento de 14 balcões, a Caja Duero, que em Espanha se fundiu com a Caja España, ficou reduzida a um balcão, em Lisboa, e os restantes bancos, Nova Galícia e Banco Brasil, não têm expressão.

No caso de bancos estrangeiros, mas também nacionais, o encerramentos ou fusões de balcões em grandes centros urbanos não levanta muitos problemas aos clientes. já nas pequenas cidades ou vilas, esse processo pode obrigar os clientes a percorrer dezenas de quilómetros para aceder aos serviços do banco.
 
Bancos nacionais também encolhem
A redução de balcões também está a acontecer, em larga escala, nos bancos nacionais e com tendência para continuar. O próprio Governador do Banco de Portugal tem defendido a necessidade de mais concentração no sector o que, a acontecer, significará sempre uma racionalização de pontos de venda.

Desde 2010, seis instituições nacionais – Banif, BES, BCP, BPI, CGD e Santander Totta - encerram 503 balcões. Estas instituições contabilizavam um total de 4287 agências em 2010, número que caiu para 3784 em Junho de 2013 (ver quadro).

O Santander Totta e o Millennium BCP foram os grupos nacionais que mais agências fecharam nos últimos quatro anos, ao encerrarem 202 espaços. A CGD encerrou 55 balcões, o número mais modesto do grupo.

Em 2014, o Santander Totta, o Millennium BCP e o Banif tencionam encerrar, no seu conjunto, mais 150 agências em Portugal. Entre eles, o Millennium BCP é de momento o que prevê fechar mais balcões, com a extinção de 70.

A redução de trabalhadores também impressiona pela negativa: os seis bancos nacionais reduziram 4 250 postos de trabalho, nos últimos quatro anos. Estimativas do sector apontavam para uma redução de 20% do universo de trabalhadores da banca, cerca de oito mil funcionários, no período compreendido entre 2011 (chegada da troika) e 2017 (fim do período de recapitalização da banca). A redução já realizada por este grupo de bancos mostra que mais de metade dessa meta já foi atingida.

Alguns destes cortes resultam de compromissos entre a Comissão Europeia e os bancos que recorreram à ajuda do Estado, entre os quais o banco público, o BPI, o BCP e o Banif. Com vista a reduzir custos, a Comissão aconselhou o corte no número de agências e de pessoal.

O Millennium BCP foi o banco onde mais postos de trabalho foram cortados entre 2011 e 2013, ao todo, 1562 funcionários abandonaram o banco.

A maior parte dos despedimentos tiveram lugar em 2012, atingindo os 1000 postos de trabalho suprimidos. A CGD terá ainda que proceder a mais cortes no pessoal, reduzindo cerca de mais 1000, de forma a cumprir o plano acordado com Bruxelas, e a reduzir o quadro a 7.500 trabalhadores até 2017.

Com um valor menor, mas mesmo assim considerável, surge o BPI, com 1.182 postos de trabalho reduzidos nos últimos três anos. Até ao final de 2015, o banco terá ainda que reduzir 274 funcionários, com vista a cumprir o plano que também acordou com Bruxelas.

O Santander Totta e o BES foram os bancos que sofreram descidas menos significativas no pessoal, sendo que, no espaço de três anos reduziram 246 e 213 trabalhadores respectivamente.

A dinâmica de encerramentos de agências não é exclusiva de Portugal. Também na Europa os cortes têm sido crescentes. No ano passado, de acordo com dados calculados pela agência Reuters, os maiores bancos da Europa procederam à venda ou ao encerramento de 5300 balcões.
 

   

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