Emigrantes lesados do BES voltaram a manifestar-se em Paris

Ânimos exaltados junto a agência do Novo Banco na capital francesa.

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Ricciardi diz que devem estar reunidas as condições para a venda do Novo Banco até ao Verão Enric Vives-Rubio

Os emigrantes lesados do BES voltaram a manifestar-se, neste sábado, em Paris, numa marcha que juntou 240 pessoas segundo a polícia, incluindo uma delegação de cerca de 30 emigrantes provenientes da Suíça.

A multidão concentrou-se às 11h locais na Avenue Georges Mandel, junto à agência do Novo Banco – onde os ânimos se exaltaram em frente à porta da instituição – tendo depois sido feita uma marcha de cerca de dois quilómetros até à Embaixada de Portugal, na Rue de Noisiel.

À chegada à embaixada, os emigrantes cantaram a "Grândola Vila Morena" e reclamaram o reembolso do seu dinheiro, enquanto uma delegação do Movimento dos Emigrantes Lesados do BES/Novo Banco (MEL) era recebida pelo cônsul-geral de Portugal em Paris, Paulo Pocinho, e pelo adido social do consulado, e Joaquim do Rosário.

Uma das pessoas que gritava as palavras de ordem era Sérgio Morgado que investiu 200 mil euros no BES e denuncia um "assalto aos emigrantes", deixando um apelo a Pedro Passos Coelho: "Senhor primeiro-ministro, resolva isto! Vocês estão-nos a roubar a todos os emigrantes!".

Já com a voz rouca no final da marcha, José Ferreira ostentava um tridente vermelho e um cartaz onde "diabolizava" Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, porque está "há 13 meses à espera das economias" e a sua esposa "está já com uma depressão", considerando que a solução proposta de "obrigações com maturidade em 2049 ou 2051" não tem em consideração a sua idade.

Por sua vez, Helena Batista, porta-voz MEL em França, explicou à Lusa que a principal palavra de ordem do protesto foi "retirem o dinheiro dos bancos portugueses", explicando que se trata de mais uma manifestação para reivindicar o que pertence aos emigrantes, "depois de 15 longos meses à espera com as poupanças congeladas".

Bruno Barbosa, representante do MEL Suíça, descreveu à Lusa que os emigrantes fizeram uma viagem de cerca de 600 quilómetros para participarem no protesto em Paris e mostrarem que "não vão desistir desta luta".

Nelson Santos veio de Lausanne, na Suíça, porque tem, com a esposa, cerca de meio milhão de euros bloqueados no Novo Banco e no próximo mês vai ficar desempregado porque a tipografia onde trabalha há 35 anos vai fechar: "É uma vida muito longa a trabalhar e todas as nossas economias estão no BES. As contas estão bloqueadas. Dos anos 70 até que veio o euro, a maior indústria que Portugal tinha era o dinheiro dos emigrantes."

"Queremos o nosso dinheiro" e "Retirem todo o dinheiro dos bancos portugueses" foram os principais slogans deste terceiro protesto na capital francesa, depois das manifestações de 27 de Junho e 30 de Maio em Paris e de várias acções ao longo do Verão em Portugal.

Quem também marchou com os emigrantes foi Hermano Sanches Ruivo, vereador socialista da Câmara de Paris, com nacionalidade portuguesa e francesa, que também marcou presença na manifestação de 27 de Junho e de 10 de Agosto em Lisboa.

"Estamos a falar de uma justa causa, de uma informação que não foi dada às pessoas que assinaram em toda a confiança. Estamos a falar de uma lei que não foi respeitada, nem a lei francesa nem a portuguesa", declarou Hermano Sanches Ruivo.

Cristina Semblano, cabeça de lista do BE pelo círculo da Europa para as legislativas, que também marcou presença na manifestação de 27 de Junho, voltou a participar no protesto porque "o Bloco de Esquerda tem sido solidário da luta dos lesados do BES desde a primeira hora".

"O facto de não haver uma solução para os lesados do BES é um problema político na medida em que são 720 milhões de euros que estão envolvidos. Ora o governo já concedeu três vezes mais de isenções fiscais ao Novo Banco. Os emigrantes foram ludibriados, burlados, estão a ser vítimas de assalto", declarou a economista que vive em França há 42 anos.

Os representantes do MEL aproveitaram a campanha eleitoral dos últimos dias, em Paris, para questionar os partidos sobre o que pensam fazer para resolver o caso dos emigrantes lesados do BES, tendo-se encontrado com os candidatos às legislativas pelo círculo eleitoral da Europa e também com os dirigentes do Bloco de Esquerda Catarina Martins, Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares.

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