Simplicidade Desarmante

Obra fulgurante - mas, enfim, é sempre mais ou menos nesses termos que se fala de cada novo filme de Pedro Costa -, "No Quarto da Vanda" inaugura uma espécie de movimento de descida do cinema português para se elevar acima de tudo. Por "descida", entenda-se não apenas a moderação de meios - o realizador dispensou equipa técnica e com uma pequena câmara digital filmou, sozinho, o Bairro das Fontainhas, a um ritmo diário, ao longo de dois anos -, mas a disponibilidade do cinema para deixar entrar a vida. Por isso se falou de "filme-limite". Não para dizer que ele desconvoca o cinema, mas antes acreditando que perante ele - perante a sua simplicidade desarmante - tudo o resto parece limitado. "Uma casa é a coisa mais séria da vida", escreveu Ruy Belo. Os rostos de "No Quarto da Vanda" não parecem repetir outra coisa.

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