Os receios de Zuckerberg antes do pesadelo da entrada em bolsa

Queixa de investidores em tribunal lança luz sobre as hesitações que os executivos do Facebook tiveram há cinco anos.

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Zuckerberg estaria preocupado com o fraco desempenho financeiro Reuters/STEPHEN LAM

Com o Facebook bem firme no lugar de rede social mais popular do mundo e transformado numa máquina de fazer dinheiro, está quase esquecido o quão mal correu a entrada em bolsa em 2012. Mas um processo em tribunal contra a multinacional vem agora recordar esse momento complicado na vida da empresa, e lançar alguma luz sobre as hesitações e receios de Mark Zuckerberg e dos outros executivos nas vésperas da operação.

“Tudo aqui está a correr mesmo mal. As nossas projecções de receitas caíram tanto que agora achamos que podemos entrar em bolsa a valer menos de 50 mil milhões de dólares se as coisas continuarem” – é este, segundo os advogados dos investidores queixosos, o texto de um SMS enviado por Zuckerberg à então namorada, e actual mulher, Priscilla Chan. O fundador e presidente executivo da rede social terá então dito a Chan que o caso seria decidido naquela noite. Mais tarde, após uma reunião com o director financeiro e a directora de operações, enviou-lhe uma mensagem a dizer que a entrada em bolsa avançava.

A situação foi descrita nesta quarta-feira num tribunal americano, noticiou o jornal Financial Times. Os queixosos são alguns dos investidores no Facebook que compraram capital da empresa pouco antes de esta fazer a muito aguardada entrada em bolsa. Como é habitual nestes casos, o Facebook vendeu acções a grandes investidores institucionais, que esperavam que a cotação subisse quando as acções se estreassem nos mercados – algo que demorou a acontecer. Os investidores acusam o Facebook de não ter divulgado correctamente os desafios colocados pela utilização de dispositivos móveis. A empresa diz que cumpriu a lei em toda a informação prestada.

Em vez do momento triunfal que muitos antecipavam, a entrada em bolsa tornou-se um pesadelo. Quando simbolicamente tocou o sino de abertura da sessão, Zuckerberg, visivelmente nervoso, optou por desvalorizar a ocasião: “A nossa missão não é ser uma empresa cotada. A nossa missão é tornar o mundo mais aberto e ligado”, afirmou na altura, perante uma plateia de funcionários.

Os problemas começaram depressa. Uma falha técnica nos sistemas da bolsa escolhida, o Nasdaq, levou a um atraso de meia hora no arranque das transacções. Em vez da subida fulgurante com que os investidores e a generalidade do público contavam, as acções apenas valorizaram cerca de quatro dólares nas negociações daquele primeiro dia, atingindo num dado momento os 42 dólares, e voltando a cair no final da sessão. Fecharam apenas alguns cêntimos acima dos 38 dólares a que tinham sido vendidas aos investidores que agora estão a recorrer à justiça. A partir daí, a cotação desceu e ficaria abaixo daquele preço durante mais de um ano.

Um dos problemas a afastar a procura foi o facto de, naquela altura, a empresa praticamente não ter receitas vindas de publicidade em telemóveis e tablets. Para o Facebook, porém, a operação teve um saldo muito positivo: tinha vendido pouco mais de 15% da empresa e encaixado 16 mil milhões de dólares.

Excepto para as partes em litígio, o antigo SMS de um Zuckerberg assustado serve para pouco mais do que uma linha na história da tecnologia. Em Agosto de 2013, a cotação superou finalmente o preço inicial e a subida tem sido constante desde então. Hoje, as acções valem cerca de 169 dólares.

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