Um exemplo para os seus pares

Calmo, exemplo de ponderação e bom senso, cabia-lhe ultrapassar clivagens. Resolver desavenças. Encontrar soluções.

José Manuel Paquete de Oliveira é, sem dúvida, um dos precursores do ensino e da investigação das Ciências da Comunicação em Portugal. Foi no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa que desenvolveu a sua actividade académica. Aí se doutorou, em 1989. Aí criou as disciplinas “Sociologia da Comunicação” e “Sociologia dos Media”, no âmbito da Licenciatura em Sociologia. Aí lançou e coordenou o Mestrado em “Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação”. Presidente do Conselho Directivo e, depois, Vice-presidente, Paquete de Oliveira era o ISCTE. E o ISCTE era Paquete de Oliveira. Calmo, exemplo de ponderação e bom senso, cabia-lhe ultrapassar clivagens. Resolver desavenças. Encontrar soluções para uma instituição que cresceu rapidamente e rapidamente se tornou uma referência no panorama universitário português.

Exemplo para os seus pares, Paquete de Oliveira foi presidente da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM) e da Federação Lusófona das Ciências da Comunicação (LUSOCOM). Foi, igualmente, presidente do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior (UBI).

Sempre disponível para participar em todas as iniciativas visando a consolidação de uma área científica, como a das Ciências da Comunicação, relativamente recente entre nós, Paquete de Oliveira recusou sistematicamente a ideia de uma Universidade fechada sobre si própria. Para ele a Universidade deveria estar em articulação permanente com o meio envolvente sem, no entanto, se sujeitar a este. Deveria, antes pelo contrário, apostar a fundo na inovação – entendida como condição indispensável ao progresso e a novas formas de relação.

Em 1997, o Sindicato dos Jornalistas dirigiu-se ao então ministro da Educação, no sentido de se encontrar uma via para aqueles jornalistas que, tendo interrompido os seus estudos, desejavam retomá-los e, assim, actualizar conhecimentos, aperfeiçoar um olhar crítico sobre as suas próprias rotinas profissionais. Nenhuma Universidade deu seguimento à pretensão expressa pelo Sindicato dos Jornalistas. Salvo o ISCTE que, pondo de lado qualquer laivo corporativista, se prontificou a criar um Curso de Pós-graduação em Jornalismo no qual se poderiam inscrever licenciados, em qualquer domínio científico, ou jornalistas titulares de uma carteira profissional há, pelo menos, cinco anos, e detentores de um Curriculum Vitae considerado relevante. Dizer ISCTE é uma sinédoque. Porque a decisão, essa, foi tomada por Paquete de Oliveira.

Muitos e brilhantes jornalistas completaram o referido Curso de Pós-graduação. Depois inscreveram-se no Mestrado, uns, em Doutoramento, outros. E obtiveram os respectivos graus académicos.

Alguns destes jornalistas fundaram, em Janeiro último, a Associação de Estudos Comunicação e Jornalismo. Primeira decisão tomada: a de nomearem Paquete de Oliveira o seu sócio número um. Era a homenagem devida a quem tudo deu para a valorização e a dignificação da profissão.

Professor aposentado do ISCTE-Instituto universitário de Lisboa

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