Ranking das Escolas 2020: 20 anos de rankings puseram a nu as desigualdades e o país foi incapaz de as combater

Júlio Pedrosa nunca foi a favor de rankings, mas foi o primeiro ministro da Educação a divulgar os resultados que permitiram aos media construí-los. Diz que sempre avisou: “Era preciso não ficar parado a olhar” para eles. Mas os “actores políticos e sociais” não fizeram a sua parte. Já David Justino foi o único ministro que tentou ter mesmo um ranking oficial. Diz que só com testes se podem identificar as doenças do sistema. Mas é preciso acompanhar mais as escolas, avaliar professores e as lideranças.

Júlio Pedrosa tinha tomado posse em Julho de 2001 como ministro da Educação do Governo liderado por António Guterres. Foi a ele que coube divulgar em Agosto, e pela primeira vez, os resultados de todos os alunos que tinham feito exames do 12.º ano nesse ano, o que permitiria, igualmente pela primeira vez em Portugal, a seriação de escolas com base nas médias dos seus estudantes. “Em 2001, eu dizia que era preciso não ficar parado a olhar para os rankings, que era preciso ver o que eles nos ensinavam. Na verdade, fico espantado que, tendo-se assistido, ano após ano, a isto, não se tenham tomado medidas. Não temos no país uma opinião pública informada que diga: ‘Façam alguma coisa para que isto seja alterado!’”

O que é “isto” a que se refere Pedrosa? Em 20 anos, os lugares cimeiros dos rankings foram sendo progressivamente ocupados pelas escolas privadas, e as escolas públicas foram ficando para trás. No top 50 de 2001 havia 21 privadas e 29 públicas; em 2005, a proporção era de 27 privadas para 23 públicas; em 2015 já chegava às 38 privadas para 12 públicas; em 2019 eram 44 privadas para seis públicas; em 2020, 47 para três.

Outra forma ainda de colocar a questão: há sete anos consecutivos que há apenas escolas privadas nos 20 primeiros lugares da lista. “Era previsível”, diz Júlio Pedrosa.

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As escolas com as médias mais altas em cada ano

“Se não existe um livro de que os alunos precisam [na biblioteca], no mesmo dia há uma empregada que vai comprá-lo”, contava um professor do Colégio Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, que liderava o primeiro ranking de escolas em 2001.

Entravam na lista do PÚBLICO 614 estabelecimentos de ensino onde se tinham realizado pelo menos 20 exames nacionais e foram contabilizados os resultados dos alunos internos nas oito disciplinas com mais inscritos, critério que veio a manter-se nos anos seguintes. No top das 50 das médias mais altas havia 29 públicas e 21 privadas.

Foi a única vez em que o Ministério da Educação promoveu um ranking de escolas, encomendando-o a uma equipa de investigadores. Os critérios usados foram muito criticados, nomeadamente o facto de não se distinguir alunos internos de autopropostos na hora de calcular as médias.

A edição do PÚBLICO de 7 de Outubro de 2002 apresentava assim dois rankings: o do ministério e o do PUBLICO, com critérios idênticos aos publicados um ano antes, para permitir comparações. É este último que aqui recordamos ao sublinhar as escolas que na altura mais se destacaram.

Até aqui, o ensino público tinha dominado o top 50. Mas em 2003 as melhores médias dividiam-se assim: 25 pertenciam a estabelecimentos do Estado, outras tantas ao particular e cooperativo.

O ranking deste ano ordenava as escolas independentemente do número das provas (o que aconteceu nos anos seguintes), assinalando-se, contudo, as que tinham poucas. O Colégio São João de Brito, em Lisboa, com 239 exames feitos nas disciplinas analisadas nesse ano, liderava.

Dá-se uma mudança: mais escolas privadas do que públicas na lista das 50 melhores médias. Das 608 analisadas no ranking de 2004, o Colégio de Nossa Senhora da Boavista, em Vila Real, foi a que teve melhor classificação nos exames mais concorridos.

“Escolas privadas, católicas e do litoral mantêm-se no topo da tabela das melhores médias nos exames”, era o título do texto que arrancava a edição especial dos rankings em 2005.

Ordenámos 587 escolas, independentemente do número de provas realizadas. E visitámos nesta edição dos rankings de 2006 a Escola Professor António da Natividade, em Mesão Frio, que teve a média mais fraca do país depois de em 2004 ter estado no lugar 206. O que se passara?

“É como as colheitas do vinho: umas são boas, outras são más. A de 2004 foi boa, a deste ano foi má”, explicava uma professora num contexto onde era evidente o “peso da interioridade”.

Nesta edição de 2007 o PÚBLICO ordenava da melhor para a pior média 602 escolas. “Uma em cada três não consegue média positiva”, noticiava-se no texto de arranque deste especial. No top das 50 melhores médias figuravam 26 privadas e 24 públicas.

Na lista das 20 melhores médias, apenas uma escola pública: a Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra, que ao longo dos sucessivos rankings foi mantendo um lugar de destaque.

No top 50, 33 privadas para 17 públicas. Com provas realizadas em 604 escolas, o PÚBLICO fez várias seriações. Recorda-se aqui a que ordenava as escolas independentemente do número de exames realizados.

O Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga levou apenas 14 alunos a exame e só a Português. E foi assim a única secundária pública a ter uma média global que lhe permitisse figurar entre as 20 melhores classificadas neste ranking de 2009 que ordenava 600 escolas.

A instabilidade nas escolas, a reforma antecipada dos professores com mais experiência, a avaliação do desempenho dos docentes, a burocracia em que se encontram mergulhados e a falta de expectativas dos alunos.

Estes eram os factores que, segundo vários professores ouvidos na edição de 2010, estariam na origem dos resultados mais fracos de algumas escolas públicas.  Mais autonomia para trabalhar era um dos pedidos mais ouvidos.

“As escolas públicas não resistiram a exames mais difíceis”, escrevia-se na edição dos rankings de 2011. No ensino básico e secundário nenhuma figurou entre os 20 primeiros lugares da tabela. E assim seria também no ano seguinte.

O PÚBLICO e a Universidade Católica calculam um valor esperado para cada escola. Tal foi possível porque o Ministério da Educação divulgou uma base de dados onde era possível perceber, por exemplo, quantos alunos recebiam apoio da Acção Social Escolar.

A simples média do exame podia ser assim enquadrada. No ranking de 2012 das médias sobressaia o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto. A escola que mais superava o esperado não estava no top 20: a Básica e Secundária Padre António de Andrade, em Oleiros.

Num ano em que a média dos exames baixou, Ernesto Paiva, o director da Escola Infanta Dona Maria, em Coimbra, desabafava: “As políticas nacionais de Educação tornam cada vez mais difícil a competição com os privados.” No top 20 das melhores médias em 2013, apenas nove escolas públicas resistiam.

Globalmente os resultados melhoraram em 2014. Mas os nomes a liderar as melhores classificações nem por isso. E em 621 escolas a que melhor se saiu voltou a ser o Colégio da Nossa Senhora do Rosário, no Porto

O PÚBLICO deixou de publicar vários rankings em função do número de provas feitas nas escolas e passou a ordenar apenas aquelas onde se realizavam pelo menos 50.

E havia boas notícias abrir a edição de 2015: os desempenhos dos alunos melhoraram em geral, no público e no privado, e mais de 80% das escolas conseguiram nota positiva nos exames nacionais do ensino secundário.

Estreia-se um novo indicador, criado pelo Ministério da Educação, para avaliar o desempenho das escolas secundárias. Chama-se “percursos directos do sucesso” e mostra para cada escola quantos alunos não reprovam nem no 10.º nem no 11.º e têm positiva nos principais exames do 12.º ano.

Na tabela das 20 melhores médias nos exames em 2016 continuaram a dominar os privados. Mas no novo “ranking alternativo” liderava uma pública, a Escola de Vila Cova, numa zona rural no Oeste do concelho de Barcelos, a meio caminho de Esposende.

Eram 593 escolas secundárias, todas com pelo menos 50 provas feitas. O Rosário, no Porto manteve-se inamovível no 1.º lugar, num top 20 dominado por outros colégios, sobretudo do Porto e de Lisboa. A primeira escola pública na lista de 2017 só aparecia em 32.º lugar e era uma estreia neste pelotão: a Escola Secundária Garcia de Orta, do Porto.

Os resultados médios melhoraram. As escolas públicas continuaram arredadas dos lugares cimeiros. Mas um dos destaques da edição especial dos rankings de 2018 vai para a Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim. Não só está entre as melhores médias do secundário (é a 42.ª), como também no básico e no profissional.

Os dados relativos a 2019 só são divulgados a meio de 2020, num ano marcado pela pandemia. Os primeiros 37 lugares da lista são todos ocupados por escolas privadas

Na ressaca das profundas mudanças provocadas pela covid-19, do ensino à distância e da constatação que foram os alunos mais vulneráveis os mais penalizados, o ensino público quase desaparece do top 50.

Neste que é mais um ranking das provas de ingresso ao ensino superior do que dos exames do secundário (porque em 2020 as provas nacionais não serviram para a conclusão do secundário) há uma novidade no top 20: o colégio Efanor, em Matosinhos, tem uma média de 18 valores. A Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim, tem a melhor média no ensino público.

Mas não é só isto que dá que pensar. Na lista dos piores resultados nos exames há escolas que não descolam, que nunca descolaram e que aparecem sempre no lado dos desempenhos mais fracos da tabela ordenada. Mesmo quando se tem em conta outros indicadores, como a percentagem dos alunos com Acção Social Escolar — que gradualmente o ministério começou a divulgar, para enquadrar os desempenhos escolares —, e se comparam escolas de contextos socioeconómicos semelhantes, há estabelecimentos de ensino que ficam sistematicamente aquém do esperado. 

Os rankings foram só mais uma peça para confirmar, todos os anos, o problema de desigualdade social que a escola (ou pelo menos muitas delas) reflecte e repete. “As escolas são muito diferentes umas das outras, os contextos socioeconómicos são um factor-chave nas aprendizagens”, o contexto familiar, as conversas que se têm em casa são centrais nos desempenhos escolares”, prossegue Pedrosa, e não temos tomado medidas para tratar desse factor crítico. “Não se dirigiu a escola pública para ter essa orientação” de reduzir as desigualdades, sintetiza o ex-governante e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação (2005-2009).

Escolas públicas e privadas no top 50 de cada ano

Quem falhou?

Nunca apreciou rankings. Na verdade, até 2001, os resultados escola a escola estavam reservados aos serviços do Ministério da Educação.

O PÚBLICO tinha sido um dos jornais que durante anos pediram que essa informação fosse divulgada. A Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) acabou por obrigar a tutela a fazê-lo. E Júlio Pedrosa fê-lo, mas não sem fazer acompanhar esses ficheiros enviados aos jornais de uma nota onde deixava claro que o ministério não iria promover nenhuma seriação, que deixaria isso para os media e que considerava que havia “riscos” na “publicitação simples e não contextualizada dos dados”.

“Os órgãos de comunicação social fizeram rankings, foram tentando melhorar esses rankings”, afirma o também ex-reitor da Universidade da Aveiro. “Quem não fez o que devia ter sido feito foram os actores políticos e sociais. Não asseguraram que a escola é um garante de que todas as crianças têm a possibilidade de chegar o mais longe possível. Estamos satisfeitos com isto? É a pergunta que deixo.”

O ex-ministro pró-rankings

O hoje vice-presidente do PSD David Justino foi o ministro que sucedeu a Pedrosa, em 2002, no Governo liderado por Durão Barroso. Enquanto deputado na oposição, sempre se batera pela divulgação dos resultados dos alunos. Como ministro, encomendou um ranking a investigadores da Universidade Nova de Lisboa que foi muito criticado pela metodologia usada. Não voltou a ser feito. E hoje acha que são os media que devem ter esse papel de divulgar de forma simples e acessível ao leitor comum os resultados, cabendo ao Governo fornecer a melhor informação possível.

Evolução das médias nos exames nos 20 rankings publicados até hoje

Em 2020, as provas do secundário não foram feitas por todos os alunos, mas apenas pelos que precisavam delas para se candidatar ao superior. Trata-se de uma medida excepcional, decretada pelo Governo, num ano que foi marcado pela pandemia de covid-19 e pelo ensino à distância. Por isso, qualquer comparação entre os resultados das escolas deste ano com os de anos anteriores deve ter presente que menos alunos fizeram provas e os que as fizeram foram aqueles que têm aspirações de prosseguir estudos. Mais: os próprios exames foram diferentes. Por isso, as médias nacionais dispararam. No sector público e no privado.

Mas é absolutamente a favor deste exercício. “Se eu for médico, não posso fazer a avaliação de um doente se não fizer radiografias, se não medir a temperatura, a tensão. Não pode ser a olho. Nas escolas é o mesmo. Preciso de resultados escola a escola, disciplina a disciplina. Tem de haver avaliação, classificação, comparação. O actual Governo acha que é mau classificar, por isso é contra os rankings, mas sem classificação não se definem nem metas, nem objectivos, nem se detectam problemas.”

Na sua opinião, esta divulgação pública anual de resultados, que nunca deixou de suscitar críticas, motivou muitas escolas, mesmo “as que não gostam de rankings”, e permitiu-lhes identificar problemas. Para além disso, permitiu corresponder “ao direito dos cidadãos de aceder a informação sobre as escolas”. Em democracia, diz, “não se esconde informação”.

Podemos sempre olhar para os rankings “com maldade”, ou como apenas um instrumento, declara. E é evidente que é preciso contextualizar. Não gosta da dicotomia público/privado, mas não é tudo igual. A escola pública está aberta a todos os alunos, está demonstrado o peso do contexto familiar nos resultados das crianças e, ao contrário dos colégios, a escola pública não pode contratar os directores e professores que entende, em função da estratégia que traça. Aliás, este é um dos problemas que valoriza.

“Há escolas com bons resultados nuns anos, depois mudam os professores e desaparecem [dos bons lugares dos rankings]. A escola pública depende do concurso nacional [de colocação de docentes] e sai o que sai, a não ser quando já tem um corpo docente de tal forma estabilizado [nos quadros] que não muda. Não há continuidade nas políticas e nas estruturas. Depois, a avaliação dos professores é insignificante”, e assim, diz, é difícil perceber quão qualificados são os profissionais em cada estabelecimento.

E o estigma? As escolas que apresentam sistematicamente maus resultados “continuarão estigmatizadas enquanto não se fizer nada por elas”, responde Justino a uma das críticas mais frequentes que são feitas aos rankings — a de que estigmatizam quem tem contextos desafiantes, sem valorizar o muito trabalho que se faz e que não se mede em notas.

Uma das propostas do também ex-presidente do Conselho Nacional de Educação (2013-2017) é que simplesmente se acabe com a medida dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) — que permite dar recursos extras a estabelecimentos de ensino em zonas mais carenciadas. É que, na sua opinião, o carimbo TEIP sim, estigmatiza. “As pessoas não querem lá ter os filhos e há professores que não querem lá dar aulas. Têm de aceitar os alunos que os outros não querem ou não aceitam por estarem cheios. Tem de haver medidas especiais para situações especiais, mas acabe-se com os TEIP e mantenham-se as medidas, elimine-se o rótulo, pense-se em mais medidas, monitorize-se a sua aplicação, acompanhe-se.” E, acrescenta, “avalie-se as lideranças”.

Muitas destas escolas, reconhece, fazem um esforço enorme para recuperar alunos. “Mas também há, nalguns casos, uma cultura de resignação. Corta-se o currículo, baixa-se a fasquia, e o esforço dos alunos é menor. Também reconheço que há um cansaço perfeitamente natural nalgumas destas escolas.” 

É preciso apoiá-las. 

Onde estão hoje as escolas de topo de 2001?

Manuela Violas ainda se lembra bem da data da publicação do primeiro ranking. Era 27 de Agosto de 2001 e os professores da Secundária Aurélia de Sousa, no Porto, foram “alegremente surpreendidos pela notícia”: a escola era a 3.ª classificada da lista do PÚBLICO. Era também a melhor representante da rede pública. A actual subdirectora do agrupamento era então vogal do conselho executivo. Nas semanas seguintes, recorda, “houve um acréscimo de procura de alunos, mas nós já tínhamos as turmas fechadas.”

O ranking de 2001 vs o ranking de 2019

Comparando o primeiro ranking publicado em 2001 com o de 2019, estas são escolas que melhoram muito a sua posição

Os bons resultados continuaram durante alguns anos. A Secundária Aurélia de Sousa manteve-se como a melhor escola pública no ano seguinte e, até 2010, andou sempre no top 10 da rede do Estado. Mas, a partir de então, piorou consideravelmente a sua prestação e a trajectória descendente acentuou-se nos últimos cinco anos. Estava na 81.ª posição em 2018 e 34 posições abaixo no ano passado. Este ano ocupa o lugar número 154 e é apenas a 93.ª entre as escolas públicas.

O que mudou nestas duas décadas? Mudou a cidade do Porto, dizem os responsáveis da escola. “Hoje, recebemos alunos de uma classe média-baixa”, contextualiza Manuela Violas. A escola continua num contexto favorável, segundo os critérios usados pelo PÚBLICO. Os dados divulgados pela tutela mostram que 21% dos alunos do 12.º ano são carenciados.

“Há 20 anos, não era assim”, prossegue a subdirectora. A área das Antas, servida pela escola, continua a ser uma zona residencial relativamente privilegiada, mas “está envelhecida” e quase já não há jovens em idade de frequentar o ensino secundário a viver ali. A nova geração que tem procurado a zona oriental da cidade ainda não tem filhos em idade de andar na escola. Por isso, muitos dos alunos da Aurélia de Sousa vêm de concelhos limítrofes como Valongo, Gondomar ou Paredes.

Se há escolas que pioraram bastante a sua prestação, também há as que escalaram a tabela ao longo de 20 anos. Numa análise comparativa dos rankings de 2001 e de 2019, destaca-se a Escola Secundária Tomaz Pelayo, em Santo Tirso. Em 2001, estava quase no fundo da tabela, na posição número 492. Em 2019 era a 65.ª – uma subida de 427 lugares –, o que significava também que era a 15.ª melhor entre as escolas públicas.

Foi a terceira vez em cinco anos que esta escola de Santo Tirso esteve entre as 20 melhores da rede pública. Olhando para os dados das duas décadas de rankings, é evidente a tendência de melhoria a partir de 2012, quando ainda ocupava a 489.ª posição. Um ano antes, a requalificação da escola, pela Parque Escolar, fora concluída. A “melhoria das infra-estruturas foi muito importante”, entende o director Fernando Almeida.

O ranking de 2001 vs o ranking de 2019

Comparando o primeiro ranking publicado em 2001 com o de 2019, estas são escolas que vêem piorar muito a sua posição

Esse investimento deu melhores condições ao ensino, com a criação de laboratórios modernos para as disciplinas práticas, por exemplo. E permitiu também mudar a imagem da escola junto da população da cidade. Até então, perseguiu-a o “estigma” de ter sido uma antiga escola industrial, segundo o director. “Continuamos a ter ensino profissional, mas nos últimos anos demos centralidade aos cursos científico-humanísticos”, procurados pela generalidade dos alunos que pretendem prosseguir estudos para o ensino superior. A escola é hoje procurada pela classe média-alta do concelho – está num contexto favorecido, de acordo com os critérios do PÚBLICO.

A população que procura um colégio é menos sujeita a variações como esta. “Habitualmente, temos muito bons alunos”, aponta o director do Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, que tem estado quase sempre nos primeiros lugares. A escola privada não faz qualquer selecção baseada nos resultados, garante. A única triagem é a que é provocada pela propina – no ensino secundário, a frequência desta escola privada custa 564 euros por mês – e o alinhamento das famílias com o projecto educativo do colégio, assente em valores cristãos.

Em 2001, era esta a escola que ocupava a primeira posição do ranking. Os seus resultados ao longo de duas décadas são bem mais estáveis do que a escola pública com quem dividia o pódio da primeira edição. O pior desempenho foi a 34.ª posição, logo à terceira edição. Depois disso, esteve sempre no top 20 – com excepção de 2008 (22.º) e 2018 (24.º). No ano passado, teve a sétima melhor média dos exames nacionais. Este ano é 17.º. “Temos resultados muito consolidados”, valoriza Paulo Campino, actual director do colégio, que era o coordenador do ensino secundário na altura em que foram divulgados os rankings pela primeira vez.

Os exemplos de fora

O ex-ministro Júlio Pedrosa está actualmente envolvido num estudo que tem a chancela da Gulbenkian sobre a avaliação das aprendizagens dos alunos. Com “uma pequena equipa” anda a estudar modelos de diferentes países. Sublinha também a importância das “lideranças, de haver uma orientação política, uma orientação estratégica, da formação de educadores e professores, da valorização da profissão docente, porque esta é uma condição essencial para termos boas escolas com bons resultados”.

Teme, aliás, que não seja possível substituir todos os professores que nos próximos anos se vão reformar em Portugal por gente “devidamente qualificada”.

Fala ainda do papel das câmaras municipais, da importância de terem “pessoa capazes nas suas diferentes componentes” para trabalhar com as escolas. Mas os rankings, diz, não têm nada que ver com isto.

A Finlândia é um dos países que Pedrosa e a equipa andam a estudar: “A orientação lá é: ter excelentes professores, começar muito cedo a trabalhar na promoção da criança como pessoa, as suas aprendizagens, o seu crescimento, sendo a avaliação das aprendizagens usada para perceber o que está a acontecer em cada momento com a criança, para ir corrigindo o caminho. Mas para fazer uma avaliação desta natureza, os professores precisam de formação”, nota. “E a formação dos professores está na agenda de todos estes países que estamos a estudar.” Os rankings, não.

Prossegue: “Hoje, na Finlândia, praticamente não há diferenças nos resultados entre escolas, nem se promovem rankings, nem comparações entre escolas. Claro que na Finlândia as condições socioeconómicas das famílias também são muito mais homogéneas do que em Portugal.” Mas a escola portuguesa tem obrigação de “corrigir” a enorme desigualdade social do país, sublinha.

Outro caso de estudo: no início dos anos 2000, “a Alemanha entrou em choque, na avaliação da OCDE, do PISA [o grande estudo sobre as competências dos alunos de 15 anos], constataram que estavam longe dos lugares de topo que esperavam e que a sua política de separar as crianças muito cedo, umas para cursos profissionais, outras para cursos gerais, resultara numa claríssima discriminação das crianças [com base na sua origem social]”. Resultado, refez-se o modelo, “envolveram os Lander e o Governo central”.

E outro ainda: a Noruega. Também “tiveram resultados abaixo do que esperavam no PISA”. Chamaram uma equipa da OCDE para estudar o problema, os peritos propuseram-lhes um plano que tem vindo a ser aplicado, devidamente acompanhado por esse olhar externo que às vezes é necessário. 

É isso que tem retirado do trabalho que está a preparar. Que para resolver um problema é preciso estudá-lo primeiro e não é com rankings. “Os governantes deviam seleccionar três casos, como estes. Alemanha, Noruega, Finlândia, onde estão decorrer mudanças que foram muito estudadas, muito cuidadas e que estão a ser introduzidas com tempo.”

As escolas com as médias mais baixas em cada ano

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020