PS diz que falhou consenso com PSD para aprovação da descentralização antes das autárquicas

Documentos vão ser discutidos na próxima sessão legislativa, que começa já depois das eleições de Outubro. Carlos César diz que já “não atribui grande importância” ao que diz Passos Coelho.

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Carlos César criticou o PSD Enric Vives-Rubio

Carlos César revelou esta quinta-feira que PS e PSD não chegaram a consenso para aprovarem o pacote de medidas de descentralização de competências para as autarquias locais nesta sessão legislativa, o que significa que a discussão desta reforma fica adiada para depois de Outubro. António Costa tinha pedido uma aprovação rápida até ao Verão do “grande objectivo da legislatura”, mas esta não vai acontecer, informou o líder do grupo parlamentar do PS.

Em declarações ao PÚBLICO e à Lusa, Carlos César diz que nesta altura era importante contar com o apoio do PSD em algumas reformas estruturais, como a reforma das florestas que, estima o PS, possa ser aprovada na sua totalidade até ao final deste mês, mas também a descentralização de competências. “Já não vai ser possível” aprovar até ao final da sessão legislativa, lamentou Carlos César. “Falo também da matéria da descentralização em relação à qual eu creio que nesta fase não me parecem reunidos os consensos necessários e suficientes para que haja uma aprovação nesta sessão legislativa”, disse Carlos César.

“Tratando-se de diplomas e de uma reforma muito relevante é importante prosseguir o diálogo nessas matérias, de modo a que pelo menos na próxima sessão legislativa essa reforma seja concluída e devidamente aprovada”, acrescentou.

Esta informação foi dada por Carlos César depois de lamentar a posição do PSD nos últimos tempos quando questiona o Governo sobre as cativações orçamentais. Em especial a declaração de Passos Coelho, que disse na quarta-feira à noite que lhe custa “ver altas figuras do Estado dizerem aldrabices”. “Se o líder do PSD acha que a conta do Estado é uma aldrabice, deve provar isso em sede do Parlamento”, defendeu Carlos César. “O Governo tem uma orientação orçamental transparente, tudo o que tem a ver com cativações consta dos relatórios. Tudo isso é transparente e visível”, disse para logo de seguida desferir uma dura crítica a Passos Coelho. “A única aldrabice é daqueles que falam nesses assuntos sem os estudar convenientemente. Mas nós não atribuímos grande importância, nesta fase, àquilo que a liderança do PSD diz, porque também não sabemos por quanto tempo essa liderança sobrevive”.

Foi no seguimento desta ideia que defendeu que são necessários acordos com os sociais-democratas em várias frentes nomeadamente na reforma das florestas e da descentralização de competências.

Sobre esta matéria, Luís Montenegro, que falava à saída da reunião da bancada parlamentar, apenas lamentou o chumbo do projecto-lei do partido que “até tinha sido elogiado pelo primeiro-ministro” e que previa a transferência de património devoluto para as autarquias.

O pacote de medidas de descentralização de competências para os municípios era uma das medidas-bandeira de António Costa que ainda nas últimas jornadas parlamentares do partido pressionou o PS a tratar do assunto até ao fim da sessão legislativa para que os novos eleitos locais já o fossem sabendo à partida quais as competências que terão depois da reforma. Nesse dia, no final do mês de Maio, Costa informou os deputados que tinha enviado para a Associação Nacional de Municípios 11 diplomas enquadradores da reforma e que estes estavam à espera da aprovação final no Parlamento. Agora, vai ter de esperar mais uns meses até que se cumpra aquilo a que chamou “o grande objectivo da legislatura”.

Comissão mantém trabalhos

Entretanto, o presidente da comissão parlamentar que aprecia a descentralização de competências para as autarquias disse à Lusa que os deputados vão trabalhar até ao fim da sessão legislativa, mas admitiu que ainda faltam estudos para concluir o processo.

“Em termos da comissão parlamentar o nosso plano de trabalho vai manter-se até ao final da sessão legislativa”, afirmou Pedro Soares, presidente da comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação.

O deputado do Bloco de Esquerda comentava assim a posição do líder parlamentar do PS, Carlos César. “Tratando-se de diplomas para uma reforma muito relevante, é importante prosseguir o diálogo nessas matérias de modo a que, pelo menos, na próxima sessão legislativa, essa reforma seja concluída e devidamente aprovada”, defendeu o deputado socialista.

Ainda assim, Pedro Soares admitiu que “há uma série de documentos que foram pedidos ao Governo que ainda não chegaram, nomeadamente de estudos que fundamentam alguns dos decretos-lei que o Governo está a preparar, e tem havido da parte dos vários grupos parlamentares a ideia de que sem o esboço da alteração à Lei das Finanças Locais não deverá haver aprovação da lei-quadro”. Com Lusa

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