O que eu diria no congresso… sobre Pacheco Pereira

Tanto o velho como o novo Pacheco têm lugar no PSD, a versão socialista é que não.

O último congresso do PSD teve o condão de voltar a mostrar ao país que o PSD é um partido diferente, com 40 anos de história, cheio de estórias e peripécias, de dirigentes e militantes notáveis que vão desde a esquerda social aos liberais e reformistas, e na sua maioria encontramos verdadeiros sociais-democratas. Arrisco-me a dizer que o meu partido está para a política como o Benfica para o futebol, pois é o mais interclassista da democracia portuguesa, o mais representativo das diversas classes sociais existentes no nosso país. O melhor espelho do país.

O Coliseu reuniu o melhor do PSD, entre o humor e as lágrimas, a convicção e a retórica, a divergência e o consenso, este congresso reuniu à “mesa” os melhores ingredientes de que é feito o ADN do PSD. Quando alguns se preparavam para lhes marcar falta, os notáveis mais mediáticos, como os notáveis militantes mais desconhecidos, disseram presente.

A Social-Democracia e a Liberdade voltaram a estar em debate numa reunião magna do PSD. E a social-democracia não é apenas a cristalização do Estado social, mas sim a defesa da sua qualidade e sobretudo da sua sustentabilidade. Temos hoje um PSD que procura a justiça social tratando diferente quem é diferente, por mais que isso irrite toda a esquerda, que ainda acha que as pessoas são todas iguais.

Um verdadeiro social-democrata tem a coragem de assumir que há um problema demográfico, não só em Portugal mas em toda a Europa, e assume por isso a missão de ajustar  o Estado social à realidade do país e à sua demografia. Ao contrário do que alguns falsos sociais-democratas pensam, o Estado social não é o Estado total, não é o Estado sem fundo, não pode ser o Estado irresponsável. É o Estado social que chega a todos os que precisam, não a todos o que querem. Se assim fosse, mais dia, menos dia, não havia Estado social nem para quem não precisa e muito menos para quem mais precisa. Não há Estado social se ele não for sustentável, e se não o soubermos reformar. Deixar tudo na mesma e apenas gastar como estamos habituados não é a nossa matriz identitária. É essa a diferença entre ser socialista e ser social-democrata em Portugal.

E chegamos, assim, a Pacheco Pereira. Pacheco Pereira não é social-democrata, é mesmo socialista ou “está socialista”. Vale a pena recordar que já foi um grande liberal, dizia até que “o Estado mínimo não era necessariamente mais fraco” e que era muito importante para “garantir o Estado social”. Hoje é socialista de oportunidade, apenas por razões estratégicas e não por convicção ou por questões ideológicas, o que me desilude sobremaneira. Tornou-se socialista apenas porque discorda da liderança de Passos Coelho, a qual eu também não apoiei, mas a qual acabei por admirar. Mas se Pacheco Pereira quiser continuar a ser social-democrata tem espaço no PSD, porque felizmente neste partido há muita gente que pensa como pensava Pacheco, há liberais, mas também há muitos sociais-democratas. Ou seja, tanto o velho como o novo Pacheco têm lugar no PSD, a versão socialista é que não.

Mas neste congresso o PSD também discutiu a sua própria liberdade. Felizmente aqui ainda há debate livre, ninguém é expulso por delito de opinião como em outros partidos. Somos livres de aderir como também somos livres de sair pelo próprio pé. A força do PSD reside na sua própria liberdade e sobretudo as suas diferenças. Neste congresso falaram diversos militantes que saíram e voltaram ao partido, como Rui Machete ou Santana Lopes, Marcelo ou Nuno Morais Sarmento, que fizeram parte da Nova Esperança. Em determinado momento entraram em divergência e, ou saíram ou quase saíram pelo seu próprio pé porque discordavam do rumo do PSD de então. Felizmente este congresso não perdeu muito tempo com aqueles que fazem questão de se notar pela ausência ou pela discordância permanente ou útil. Não comparemos gente que tanto já deu ao partido e por vezes, ou por temporadas mais ou menos curtas, discorda do rumo ou da liderança, com outras personalidades que por períodos mais ou menos curtos concorda. Ou seja, raramente estiveram de acordo com o partido nos últimos 20 anos e continuam militantes, porque lhes é útil para a sua profissão ou para a sua posição. São essas pessoas, de tão inteligentes e perspicazes que são, que deveriam sair de um partido no qual não se reveem.

Um partido não é um beco sem saída nem a militância partidária uma sentença para toda a vida.

Deputado do PSD

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