Há apeadeiros e estações, mas não há comboio. Vamos de autocarro da Lousã a Coimbra

Deputados do PCP fizeram o percurso de autocarro entre a Lousã e Coimbra, cujo ramal ferroviário foi encerrado há sete anos e querem ver o que o Governo vai fazer com a recomendação do Parlamento para que reponha o comboio.

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Ramal foi encerrado em 2009, a pretexto de precisar de obras para receber o metro pr PAULO RICCA
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Ramal foi encerrado em 2009, a pretexto de precisar de obras para receber o metro pr PAULO RICCA
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Ramal foi encerrado em 2009, a pretexto de precisar de obras para receber o metro pr PAULO RICCA

Em vez de um “tirinho” de meia hora de comboio pelo Ramal da Lousã, quem apanha o autocarro que pára em todas as “estações e apeadeiros” demora agora cerca de uma hora e dez minutos desde a Lousã até à Baixa de Coimbra, 21 paragens depois. Por estradas sinuosas, serra da Lousã abaixo, o autocarro vai recolhendo novos e menos novos, os que vão trabalhar ou estudar para Coimbra, quem vai ao médico ou às compras. Ou quem se fica por Miranda do Corvo.

Aos 17 anos, Tiago Carvalho, estudante do 11.º ano, em programação de computadores na secundária Avelar Brotero, em Coimbra, é de Serpins, chegou a estudar na Lousã, mas agora tem que ir até ao outro extremo da linha. Por dia são mais de três horas no autocarro que substituiu o comboio – tem dias em que sai de casa às 6h15 e só entra 14 horas depois. “Às vezes chego atrasado à escola, o autocarro avaria muito ou há muito trânsito, tenho que ir sempre pedir a justificação”, suspira Tiago. Em Miranda do Corvo costuma entrar muita gente, e é costume irem pessoas em pé nos primeiros autocarros da manhã, conta.

Maria Costa, sentada a seu lado, junta-se às queixas: “Estavamos muito bem servidos e ‘botaram-nos’ mal. Pensavam que o Metro era um luxo. Até as antigas automotoras que cá andavam eram melhores, porque estes [autocarros], volta não volta, estão avariados.” O seu caminho é curto – vai da Lousã a Padrão, uns meros cinco quilómetros desconfortáveis e caros, de camioneta, que faz duas ou três vezes por semana.

Desde que o Governo de José Sócrates encerrou o Ramal da Lousã, há sete anos, alegadamente para o electrificar, que as populações não se têm calado. A alternativa do autocarro foi um remendo provisório, mas ameaça tornar-se permanente.

O caso já foi discutido no Parlamento várias vezes, a última das quais em Fevereiro, quando foram aprovados três projectos de resolução (PCP, PEV e BE) a favor da reposição do serviço ferroviário no Ramal da Lousã, que foram publicados na passada semana em Diário da República. O PS votou contra, tal como fizera com um diploma igual do PCP aprovado há um ano. Consequente, o Governo também nada fez desde então.

Mas os comunistas dizem agora esperar para ver o que vai fazer, e quando, o ministro do Planeamento e Obras Públicas para “cumprir e concretizar” a recomendação do Parlamento, para que se faça a “reposição, modernização e electrificação do Ramal da Lousã”. Porque, defendeu o líder parlamentar comunista, João Oliveira, a ferrovia convencional é uma “alavanca do desenvolvimento regional e nacional”.

Um grupo de deputados do PCP visitou esta manhã a pequena plataforma da estação da Lousã, onde já não há carris e os tradicionais azulejos estão agora tapados com alcatifa vermelha, e fez o percurso de autocarro até Coimbra, no âmbito das jornadas parlamentares que esta tarde terminam naquele distrito.

Na Lousã encontraram-se com os representantes do movimento de defesa do ramal e ouviram as queixas já conhecidas. Há pessoas que deixaram de ir ao médico por falta de dinheiro, há quem tenha trocado a Lousã por Coimbra por falta de transporte mais rápido, a madeira da serra, depois dos incêndios segue agora – quando segue - por camião. Apesar das contrariedades, os activistas ainda conseguem manter o humor. Fazem jantares para assinalar a retirada dos carris, a 2 de Dezembro de 2009 – apenas um ano depois de Ana Paula Vitorino ter inaugurado as obras da mesma estação – e o aniversário do comboio (16 de Dezembro de 1906). Até já usaram uma estátua viva de Penélope. “Demorou e foi difícil, mas, tal como Ulisses chegou a Ítaca, também nós esperamos que o comboio chegue à Lousã”, contou Maria Celeste Garção Nunes, uma das activistas.

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