Guarda em greve de fome no Porto desistiu do protesto por razões de saúde

Por “aconselhamento médico”, cancelou a greve de fome depois de 17 dias a pernoitar numa pequena tenda, na Praça do General Humberto Delgado. Na quinta-feira tinha sido levado ao hospital.

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Militar da GNR estava em greve de fome desde 6 de Fevereiro Adriano Miranda
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O sargento da GNR que a 6 de Fevereiro iniciou uma greve de fome em frente à Câmara do Porto disse esta sexta-feira à Lusa que foi obrigado a desistir do protesto devido ao seu estado de saúde. Josias Alves contou que por “aconselhamento médico” cancelou a greve de fome e deixou de dormir ao relento, depois de 17 dias a pernoitar numa pequena tenda, na Praça do General Humberto Delgado.

“Portanto, está terminada esta minha luta. Vou agora recuperar”, afirmou Josias Alves, referindo ainda não ter decidido se avançará com outras acções de protesto. O sargento da GNR sentiu-se mal e foi transportado na quinta-feira à tarde para a urgência do Hospital de Santo António, no Porto, mas já teve alta.

Josias Alves acampou na Praça do General Humberto Delgado a 6 de Fevereiro e iniciou uma greve de fome com o objectivo de “não só conseguir ordenados correspondentes à condição socioprofissional”, mas também protestar contra “as pressões e perseguições” de que alegadamente tem sido vítima.

Desde então e até quinta-feira, o militar só ingeriu líquidos e, na terça-feira, declarou à Lusa que já tinha perdido 14 quilos desde o início do protesto. Ao início da tarde de quinta-feira, o militar disse a um polícia municipal que lhe prestava solidariedade que não se estava a sentir bem.

“Ele disse que se estava a sentir mal e a fraquejar. Queixou-se de que não sentia as pernas, que estava fraco e eu apercebi-me de que o discurso dele não estava a fazer sentido. Mesmo contra a vontade dele, chamei o INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica]”, disse à Lusa o referido agente, que preferiu não ser identificado. Enquanto o INEM não chegava, o militar recebeu ajuda de um médico que estava a passar e se apercebeu de que havia algum problema.

A ambulância do INEM acabou por atrair a atenção de alguns turistas que passavam no local, que perguntavam a razão de estar uma tenda coberta de plásticos pretos na praça. “Esteve ali um camarada militar a lutar por todos. Honra lhe seja feita”, respondeu um militar da GNR que disse que ia todos os dias prestar “solidariedade e honra” ao “camarada em luta”.

O militar em protesto, pai de um adolescente de 14 anos, considerou estar a dar “um exemplo de que deve lutar por aquilo em que acredita” e durante os mais de 15 dias de greve de fome consumiu “apenas sumos naturais, água das Pedras Salgadas, que tem forte concentração de cálcio e de sódio, para manter o cérebro a funcionar, e bebida de amêndoa, para a concentração de proteínas e de lípidos”.

Questionado na terça-feira pela Lusa, Josias Alves considerou ser “possível obter as respostas desejadas [pelo seu protesto], se houver vontade e determinação política”. “Estão a esquecer-se de que também somos votantes e de que, se tivermos em conta não só aqueles que estão no efectivo, mas também os que estão na reserva, na reforma e na pré-reforma e se considerarmos as famílias, podemos ser 500 mil. Ora, isto faz pender a balança eleitoral. Se calhar, era boa ideia dizerem, claramente, quais são os planos para estes profissionais”, referiu.

Actualmente colocado no Pelotão de Apoio de Serviços, Josias Alves, de 44 anos de idade, do Marco de Canaveses, pretendia, com a seu protesto, “alertar” a sociedade civil para o “desespero” dos profissionais da GNR, da PSP e da Guarda Prisional.

O sargento chegou a comandar o Posto Territorial da GNR de Aveiro, Cacia, Vila Meã e Alpendurada e Matos e a ser coordenador da Protecção Civil do Marco de Canaveses.

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