Russos em Espanha temem pela vida após assassínio de piloto que desertou para a Ucrânia

O piloto russo Maxim Kuzminov foi morto a tiro numa cidade costeira no Sudeste de Espanha. Moscovo diz que o desertor era um “cadáver moral”.

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Polícia espanhola investiga a garagem onde o piloto russo foi encontrado morto a tiro Reuters/Rafa Arjones/Informacion.es
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Os cidadãos russos críticos do Kremlin que vivem em Espanha apelaram às autoridades espanholas por protecção reforçada, depois de um piloto russo que desertou para a Ucrânia ter sido encontrado morto a tiro numa garagem numa cidade da costa mediterrânica espanhola.

O serviço de informações militares ucraniano GUR confirmou que o piloto Maxim Kuzminov, que voou para a Ucrânia com o seu helicóptero Mi-8 em Agosto passado, morreu em Espanha.

Uma fonte judicial espanhola disse à Reuters que a polícia estava convencida de que Kuzminov era a verdadeira identidade de um homem encontrado há uma semana crivado de balas numa garagem subterrânea na cidade de Villajoyosa, no Sudeste de Espanha, com um passaporte ucraniano com um nome suspeito de ser falso.

Nos primeiros comentários de Moscovo sobre o caso desde que surgiram as notícias do assassínio, o chefe do Serviço de Informações Exteriores da Rússia (SVR) afirmou que o piloto tinha traído o seu país.

“Este traidor e criminoso tornou-se um cadáver moral no preciso momento em que planeou o seu crime sujo e terrível”, declarou Sergei Naryshkin, segundo a agência TASS.

Yulia Taran, vice-líder de um grupo chamado Russos Livres em Espanha, disse que a sua organização tinha ajudado outros desertores russos nos últimos dois anos e que era prática comum assumirem identidades falsas “para não serem encontrados pelos agentes do Presidente Vladimir Putin”.

“Estão muito preocupados e esperemos que a polícia e os serviços secretos espanhóis façam bem o seu trabalho para evitar” que sejam perseguidos, acrescentou.

As bandeiras ucranianas podem ser vistas em muitas varandas de Villajoyosa, uma pacata cidade residencial perto da estância turística de Benidorm. Os refugiados ucranianos constituem uma parte significativa da população da localidade, juntamente com emigrantes russos e búlgaros. A polícia local diz que há anos que não se registava um homicídio em Villajoyosa.

Os andares superiores do edifício residencial onde Kuzminov foi morto oferecem uma vista desimpedida da popular praia da cidade. Cerca de 70% dos residentes do edifício são originários da Europa de Leste, disse o administrador do imóvel à Reuters. Vários residentes afirmaram que se trata de uma zona muito calma e que nunca esperavam que algo deste género acontecesse ali.

Segundo o jornal ucraniano Ukrainska Pravda, o chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, teria aconselhado Kuzminov a ficar na Ucrânia, onde “seria protegido”.

A porta-voz do Governo espanhol, Pilar Alegria, afirmou que a Guardia Civil está a conduzir uma investigação de homicídio em Villajoyosa, mas não quis entrar em pormenores.

A fonte judicial citada pela Reuters disse que a polícia tinha considerado como falso o passaporte da vítima, que o identificava como um cidadão ucraniano de 33 anos. Uma identificação oficial pode demorar algum tempo, pois depende das impressões digitais e de outras informações provenientes do estrangeiro.

A deserção de Kuzminov para a Ucrânia foi apresentada no ano passado como uma grande vitória para Kiev. Numa conferência de imprensa na capital ucraniana, Kuzminov afirmou não compreender por que razão a sua “amada pátria” entraria numa guerra com a Ucrânia.

Outros membros da tripulação do helicóptero morreram durante a deserção de Kuzminov. Moscovo afirmou que foi o próprio piloto que os matou, mas este contrapôs que eles entraram em pânico e fugiram, podendo ter sido mortos posteriormente.

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