A 12 de Janeiro deste ano, Brittany Pietsch filmou a reunião virtual que teve com dois representantes da empresa onde trabalhava há quatro meses. Não conhecia as pessoas nem o teor da conversa e, por isso, pensou que o despedimento estava para breve. Foi o que aconteceu nove minutos depois.
No vídeo, que conta com dois milhões de visualizações, Britanny recorda as horas de trabalho que dedicou à empresa de tecnologia Cloudflare e confronta a chefia sobre a decisão repentina de despedirem os trabalhadores. A publicação levou outras pessoas a denunciarem os seus despedimentos — que dizem ter recebido sem aviso prévio — nas redes sociais.
Joni Bonnemort foi demitida em Abril de 2023, muito antes de Britanny, e também publicou a conversa que teve com os superiores no TikTok. “Tenho a certeza que vou ser demitida hoje”, diz nos primeiros segundos do vídeo. Durante a reunião, o director do departamento de marketing fala sobre medidas drásticas que a empresa foi forçada a tomar e que incluem o despedimento de outros dois funcionários que estavam na mesma reunião virtual de Joni.
“Desemprego, aqui vou eu. Por enquanto”, lê-se na legenda.
Por enquanto, a hashtag #layoffs (demissões, em tradução livre) conta com 18 mil vídeos e com 366 milhões de visualizações. Alguns mostram, tal como o de Britanny, as reuniões com a chefia, outros o número de horas que faltam até serem demitidos ou o dia-a-dia de um desempregado que tenta aceitar a ideia de não ter trabalho.
Muitos trabalhavam em empresas de tecnologia, incluindo a Google, a Amazon ou o TikTok, que despediram centenas de trabalhadores desde o início de Janeiro de 2024. Para alguns lesados, partilhar o momento do despedimento ajuda a processar as emoções. Para outros, é uma forma de denunciar a forma como a rescisão foi feita e captar a atenção de novos empregadores.
No caso de Britanny, a empresa convocou reuniões de 15 minutos com vários funcionários no mesmo dia em que foi despedida. Quando a jovem perguntou o motivo da sua demissão, a representante da empresa disse que não podia revelar naquele momento. “Nesse caso, estou a ser despedida sem motivo aparente?”, questionou.
O director executivo da Cloudflare respondeu horas depois no X (antigo Twitter), após vários comentários a condenar a conduta da empresa para com a ex-funcionária. Matthew Prince revelou que a tecnológica despediu 40 de 1500 funcionários do departamento de vendas, procedimento que disse ser normal a cada três meses se o trabalhador “não for bem-sucedido”. No entanto, admitiu que foi “doloroso” ver o vídeo do despedimento de Britanny.
“Nenhum trabalhador deve ficar surpreendido por não estar a ter um bom desempenho. Nem sempre acertamos e, por vezes, os trabalhadores com um desempenho mais fraco não ouvem o feedback que receberam antes de os despedirmos. O facto de despedirmos uma pessoa não significa que ela seja má funcionária e também não significa que não será muito boa noutro sítio”, escreveu dia 12 de Janeiro.
“Qualquer organização saudável tem de afastar as pessoas que não estão a ter sucesso", disse. A seguir, acrescentou: "Não foi esse o erro neste caso. O erro foi não termos sido mais gentis e humanos e estamos concentrados em melhorar isso daqui para a frente”.
E, para algumas pessoas, partilhar o despedimento online até resultou bem. É o caso de Mickella Simone Miller (jewishmillennial, no Tiktok), que trabalhava como gestora de projectos numa empresa dos EUA, e que disse ao The New York Times que recebeu 30 convites de candidatura de emprego depois de ter publicado este mês o momento em que foi despedida.
“Isto sou eu, cinco horas antes de achar que vou ser despedida”, começa por dizer no vídeo.
Teletrabalho incentiva publicação dos vídeos?
Joni Bonnemort disse que filmou o despedimento para partilhar apenas com a família, mas quando descobriu que a empresa tinha oferecido um prémio salarial aos funcionários uma semana depois de ter despedido outros tantos, publicou o vídeo no Tiktok. Para Britanny, a conversa também ficaria privada, mas mais tarde decidiu partilhá-la.
Segundo especialistas ouvidos pelo mesmo jornal, o teletrabalho incentiva as pessoas a exporem as demissões, em parte porque não há separação entre o espaço pessoal e profissional e houve uma mudança na interacção entre os funcionários e chefias.
“A fronteira entre o pessoal e o profissional foi quebrada”, realçou a economista da Universidade de Harvard, Sandra Sucher.
A par disto, o facto de a empresa decidir demitir o trabalhador por videochamada também funciona como incentivo.
Para quem partilha nas redes sociais conteúdos sobre o dia-a-dia, os despedimentos fazem parte do quotidiano e aqui encontram mais uma razão para os mostrarem. Também é pouco provável que os vídeos prejudiquem a procura de um novo emprego.