Comandante das forças ucranianas critica política de recrutamento

O general Zaluzhny quer mudanças que permitam recrutar mais soldados para o esforço de guerra após queda no número de voluntários para combater a Rússia.

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Valery Zaluzhny, comandante das Forças Armadas ucranianas EPA/OLEG PETRASYUK

O comandante das Forças Armadas ucranianas expressou esta terça-feira a sua frustração com o desempenho dos serviços de recrutamento militar, sugerindo que deveriam mobilizar mais tropa para a guerra contra a Rússia.

O general Valery Zaluzhny (Zalujny, na transliteração portuguesa) falou na sua primeira conferência de imprensa em tempo de guerra, um dia depois de o Parlamento ucraniano ter publicado o texto de um projecto de lei que contém reformas ao programa de recrutamento do exército, incluindo a redução da idade dos homens que podem ser mobilizados para 25 anos, em vez de 27.

A publicação do projecto de lei gerou controvérsia nas redes sociais, o que pareceu levar o general, tipicamente tímido em termos de publicidade, a fazer um raro esforço para falar com a imprensa.

“Actualmente, não estou satisfeito com o trabalho dos gabinetes de recrutamento”, afirmou. "Se eu estivesse satisfeito com o trabalho deles, não estaríamos aqui a discutir este projecto de lei”, acrescentou.

A Ucrânia viu dezenas de milhares de homens voluntariarem-se para combater nos primeiros meses da invasão russa, mas esse entusiasmo diminuiu 22 meses após o início da guerra.

Zaluzhny também respondeu a uma série de outras perguntas sobre o estado da guerra. Em resposta a uma delas, admitiu que a tropa ucraniana tinha retirado para os arredores de Maryinka, uma cidade disputada durante meses e que o general disse agora que “já não existe” devido à destruição que lhe foi infligida.

Em resposta a outra pergunta, adiantou que a guerra em 2024 será diferente da de 2023, citando a vasta gama de tecnologias em constante inovação no campo de batalha.

Reformas polémicas

As reformas são muito sensíveis para uma população cansada, no meio de uma guerra que dura há quase dois anos e que não tem fim à vista. Na semana passada, o Presidente Volodymyr Zelensky afirmou que os militares tinham proposto a mobilização de 450 mil a 500 mil pessoas para o exército.

Zaluzhny reconheceu esse número, embora tenha afirmado que não provinha das Forças Armadas, adiantando que representava um plano global e que seria preenchido gradualmente.

O comandante ucraniano disse aos jornalistas em Kiev que nunca teria revelado esse número publicamente, uma observação que pode renovar a especulação pública sobre a fricção política entre ele e o Presidente ucraniano. “Eu não discutiria publicamente estes números”, afirmou.

Zaluzhny supervisionou a contra-ofensiva de 2023, que não conseguiu retomar quantidades significativas de território ocupado pela Rússia.

No entanto, o general continua a ser extremamente popular entre muitos ucranianos, depois de ter afastado as forças russas da capital no início de 2022 e de ter sido o mentor de duas contra-ofensivas bem-sucedidas no Outono, que retomaram grandes quantidades de território.

"Tínhamos objectivos bastante ambiciosos para 2023. Não fiquei desiludido com o nível de ajuda externa em 2023. Claro que não foi a totalidade do que solicitámos, mas permitiu-nos conduzir operações militares confiantes”, afirmou.

As tensões entre Zaluzhny e Zelensky surgiram em Novembro, depois de o general ter dito, numa entrevista à revista The Economist, que a guerra estava a caminhar para um impasse devido à situação tecnológica no campo de batalha, um comentário que suscitou uma repreensão do gabinete do Presidente.

Zelensky e os seus aliados têm apresentado, sistematicamente, uma visão menos sombria da guerra, afirmando que a Ucrânia pode e vai expulsar as forças russas de cada centímetro do território ocupado.

Zaluzhny afirmou que o período que decorreu desde a sua entrevista justificou as suas palavras. “Recebi muitas críticas por causa disto, mas com o tempo as pessoas aperceberam-se de que eu tinha toda a razão”, disse, referindo que a Ucrânia e os seus aliados já tinham identificado soluções para a maioria das questões e problemas que levantou.

No que se refere ao esforço de recrutamento, afirmou que apoiaria a introdução de convocatórias electrónicas para o exército, uma medida que substituiria ou reforçaria o modelo actual em que os oficiais de recrutamento distribuem documentos de convocação às pessoas na rua ou nos pontos de controlo.

“Estamos dispostos a utilizar todos os meios que garantam a nossa procura de pessoas”, afirmou.

Estação de Kherson atingida

As forças russas bombardearam esta terça-feira a estação ferroviária da cidade de Kherson, no sul do país, matando um polícia e ferindo quatro pessoas, informou o ministro do Interior da Ucrânia, Ihor Klymenko.

Klymenko afirmou que cerca de 140 civis se encontravam na estação e que a polícia afastou imediatamente as pessoas do local.

“Graças às acções claras da polícia, todos foram levados com sucesso para locais seguros”, disse o ministro na plataforma Telegram. “Infelizmente, um tenente da polícia da região de Kirovohrad perdeu a vida devido ao bombardeamento. ... Mais dois agentes da polícia estão no hospital com ferimentos de estilhaços”.

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