BE diz que “não há AD” mas um “projeto de direita” entre Passos Coelho, PSD e Chega

Declarações de Mariana Mortágua durante visita à redacção do JN e do Jogo, onde defendeu que a PGR devia investigar a compra do GMG por se tratar de “um caso de polícia”.

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Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda LUSA/FILIPE AMORIM

A coordenadora do Bloco de Esquerda considerou esta sexta-feira que "não há Aliança Democrática (AD) nenhuma" mas sim "um projecto de direita" que junta Pedro Passos Coelho, o PSD e o Chega que será "derrotado nas próximas eleições". "Fala-se muito de uma nova AD, com toda a franqueza não há AD nenhuma, há um projecto que já foi assumido por Passos Coelho de uma aliança entre o PSD e o Chega, foi isso que fizeram nos Açores, esse é projecto e o propósito da direita", afirmou Mariana Mortágua quando questionada sobre o anúncio da coligação pré-eleitoral entre o PSD e o CDS-PP.

No Porto para uma visita à redacção do Jornal de Noticias e do Jogo, a líder bloquista comentou também os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) que indicam um excedente de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros nove meses do ano, salientando que aquele excedente tem "como reverso a falta de investimento" em áreas como a Saúde e a Educação. "O país conhece o que fez esse projecto de direita, essa grande família que junta Pedro Passos Coelho, Luis Montenegro, André Ventura, todos vieram do mesmo partido, têm o mesmo projecto para o país, foram derrotados a seguir à troika pelo mal que fizeram ao país, e serão derrotados nas próximas eleições", disse.

Segundo Mariana Mortágua, "a direita é um regresso o passado, a direita foi derrotada no passado e o que é preciso é encontrar condições para que o país possa vislumbrar um futuro e vislumbrar um futuro é fazer coisas que ainda não foram feitas". "O papel da esquerda, uma vez que a direita não terá maioria, é o de encontrar soluções para este país e encontrar soluções para os problemas que importam. Importa a habitação, importa a saúde, importa os salários e importa também a liberdade da comunicação social", considerou.

Confrontada com o excedente orçamental, a líder bloquista deixou críticas ao PS na resposta: "Isto significa que ao longo do tempo esta maioria absoluta do PS foi tomando algumas decisões, algumas delas já vinham antes disso, e foi privilegiando a ideia de ter metas orçamentais que vão sempre para lá do que tinha sido o objectivo, para mostrar a Bruxelas, enfim, objectivos que não são investimentos nos serviços públicos", afirmou.

No entanto, segundo Mariana Mortágua, aqueles números, apresentados como "uma grande vitória", tem "um reverso e esse reverso são as urgências que estão fechadas, são as aulas que os alunos não conseguem ter porque não há professores suficientes na escola, esse reverso são os atrasos na justiça, são todos os investimentos que não foram sendo feito e a falta desses investimentos sai muito caro ao país".

"Quando se fala em contas certas devemos pensar também que as contas certas também são com a saúde, habitação e já agora quando se fala em contas certas toda a gente deve dar o seu contributo e nós esperamos que a EDP pague os seus impostos pelo negócio milionário das barragens que fez e que não contribuíram ainda para este excedente", disse.

PGR devia investigar compra do GMG porque é "um caso de polícia"

A coordenadora do BE defendeu que a Procuradoria-Geral da República "devia investigar" o negócio da compra do grupo de comunicação Global Media Group (GMG) por um fundo de investimentos, alegando que "há coisas que são caso de polícia".

No Porto, à margem de uma visita às redacções do Jornal de Notícias e de O Jogo, dois dos títulos do GMG que enfrentam ameaças de despedimento e vencimentos em atraso, Mariana Mortágua considerou que o Estado devia assumir a "propriedade temporária" do GMG até ser encontrada uma solução que assegure "condições de idoneidade". "Eu arrisco-me até a dizer que a Procuradoria-Geral da República devia investigar este negócio porque há contornos em todo este negócio com a GMG, na passagem da propriedade, com este fundo que ninguém conhece que são um caso de polícia", afirmou a líder bloquista.

Segundo a também deputada na Assembleia da República, o regulador "não pode lavar as mãos" e "deve ao país uma acção muito mais determinada e uma investigação". "São os próprios fundos que dizem que não vêm comprar órgãos de comunicação social (OCS) para fazer dinheiro, então a pergunta é: vêm fazer o quê? O que é que um fundo de investimento que nós não sabemos o que é, não sabemos quem manda nem com que propósito, vem fazer a Portugal comprar um dos maiores grupos de comunicação social, interferir directamente na estão da TSF e do JN", questionou.

Para Mariana Mortágua, o GMG "está sob ataque", assim como os jornalistas dos vários títulos do grupo, e o Estado "tem um papel" na defesa do jornalismo, nomeadamente na defesa dos jornalistas do grupo. "A curto prazo o Estado tem que encontrar uma forma de estabilizar a propriedade do GMG, de estabilizar a qualidade do jornalismo, que ela é protegida", salientou. "Uma propriedade temporária do Estado pode assegurar isso até se encontrar um accionista privado ou uma cooperativa que assegure condições de idoneidade", apontou.

A líder bloquista comparou mesmo a compra de um banco à do GMG: "Um fundo que ninguém conhece entra e compra um dos maiores bancos portugueses. Achamos que isto é razoável? Há regras de idoneidade, não é qualquer um que pode chegar e comprar uma instituição financeira. Se isto vale para um banco tem que valer ainda mais para um órgão de comunicação social", explicou.

Mariana Mortágua defendeu ainda que esta não uma questão partidária porque "todos os partidos que fazem parte da democracia devem defender as condições da democracia para funcionar, e uma das condições da democracia para funcionar são órgãos de comunicação social livres".

No dia 6 de Dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com carácter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".

Até ao dia de hoje, os colaboradores a recibo verde do GMG ainda não receberam os respectivos pagamentos referentes a Outubro e os subsídios de Natal também ainda não foram pagos. "Essas pessoas [os colaboradores a recibo verde] estão sem receber não têm uma garantia sobre quando vão receber o pagamento de Outubro (...) não conseguimos compreender como é que um fundo, como e que alguém compra, entra no capital de uma empresa e ao fim de três meses não é capaz de garantir algo tão básico como o pagamento de salários", adiantou o delegado sindical no JN Augusto Correia, à margem daquela visita do BE.

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