Organizações apelam à rápida transposição da directiva da União Europeia sobre tabaco

Organizações advertem que a não transposição da directiva “protela medidas de saúde pública urgentes para travar consumo e sujeita o Estado português a uma coima a ser paga com dinheiros públicos”.

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Os autores da carta aberta denunciam "claro incumprimento do direito da protecção da saúde da população portuguesa" por causa de directiva que equipara o tabaco aquecido ao convencional Matilde Fieschi

Várias organizações estão a apelar aos órgãos de soberania que façam "todos os esforços" para transpor no "prazo mais curto possível" a directiva europeia que equipara o tabaco aquecido ao convencional, regularizando a situação de Portugal perante a União Europeia.

O apelo é feito numa carta aberta, a que a agência Lusa teve acesso, em que os signatários reafirmam "a urgência de uma acção que promova, efectivamente, a saúde da população portuguesa".

Advertem que a não transposição da directiva, cujo limite legal era 23 de Julho de 2023, "não só protela medidas de saúde pública eficazes e urgentes para travar o consumo dos produtos de tabaco aquecido em franca ascensão em Portugal, como sujeita o Estado português a uma coima a ser paga com dinheiros públicos". "Tudo isto seria evitável se o Governo, ainda em funções, tivesse optado por, atempadamente, proceder à transposição da directiva para o quadro legislativo nacional, o que poderia ter sido feito através de decreto do Governo", defendem.

Os autores da carta aberta denunciam "a irregularidade e transgressão deste processo e o claro incumprimento do direito da protecção da saúde da população portuguesa consagrado na Constituição".

Lamentam que o Governo não tenha sabido defender "o robusto pacote legislativo inicial", anunciado pela Secretária de Estado da Promoção da Saúde, considerando tratar-se de um "objectivo perdido" do actual executivo, "sem perspectivas de vir a ser recuperado pelo próximo".

"Acresce que o debate político parlamentar deixou claro a oposição hostil dos grupos parlamentares, inclusive de deputados do partido do Governo, e a utilização de argumentos vazios de evidência de saúde pública identificados com o discurso recorrente da indústria", adiantam.

As entidades lembram que, segundo a Convenção-Quadro de Controlo de Tabaco (CQCT) da OMS, ratificada por Portugal, "a indústria do tabaco deve ser excluída do processo de negociação e implementação das políticas de saúde pública, dado não ser um parceiro de saúde pública, mas sim a principal barreira à implementação efectiva da CQCT da OMS".

Segundo os signatários, o grupo de trabalho da Comissão de Saúde fez apenas uma audiência de auscultação sobre a proposta de lei, "especificamente com a indústria do tabaco. "Nenhum outro convite ou marcação de audiência de auscultação foi anunciado publicamente ou agendado".

Há poucos dias, a OMS lançou a campanha, baptizada de "stop the lies" (parem as mentiras, em português), que defende ser uma "iniciativa vital para proteger os jovens da indústria do tabaco e dos seus produtos mortais, apelando ao fim da interferência da indústria tabaqueira nas políticas de saúde".

"Deste modo é inaceitável e até aviltante que Portugal continue a ser um lamentável e sistemático estudo de caso da interferência da indústria tabaqueira nos governos e parlamentos, desvirtuando e impossibilitando os objectivos da proposta inicial da lei — alcançar uma geração sem tabaco em 2040 e promover a saúde da população portuguesa", criticam.

O documento, assinado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, pelas associações de Médicos de Saúde Pública, de Medicina Geral e Familiar, Portugal AVC, Respira, pela Confederação das Organizações Portugueses de Prevenção do Tabagismo, pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e International Network of Women Against Tobacco, também foi enviado para a Comissão Europeia e a Organização Mundial da Saúde.

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