Subida dos juros leva lucros da Caixa para 987 milhões até Setembro

A evolução da margem financeira e da actividade internacional explicam o crescimento de 43% dos lucros do banco público.

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Paulo Macedo é presidente da Caixa Geral Depósitos LUSA/MIGUEL A. LOPES
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A Caixa Geral de Depósitos (CGD) reportou um resultado líquido de 987 milhões de euros no conjunto dos primeiros nove meses do ano, um crescimento de 42,6% em relação aos lucros de 692 milhões alcançados em igual período do ano passado. Perante estes resultados, o banco público planeia entregar, em 2024, um dividendo de 461 milhões de euros ao Estado.

Os resultados foram divulgados pelo banco público nesta sexta-feira, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), onde se justifica este crescimento com a melhoria da margem financeira, que está a ser impulsionada pela subida das taxas de juro, bem como da actividade internacional.

"A evolução da margem financeira e da actividade internacional contribuíram para um aumento dos proveitos, superando o aumento dos custos operacionais num contexto inflacionista. Com este contributo, os capitais próprios atribuíveis ao accionista único da Caixa atingem 9,4 mil milhões de euros, tendo gerado, desde 2017, capital orgânico no valor de 4,1 mil milhões de euros, superando os 3,9 mil milhões de euros do plano de recapitalização", refere a instituição no comunicado enviado à CMVM.

No que diz respeito aos resultados operacionais, a margem financeira (a diferença entre os juros cobrados no crédito e aqueles que são pagos aos clientes nos depósitos) mais do que duplicou em relação ao ano passado e totalizou 2090 milhões de euros no conjunto de Janeiro a Setembro deste ano.

Esta evolução da margem financeira, explica o banco, fica a dever-se a três factores: a inversão das taxas de juro aplicadas pelo Banco Central Europeu para os depósitos da banca de retalho em bancos centrais (que passaram de negativas em 2022, representando um custo para a banca, a positivas este ano); a subida das taxas de juro associadas ao crédito concedido a clientes; e a actividade internacional, com destaque para os resultados do BNU Macau.

Olhando apenas para o impacto da subida das taxas Euribor sobre os resultados da Caixa, as operações de crédito no segmento de clientes particulares representaram um aumento de 412 milhões de euros da margem financeira, enquanto o crédito a empresas teve um impacto positivo de 260 milhões de euros.

Ainda a nível operacional, as receitas obtidas por via de serviços e comissões diminuíram em 7% e totalizaram 426 milhões de euros, uma queda explicada pelas "menores comissões associadas ao crédito" e pela "aplicação de isenções".

Ao mesmo tempo, a Caixa viu os custos de estrutura aumentarem em 11%, fixando-se em 791 milhões de euros, uma evolução explicada pelo aumento dos custos com pessoal (associados ao programa de reestruturação de pessoal) e dos gastos administrativos.

Já os resultados de operações financeiras compensaram uma parte da queda das comissões e da subida dos custos, aumentando em 21 milhões e totalizaram 163,9 milhões, uma evolução "fortemente influenciada pela operação não recorrente de liquidação do Fundo de Pensões, ocorrida em Fevereiro de 2023".

O produto global da actividade cresceu, assim, em quase 79%, totalizando 2808 milhões de euros no final de Setembro.

Actividade comercial em queda

Apesar da melhoria do desempenho operacional, a Caixa viu a actividade comercial registar uma quebra, que foi mais acentuada no lado dos depósitos, mas que também já se faz sentir no lado do crédito.

No conjunto dos primeiros nove meses do ano, a carteira de crédito do banco público totalizou 52.790 milhões de euros, valor que representa uma quebra de 2,7% face a igual período do ano passado. Esta queda fica a dever-se, sobretudo, à diminuição da carteira de crédito à habitação, que caiu em 2,3% e ascendeu a 24.459 milhões de euros no final de Setembro. Já o crédito a empresas manteve-se praticamente inalterado e totalizou 19.775 milhões.

A diminuição da carteira de crédito à habitação, explica o banco, fica a dever-se aos "reembolsos antecipados e redução da procura".

Ainda relativamente ao crédito, o rácio de NPL (do inglês non performing loans, ou crédito malparado) reduziu-se de 2,6% em Setembro do ano passado para 2,09% no mesmo mês deste ano.

Já no que diz respeito aos recursos do banco público, os depósitos de clientes reduziram-se em quase 5% em relação a Setembro do ano passado e fixaram-se em 79.542 milhões de euros. Mesmo assim, o banco destaca que, considerando apenas o terceiro trimestre, "registou-se uma inversão desta tendência, com um aumento de cerca de 200 milhões de euros".

Dividendo pode ultrapassar 461 milhões

Para 2024, o Orçamento do Estado prevê que o banco público distribua dividendos de 461 milhões de euros ao accionista, relativos ao exercício de 2023. Tendo em conta que a política de distribuição de resultados da Caixa prevê que a instituição entregue 40% dos lucros ao Estado, o dividendo a distribuir no próximo ano poderá, contudo, ser superior.

Isso mesmo assume Paulo Macedo, que garante que, havendo margem para pagar acima dos 461 milhões já orçamentados, isso acontecerá. "Reafirmamos a nossa intenção de pagar o dividendo que está orçamentado. Estamos a apresentar resultados que permitem esses valores, vai depender do desempenho do quarto trimestre. A nossa perspectiva é que esse valor possa ser cumprido", começou por dizer.

"Aquilo que dizemos há anos é que, se a Caixa tiver margem para pagar mais dividendos, assim fará. A intenção deste Conselho de Administração é de que a Caixa possa, rapidamente, devolver ao Estado o investimento que ele fez e, com isso, mostrar que os investimentos do Estado podem ser rentáveis", acrescentou.

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