Marcelo criticou “ano e meio” de atraso nos estatutos da Direcção Executiva do SNS

Presidente da República revelou que ainda não recebeu diploma da dedicação plena dos médicos praticamente um mês depois de ter sido aprovado em Conselho de Ministros.

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Marcelo considera que é preciso pôr de pé rapidamente o novo modelo de gestão do SNS LUSA/CARLOS M. ALMEIDA
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que o atraso de “ano e meio” na publicação dos estatutos da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde “é muito tempo”, deixou reforma “a meio da ponte” e que, sem o puzzle completo, “começam a saltar peças”, referindo os problemas com o encerramento de maternidades e com as horas extraordinárias dos médicos.

As críticas do chefe de Estado foram assumidas aos jornalistas, esta quarta-feira, à margem de uma conferência na Faculdade de Farmácia de Lisboa, depois de questionado sobre o apelo da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) para que envie o decreto da dedicação plena dos médicos para o Tribunal Constitucional. Só que o chefe de Estado disse, com elevado grau de certeza, ainda não ter recebido o diploma, que já foi aprovado no Conselho de Ministros de 14 de Setembro.

“Eu ainda não o recebi. Se recebi, está a ser avaliado pelos consultores, mas penso que não me foi às mãos. Vou avaliar. Se tiver algum motivo para pedir [a fiscalização preventiva] ao Tribunal Constitucional, pedirei”, afirmou, sem se comprometer com uma decisão.

Depois, no plano da saúde, Marcelo referiu-se a dois “processos” que estão a decorrer em simultâneo: um que opõe Governo e médicos, e no qual o chefe de Estado espera que as reuniões marcadas “conduzam ao diálogo”; o outro tem a ver com um “problema de fundo”, o do novo “esquema de gestão do SNS” com a criação da Direcção Executiva.

Embora o modelo de gestão tenha sido anunciado há um ano – e na altura mereceu dúvidas por parte do Presidente por causa da descentralização –, a direcção executiva liderada por Fernando Araújo está em actividade mas ainda não tem estatutos aprovados, o que implica que há competências que ainda estão na esfera de outras entidades do SNS.

“Houve aqui um compasso de espera de um ano e [mais] quatro meses [para a entrada em vigor]. Numa reforma, é muito tempo. Significa que a mudança do modelo de gestão para outro fica a meio da ponte e quando se fica a meio da ponte começam a rebentar consequências daquilo que já não é o que era, mas o que vai ser. Falou-se das maternidades, depois do ‘problema horas extraordinárias’”, afirmou, referindo que a nova gestão do SNS só arrancará em Janeiro de 2024.

Defendendo que seria “importante que o novo esquema de gestão fosse posto de pé o mais rapidamente possível”, Marcelo alertou para a ideia de que a definição do quadro orgânico “é a única maneira de ter o puzzle completo”. “Se não, começam a rebentar peças do puzzle, começam a ficar fora do sítio, uma peça, duas peças”, afirmou, sublinhando que “o tempo em política é fundamental”. “A melhor ideia do mundo com um ano e meio de atraso passa a ser uma ideia menos boa”, apontou.

Questionado sobre se receia que Fernando Araújo perca a paciência e se demita do cargo, Marcelo considerou que o gestor “é uma pessoa muito determinada” e que “por onde passa é muito efectivo”. “É criar as condições para que seja efectivo e com a equipa a poder arrancar e resolver problemas, uns mais antigos, outros mais recentes”, desafiou, lembrando que “há milhões de portugueses” que não têm dinheiro para uma alternativa ao SNS.

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