Cartazes com críticas à JMJ transformam Avenida Almirante Reis em “rua da contestação”

Avenida Almirante Reis, no centro de Lisboa, foi o ponto de encontro para manifestantes expressarem o seu desagrado com a organização da JMJ, face aos abusos sexuais na Igreja e à falta de habitação.

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Manifestação na Avenida Almirante Reis, no centro da cidade de Lisboa, contra a organização da JMJ LUSA/MIGUEL A. LOPES

A Avenida Almirante Reis, em Lisboa, transformou-se este sábado numa espécie de "rua da contestação" onde cartazes e frases pintadas nas paredes expressam o desagrado pela realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre de terça-feira a domingo.

A falta de habitação condigna e a preço acessível, os abusos sexuais na Igreja Católica e até a construção dos confessionários da JMJ, feita por reclusos de estabelecimentos prisionais, são alguns dos temas criticados naquela avenida no centro da cidade.

A artéria foi dominada por frases como "+ casas; - papa" e "Livrai-nos dos pobres, amém!", e cartazes ilustrados com fotografias de apartamentos para arrendar por mais de 1000 euros durante a JMJ em que se lê "Dia da juventude, Ano da especulação".

O problema da habitação, na opinião de populares, deveria ser prioritário face ao maior evento mundial da Igreja Católica que a cidade acolhe.

Sentado numa floreira da avenida, Manuel Camilo, de 93 anos, diz-se "a favor de tudo o que sejam manifestações construtivas em benefício das pessoas", considerando que "se está a gastar imenso dinheiro" com a JMJ.

"Acho que a Câmara, que é tão avara em facilitar as pessoas a contribuir para resolver os seus problemas, especialmente os da habitação, pelas contas que eu faço, porventura muito mal feitas, (...) com uma contribuição [para a JMJ] superior a 30 milhões de euros faria 400 casas para as pessoas", disse à Lusa.

Afirmando não ter "nada contra o Papa nem contra qualquer religião", Manuel Camilo é da opinião que, "em nome do Papa, se gasta demasiado dinheiro que devia ser utilizado em benefício da população".

Questionado se a JMJ dará notoriedade a Portugal, o idoso não tem dúvidas de que "é provável que também contribua para isso", mas "entre notoriedade ou bem-estar das pessoas e satisfação das suas necessidades vai uma diferença muito grande".

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Manifestantes contra a organização da JMJ colaram, na avenida Almirante Reis, imagens que mostram o preço das casas para arrendamento durante o início de Agosto LUSA

João Carvalho, de 26 anos, considera positiva a realização do evento, até porque se vê ruas mais limpas e arranjos que até aqui não tinham sido feitos, mas tem a mesma opinião: "Sinceramente, haveria outras prioridades, nomeadamente arrendamento que não existe para os jovens".

"Há muitos jovens que estão a ser despejados das casas, que não têm condições, que têm trabalhos e não conseguem pagar uma renda de uma casa. O governo existe para dar resposta ao povo, o povo faz-se ouvir, isso é positivo", acrescentou.

Ainda que a contestação expressa na rua seja compreensível, para António Pereira "há uma certa manipulação na forma de se contestar", como quanto à "passadeira da vergonha", instalada pelo artista Bordalo II no palco-altar do Parque Tejo.

"Estamos a confundir muito as coisas. Sou cristão católico, percebo a vinda do Papa, compreendo as dificuldades das pessoas, que estão a passar muitas dificuldades, mas está-se a confundir tudo", disse, acrescentando que o que se deve contestar "é o acto político".

O problema de falta de habitação é "político e não se pode culpar uma instituição de fé como a Igreja Católica, que é uma instituição enorme", cabendo aos políticos encontrar soluções, argumenta.

Considerado o maior acontecimento da Igreja Católica, a JMJ vai realizar-se este ano em Lisboa, com a presença do Papa Francisco, sendo esperadas mais de um milhão de pessoas.

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