Naufrágio na Grécia: suspeitos de tráfico humano declaram inocência

Guarda costeira grega desmente investigação da BBC que indica, através dos dados de localização de outras embarcações nas proximidades, que a traineira esteve parada durante sete horas.

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Familiares e amigos dos migrantes que iam a bordo do barco naufragado tentam obter informações no campo de Malakasa STELIOS MISINAS/Reuters
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Os nove cidadãos egípcios acusados de serem os traficantes responsáveis pelo naufrágio ao largo da costa da Grécia, na passada quarta-feira, de um barco que transportava centenas de migrantes declararam a sua inocência na primeira audiência no tribunal da cidade de Kalamata.

Os suspeitos, com idades entre os 20 e os 40 anos, estão acusados pela Justiça grega de tráfico de seres humanos, entre outros crimes, e serão novamente presentes a tribunal na terça-feira para saber se continuarão detidos até ao julgamento.

O advogado de um dos arguidos afirmou, na audiência desta segunda-feira, que o seu cliente está inocente, já que é também uma vítima que “pagou aos traficantes para ser levado para a Europa”.

“Ele não é traficante, é apenas um passageiro”, declarou o advogado, Alexandros Dimaresis.

Até agora, foram confirmadas 78 mortes e 104 sobreviventes no naufrágio, a cerca de 80 km ao largo da cidade de Pylos, no Sul da Grécia, mas as autoridades acreditam que mais de 500 pessoas continuem desaparecidas, incluindo mais de cem crianças.

As autoridades gregas foram acusadas por várias organizações de defesa dos direitos humanos de nada terem feito para auxiliar a embarcação, uma traineira de 30 metros que transportava entre 750 e 800 pessoas.

A guarda costeira grega justificou-se dizendo que as pessoas a bordo recusaram por várias vezes as ofertas de auxílio, prosseguindo a viagem, que tinha Itália como destino final.

Mas uma investigação da BBC levanta questões sobre a versão da guarda costeira dos acontecimentos que levaram ao naufrágio. Segundo a emissora britânica, uma análise dos movimentos de outras embarcações nas proximidades, baseada em dados de localização recolhidos pela plataforma MarineTraffic, indica que o sobrelotado barco de pesca esteve parado durante pelo menos sete horas antes de se virar e afundar.

Numa reacção à investigação da BBC, a guarda costeira manteve a sua versão de que, durante esse intervalo de tempo, a embarcação estava em movimento e não necessitava de auxílio.

“O barco navegou durante 30 milhas náuticas (55 km) desde a sua detecção até ao seu naufrágio”, afirmou a guarda costeira grega, citada pelo jornal Kathimerini.

Também o Governo grego emitiu uma declaração, em que afirma que está a decorrer uma investigação exaustiva dos factos, que envolve análises técnicas complexas.

“O Governo ouve, regista e avalia cuidadosamente todas as informações e opiniões relevantes, mas a sua posição é que cabe às instituições relevantes de um Estado de direito e, em particular, ao poder judicial independente, emitir uma decisão institucional final”, refere a declaração.

Detenções no Paquistão

Entre os migrantes que estavam a bordo da embarcação, umas três centenas seriam oriundas do Paquistão, onde as autoridades anunciaram nesta segunda-feira a detenção de 14 pessoas alegadamente envolvidas numa rede de tráfico de seres humanos directamente responsável por um dos desastres marítimos mais mortíferos dos últimos anos na Europa.

Pelo menos 21 dos mortos eram originários do distrito de Kotli, na parte paquistanesa da região de Caxemira, informaram as autoridades locais. Dois dos 12 paquistaneses que sobreviveram ao naufrágio também vinham da mesma cidade.

“Já prendemos dez suspeitos que fazem parte de uma rede de tráfico humano que enviou estas pessoas para a Europa”, disse um responsável da polícia regional, Tahir Mahmood Qureshi, citado pela Reuters. Outras quatro pessoas foram presas na província oriental do Punjab, disse um responsável da Agência Federal de Investigação do Paquistão (FIA).

As detenções ocorrem no dia em que o Paquistão observa um dia de luto nacional pelos mortos na tragédia.

De acordo com o relato feito por vários sobreviventes ao jornal britânico The Guardian, os migrantes de determinadas nacionalidades, como os paquistaneses, estariam confinados ao porão do navio e não estavam autorizadas a subir ao convés, o que reduziu as suas hipóteses de sobrevivência. As mulheres e as crianças terão também sido obrigadas a viajar no porão.

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