Leão de Ouro de carreira da Bienal de Arquitectura de Veneza para Demas Nwoko

Arquitecto de quase 90 anos foi membro fundador dos “Rebeldes de Zaria”, colectivo artístico que contribuiu para a vanguarda modernista pós-colonial na Nigéria.

Foto
O arquitecto Demas Nwoko receberá a 20 de Maio Leão de Ouro de carreira pela Bienal de Arquitectura de Veneza Jorge Fernandez/getty images

O arquitecto e artista nigeriano Demas Nwoko será distinguido com o Leão de Ouro de carreira pela Bienal de Arquitectura de Veneza, que será entregue a 20 de Maio, na abertura da exposição internacional, em Itália.

A curadora da 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza, Lesley Lokko, propôs entregar o prémio ao arquitecto, artista e designer de 88 anos, tendo obtido a aprovação do presidente da direcção da bienal, Roberto Cicutto, indica a organização.

Demas Nwoko nasceu em 1935 em Idumuje-Ugboko, no sul da Nigéria. Filho de um Obi (governante tradicional nigeriano), fez as primeiras incursões na pintura, desenho e escultura na escola secundária de Benin City. Mais tarde, estudou arquitectura na Nigerian College of Arts, Science and Technology, em Zaria.

Na década de 1960, foi membro fundador da Sociedade de Arte de Zaria, grupo de artistas popularmente conhecido como os "Rebeldes de Zaria". O colectivo cunhou, no meio artístico, o termo "síntese natural", usado para descrever um cruzamento entre os conhecimentos que os integrantes haviam recebido no contexto da sua formação por educadores coloniais, por um lado, e a sua concentração em temas e narrativas africanas, por outro.

Os "Rebeldes de Zaria" contribuíram para a vanguarda modernista pós-colonial na Nigéria, juntamente com os seus pares na literatura, no teatro e na música, sublinha um texto da organização sobre o galardoado.

"Com toda a sua ênfase no futuro, parece inteiramente adequado que o Leão de Ouro de carreira seja atribuído a alguém cujas obras materiais abrangem os últimos 70 anos, mas cujo legado imaterial — abordagem, ideias, ethos — ainda está a ser avaliado, compreendido e celebrado", sublinha a curadora Lesley Lokko para justificar a proposta.

A primeira encomenda de arquitectura de Nwoko foi para construir o complexo para o Instituto Dominicano em Ibadan, uma das maiores cidades da Nigéria, em 1970. Dito isto, ele já iniciara o seu trabalho de arquitectura, no final da década de 1960, nos New Culture Studios, de que foi fundador. Também em Ibadan, os New Culture Studios actualmente funcionam como centro de design e também de formação para as artes do espectáculo.

Nwoko fundou igualmente a agora extinta New Culture Magazine, na década de 1970, uma publicação que documentava a arte e a cultura contemporâneas.

Júri da bienal anunciado

A organização também anunciou a composição do júri do maior evento internacional dedicado à arquitectura, que será presidido nesta edição pelo arquitecto e curador italiano Ippolito Pestellini Laparelli, pela arquitecta e curadora palestiniana Nora Akawi, pela directora e curadora americana do Studio Museum no Harlem, Thelma Golden, pelo fundador e co-editor sul-africano da Cityscapes Magazine, Tau Tavengwa, e pela arquitecta polaca Izabela Wieczorek, com base em Londres.

Ippolito Pestellini Laparelli vive em Milão e é fundador da 2050+, uma agência interdisciplinar que se move entre a tecnologia, a política, o design e as práticas ambientais.

Os seus projectos mais recentes incluem Synthetic Cultures, na décima Bienal de Arquitectura de Roterdão, e as exposições Aquaria, no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, em 2021.

A pré-abertura da 18.ª Bienal de Arquitetura de Veneza acontecerá nos dias 18 e 19 de Maio. A entrega de todos os prémios, incluindo as representações nacionais, será feita na cerimónia de abertura, a 20 de Maio.

"Descolonização e descarbonização" são temas sobre os quais se estrutura a Bienal de Arquitectura de Veneza deste ano, a decorrer até 26 de Novembro, com África como epicentro e "laboratório do futuro" por lema.

Com representações oficiais de 63 países, sendo Portugal e Brasil os únicos lusófonos presentes, a bienal conta ainda com 89 participantes nas exposições e nos projectos especiais de O Laboratório do Futuro, na maioria de África e da diáspora africana, entre os quais o Banga Colectivo, gabinete de arquitectura de Luanda e Lisboa, e o atelier brasileiro Cartografia Negra.

A representação oficial portuguesa é feita pelo projecto Fertile Futures, com curadoria de Andreia Garcia. Aborda a escassez de água doce e a busca de soluções para a gestão sustentada de recursos hídricos, com base em sete casos nacionais.

O Pavilhão do Vaticano tem por comissário o cardeal José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, com um projecto do arquitecto Álvaro Siza e curadoria do também arquitecto Roberto Cremascoli.

Sugerir correcção
Comentar