Especialista alerta para mortalidade do cancro do ovário

Ausência de sintomas claros torna difícil a identificação da doença, o que leva geralmente a um diagnóstico tardio

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Morrem mais de 400 mulheres por ano por causa deste cancro, alerta especialista Paulo Pimenta

O ginecologista Henrique Nabais, da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), alertou esta segunda-feira para a elevada mortalidade do cancro do ovário, apelando às mulheres para estarem atentas, pois oito em cada dez casos são detectados em estado avançado.

Em declarações à agência Lusa a propósito do lançamento da campanha Eu Preferia Saber... que a Mutação BRCA Pode Mudar a Minha História, que é lançada esta segunda-feira, Dia Mundial do Cancro do Ovário, o especialista disse que para a detecção em caso avançado contribuem os sintomas inespecíficos da doença e a quantidade de mulheres sem acesso a médico de família. Esta falta de seguimento nos cuidados primários de saúde compromete o acompanhamento e as avaliações de rotina, referiu.

O presidente da Secção Portuguesa de Ginecologia Oncológica (SPGO) da SPG lembrou que o cancro do ovário, nas fases iniciais, “não tem nenhuma sintomatologia específica”, e por isso advertiu que é preciso estar atento não só as mulheres, mas os próprios médicos.

“São sintomas tão inespecíficos que é importante estar profundamente atento à frequência e intensidade de alguns sinais e sintomas que, quando aparecem e persistem no tempo, ou se intensificam por alguma razão, têm que ser avaliados”, considerou.

Deu ainda como exemplo outros cancros, como o da mama ou do colo do útero, que têm rastreio disponível, ao contrário do cancro do ovário, para frisar a importância de a mulher estar atenta a queixas como “a distensão abdominal ou alguma dor ou incómodo abdominal” ou “algum enfartamento” após as refeições.

“Isto é tão frequente que se desvaloriza”, reconhece o especialista, chamando a atenção para a persistência ou alterações nestas queixas: “Se as queixas persistem para além de duas/três semanas, se a intensidade aumentou ou se modificou, nesta altura o melhor é ser avaliada.”

Henrique Nabais comparou, por exemplo, com o cancro no endométrio, em que também não há rastreio, mas há sintomas: “Não temos nenhum teste de rastreio, mas 80% dos cancros do endométrio dão sintoma precoce, que é a hemorragia vaginal anómala.” “Se as mulheres estiverem informadas, os médicos estiverem informados, geralmente fazemos diagnósticos precoces [no cancro do endométrio]. No ovário, nem uma coisa nem outra”, lamentou.

A propósito da campanha agora lançada, que envolve a mutação genética (BRCA) e a sua influência no aparecimento de cancro do ovário, Henrique Nabais lembrou que em 20% a 25% a mutação genética está associada ao cancro do ovário.

Apesar de ser “relativamente raro” — há cerca de 500 casos por ano —, o especialista sublinhou: “O drama é que morrem muitas mulheres. São mais de 400 por ano (...), o que é muito.”

Sendo um cancro tão raro, não se pode fazer o estudo genético a toda a população, tendo em conta os custos que implicaria, lembra o ginecologista, acrescentando que “é preciso ser criterioso com os casos em que são pedidos esses testes”.

“Na maioria das mulheres com cancro do ovário, nós fazemos o estudo genético. Há famílias que têm um conjunto de cancros, seja pelo tipo de cancro, seja pela idade em que aparecem, que é sugestivo de haver uma mutação, e aí fazemos o estudo. Não só porque o conhecimento da mutação é determinante e modifica a conduta terapêutica, mas porque, (...) se a mulher doente teve a mutação, temos de fazer o estudo dos familiares mais próximos, porque, se também tiverem a mutação, esta é identificada.”

Identificando a mutação, sendo a BCRA, nas mulheres entre os 35 e os 40 anos, pode optar-se pelas cirurgias redutoras de risco (com remoção do ovário), baixando o risco entre 70% e 80% de ter cancro. As que não querem fazer cirurgia são acompanhadas com ecografia e análise ao marcador tumoral respectivo a cada seis meses.

Henrique Nabais chamou igualmente a atenção para importância de estes casos serem tratados por centros de referência. “Não é possível tratar bem uma mulher com cancro do ovário num centro que trata um caso ou dois por ano”, indicou.

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