Ambientalistas defendem Hospital do Oeste junto à linha férrea

“Seria incompreensível que a decisão de localização de um equipamento como o Hospital do Oeste - que servirá mais de 400 000 pessoas - não tivesse em consideração o desafio da mobilidade sustentável”.

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A localização do Hospital do Oeste continua a dividir os municípios da região e a decisão foi adiada Guillermo Vidal

As três maiores associações ambientalistas portuguesas, GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), Quercus e Zero, divulgam nesta quarta-feira um comunicado conjunto onde defendem que o futuro Hospital do Oeste – cuja localização está em processo de decisão – seja construído junto à linha homónima por forma a potenciar as deslocações de comboio e diminuir a dependência dos automóveis e autocarros.

“Num momento em que estão a ocorrer obras de requalificação na Linha do Oeste, ainda faz menos sentido não ser aproveitado o investimento que está a ser realizado para servir com mais qualidade, não só os utentes deste hospital, como os futuros profissionais que irão lá exercer funções”, diz o documento.

Os ambientalistas recordam que o sector dos transportes é o que mais contribui para a emissão de gases com efeito de estufa, mais concretamente 28,2% do total, de acordo com o último inventário de emissões conhecido. Por isso, “localizar novas infra-estruturas, que geram enormes volumes de tráfego, longe de eixos ferroviários ou dos sistemas de metro contribui para o recurso generalizado ao transporte rodoviário fortemente emissor e consumidor de recursos escassos, como o lítio e outros minérios”.

As três organizações dizem que “o transporte ferroviário desempenha um papel insubstituível na estruturação da mobilidade sustentável, devendo ser complementado pelo transporte rodoviário electrificado e este pelos modos suaves, estabelecendo-se assim uma hierarquia da mobilidade sustentável”. Daí a importância de potenciar um “círculo virtuoso do ordenamento do território” que tenha em conta a localização de equipamentos e de licenciamento de áreas residenciais, de serviços e indústrias perto da via férrea.

No caso do hospital oestino, dizem que “seria incompreensível que a decisão de localização de um equipamento como o Hospital do Oeste - que servirá mais de 400.000 pessoas - não tivesse em consideração o desafio da mobilidade sustentável”. Em 2022, na auto-estrada que serve esta região (A8), “passaram em média 24.000 automóveis por dia, o que seria suficiente para justificar duas a três frequências por hora num serviço cadenciado com comboios de 30 em 30 ou de 20 em 20 minutos”.

O comunicado aponta ainda os erros de localização dos hospitais de Vila Franca de Xira, Loures e Cascais que “passaram ao lado dos desafios da sustentabilidade”. E ao do Oeste acrescentam os futuros hospitais do Seixal e de Lisboa Oriental como exemplos de que é preciso situá-los junto de modos de transporte sustentáveis para “conter a subida da temperatura da atmosfera terrestre abaixo de 1,5ºC, em relação aos níveis pré-industriais”.

Pizarro diz que “acessibilidade ferroviária será especialmente valorizada”.

A localização do Hospital do Oeste continua a dividir os municípios da região e o ministro da Saúde até já chegou a adiar a decisão (anunciada para finais de Março) para poder estudar os argumentos dos autarcas desavindos. Manuel Pizarro, contudo, já fez saber, depois de questionado pelo PÚBLICO, que “as acessibilidades serão seguramente consideradas no processo de decisão e, entre elas, a acessibilidade ferroviária será especialmente valorizada”.

O próprio secretário de Estado das Infra-estruturas, Frederico Francisco, considera também que, “independentemente do município onde venha a ser instalado o futuro hospital do Oeste, e tendo consciência de que a escolha deverá responder a vários critérios, a acessibilidade em transporte colectivo, incluindo o ferroviário, evitando a dependência exclusiva do transporte individual, não deverá deixar de ser tida em conta."

Em sintonia está também o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, que diz não ter "dúvidas que um futuro hospital deva ficar junto à linha férrea”. Em declarações ao podcast Sobre Carris, o gestor diz que já teve algumas reuniões sobre este assunto com autarcas e reitera que “faz todo o sentido [o hospital] ficar junto à linha, até pelo investimento que estamos a fazer na linha do Oeste e a sua articulação com a alta velocidade”.

A mesma opinião tem o presidente da CP, Pedro Moreira, que em declarações ao PÚBLICO em Setembro de 2022 dizia que “é óbvio que uma infra-estrutura geradora de tráfego, como é o caso de um hospital, tem muito interesse para a CP, pois o modo ferroviário é o mais adequado para responder às necessidades dos profissionais de saúde que nele trabalham nas suas deslocações pendulares casa-trabalho, bem como nas deslocações de visitas e de pessoas para as consultas”. E concluía: “acredito que um hospital localizado junto da via férrea, com um apeadeiro ou estação para o servir, será bom para o próprio hospital e será bom para a Linha do Oeste”.

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