Barbara Walker, a pandemia e a fragilidade são os finalistas do prémio Turner

Jesse Darling, Ghislaine Leung e Rory Pilgrim juntam-se à artista britânica na lista de candidatos ao mais importante galardão de arte contemporânea britânico.

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Burden of Proof, Barbara Walker, 2022 Danko Stjepanovic

A pessoa que vencerá o prémio Turner de 2023 só será conhecida em Dezembro, mas até lá os finalistas têm o seu tempo para brilhar, dando a conhecer trabalhos sobre a delicadeza do corpo humano, a pandemia ou o escândalo Windrush e, numa só penada, a especificidade do retrato de pessoas negras. Os nomeados são Jesse Darling, Ghislaine Leung, Rory Pilgrim e Barbara Walker e as suas formas de expressão atravessam diferentes artes plásticas: escultura, instalação, multimédia, desenho. Barbara Walker é talvez a mais reconhecida dos finalistas, com obras integradas nas colecções de importantes museus.

Os nomes dos finalistas foram anunciados na quinta-feira numa conferência de imprensa no museu Tate Britain, em Londres, e os seus trabalhos nomeados estarão expostos na galeria Towner Eastbourne entre 28 de Setembro e o anúncio da decisão final do prestigiado prémio. O Turner é, na verdade, o mais importante prémio britânico de arte contemporânea e já no ano passado distinguiu uma obra relacionada com o caso Windrush, a exposição Along a Spectrum, de Veronica Ryan. É o Reino Unido a lidar com a memória recente da segregação e discriminação étnica no seu país.

E novamente esse tema desponta entre as obras finalistas do Turner 2023: o escândalo da detenção e deportação ilegal de dezenas de pessoas, descendentes da chamada geração Windrush, que se mudou das colónias britânicas nas Caraíbas para o Reino Unido depois da II Guerra Mundial; muitos destes cidadãos britânicos com origens caribenhas já nasceram no Reino Unido, mas foram erradamente identificados como imigrantes ilegais, algo denunciado em 2018.

Barbara Walker
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Barbara Walker

Contradições da vida

Barbara Walker, proeminente artista britânica de 58 anos e conhecida pelos seus grandes retratos de pessoas negras directamente riscados a carvão nas paredes de galerias, está nomeada por Burden of Proof (2022), actualmente em exposição nos Emirados Árabes Unidos na Bienal de Sharjah, um projecto que engloba retratos de pessoas afectadas pelo escândalo Windrush. “Interroga questões passadas e presentes de identidade racial, exclusão e poder”, diz o júri do Turner 2023, que frisa como os “retratos de escala monumental” foram usados para “contar histórias de uma natureza igualmente monumental, mas mantendo uma profunda ternura e intimidade”.

A colheita deste ano é “fantástica”, como não podia deixar de ser para o presidente do júri e da Tate Britain, Alex Farquharson, porque estes artistas exploram “os contrastes e contradições da vida, conjugando preocupações conceptuais e políticas com [uma abordagem] calorosa, lúdica, sincera e terna, celebrando frequentemente a identidade individual e a força da comunidade”, disse quinta-feira, citado pelo Guardian.

Já Jesse Darling, de 41 anos e que trabalha entre Londres e Berlim, está nomeado por duas exposições, No Medals No Ribbons, no Modern Art Oxford, e Enclosures, no Camden Art Centre. O seu trabalho escultórico e de instalação “evoca a vulnerabilidade do corpo humano e a precariedade das estruturas de poder”, segundo a Tate, organizadora do prémio, disse no anúncio dos nomeados.

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Ben Westoby
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Eva Herzog
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Ghislaine Leung, por ser turno, destaca-se pelas suas instalações e está nomeada por Fountains, uma mostra que teve patente na galeria Simian, em Copenhaga. O trabalho de Leung, que é sueca, tem 42 anos e vive em Londres, tem “qualidades calorosas, espirituosas e transcendentais por trás da estética elegante e da natureza conceptual [da obra]”, elogia o júri. Uma breve descrição de Fountains: água a cair do tecto da galeria e um monitor usado para verificar o quarto dos bebés que mostrava os trabalhadores do espaço artístico a trabalhar no seu quotidiano.

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GRAYSC
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Por fim mas não em último lugar, Rory Pilgrim, de 35 anos, está nomeado pelo filme Rafts, em que londrinos fazem arte, música ou lêem poemas sobre a pandemia e a crise climática. Uma obra colaborativa com a comunidade de um bairro de Londres, foi também uma performance ao vivo e o projecto é elogiado pelo júri como um “exemplo destacado de prática social”. O New York Times recorda que o filme foi recebido tanto com elogios quanto com críticas negativas quando foi exibido o Reino Unido.

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Rafts, instalação, Rory Pilgrim George Darrell

O júri é composto por Martin Clark, director do Camden Art Centre, Cédric Fauq, curador-chefe do museu Capc de Bordéus, Melanie Keen, directora da Wellcome Collection e Helen Nisbet, directora artística do festival Art Night. A pessoa vencedora receberá 25 mil libras (30 mil euros) e serão atribuídas 10 mil libras (12 mil euros) a cada um dos três finalistas. No passado e desde a sua criação em 1984, o prémio já distinguiu nomes como Steve McQueen, Damien Hirst, Wolfgang Tillmans, Anish Kapoor, Gilbert & George e, nos últimos anos, muito mais mulheres como Helen Marten, Elizabeth Price ou Laure Provost.

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