Não consegue concentrar-se num livro? Doze dicas para ler mais e melhor

Algumas delas são também dicas para largar o telemóvel. As sugestões vêm de leitores do PÚBLICO e dos escritores Valter Hugo Mãe e Yara Monteiro.

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Enquanto lê, Rita Constantino procura deixar o telemóvel noutra divisão da casa Daniel Rocha/PUBLICO

As redes sociais, as notificações, o vício de ver se há algo de novo a piscar no ecrã. O telemóvel e a Internet podem ser aliados do conhecimento, mas sugam muita da nossa atenção e talvez estejam a desabituar o cérebro de algo como o mergulho num livro, território a milhas do multitasking digital. Muitos têm agora dificuldades em concentrar-se numa obra literária. O Ípsilon perguntou aos seus leitores, a escritores e a uma editora que estratégias encontraram para conseguir ler mais e melhor.

Deixar o telemóvel noutra divisão da casa

Esta será a mais directa das dicas. Pôr o smartphone em silêncio também é uma opção — contanto que não esteja sempre a interromper a leitura para ver se caiu alguma notificação. Sugestão da leitora do PÚBLICO Rita Constantino.

​Monitorizar o uso do telemóvel

A escritora Yara Monteiro, autora de livros como Essa Dama Bate Bué, gosta de consultar o relatório semanal em que o seu smartphone lhe indica quantas horas passou a interagir com o ecrã e quais as aplicações que mais usou. É uma forma de saber se está demasiado agarrada ao telemóvel. Talvez alguns daqueles minutos a mais no sábado à tarde possam ser transferidos para a leitura.

A leitora do PÚBLICO Sara Jesus também tenta monitorizar a sua relação com o smartphone. Programou-o para este exibir um aviso quando ela atinge 15 minutos de utilização diária de algumas aplicações, como o Facebook e o Instagram: “As apps que eu acho que só me roubam tempo...” Até agora, o sucesso desta estratégia tem sido limitado para a hematologista de 35 anos, mas ela encontra-se numa fase em que afirma precisar que o aviso apareça. Quando surge, ele “mexe com o pensamento”. “Há ali uma espécie de jogo psicológico: ‘Não caias na tentação.’”

​Ler com um objecto na mão (caso não consiga mesmo largar o telemóvel)

Esta peculiar dica também é de Sara Jesus, que, por motivos profissionais, tem passado os últimos tempos a ler muitos documentos científicos, a maioria dos quais pelo computador. “Está a ver o vício das pessoas que querem deixar de fumar?”, pergunta-nos. “Há fumadores que, quando estão a tentar deixar, têm de ter alguma coisa entre os dedos (um lápis, por exemplo). Eu passo as minhas horas de estudo a segurar uma espécie de bola anti-stress. Mantenho a mão ocupada para evitar pegar no telemóvel.”

Apostar nos e-books

Sugestão da leitora do PÚBLICO Daniela Sá: “Percebi que com o livro físico consultava o telemóvel à procura de um significado e, mal isso acontecia, perdia-me. Há um chamamento inexplicável para estarmos sempre ligados.”

… e nos audiolivros

A leitora do PÚBLICO Lúcia Nunes gosta de ler livros físicos, mas diz que os audiolivros também são uma boa opção, permitindo-lhe fazer outras coisas em simultâneo (coisas que não “desviem” a atenção, como fazer tricô, outro passatempo seu). Os audiolivros podem ser especialmente interessantes para pessoas que diariamente têm de fazer grandes viagens de carro, por exemplo. Há só que considerar uma possível desvantagem. “Já trazem a entoação de quem está a ler. O leitor não faz o mesmo tipo de participação na história”, adverte Maria do Rosário Pedreira, editora do grupo Leya e também escritora.

Definir pequenos objectivos

Rita Constantino estabelece metas diárias para tentar progredir nas suas leituras. “Por exemplo: ‘Hoje avanço 30 páginas e não vou dormir sem as ler’”, conta-nos. A leitora do PÚBLICO Ana Lídia também define metas, só que as suas são anuais. Vai, no começo do ano, ao Goodreads, site em que os utilizadores podem atribuir pontuações aos livros que já leram e apontar os que ainda querem ler, e estabelece o número de livros que deseja ler até Dezembro. Faz um “compromisso” consigo mesma, e isso é algo que a ajuda: há um objectivo, por ela própria estabelecido, pelo qual tem de batalhar.

Andar sempre com um livro na mochila

Há muitos “momentos mortos” ao longo do dia e eles podem ser boas oportunidades para lermos mais algumas páginas. Enquanto esperamos pelo autocarro, dentro do metro, na sala de espera do dentista, na pausa do almoço… Nova sugestão de Ana Lídia.

Ler com auscultadores que cancelem o ruído

Há quem não seja capaz de ler nos transportes públicos porque há muito barulho, inimigo da concentração. A leitora do PÚBLICO Joana Cardoso recomenda auscultadores com cancelamento de ruído. Assim, a jovem de 21 anos consegue manter a concentração e ouvir a narração da sua “voz interna” mesmo nas horas de maior rebuliço.

Ler de lápis na mão

A autora Yara Monteiro usa o lápis para sublinhar ideias que considere interessantes. É uma boa estratégia para manter a atenção, sugere. “Não consigo ler sem lápis. É como se fosse a minha bússola ao longo do mapa da narrativa.”

Criar um “teatro de leitura”

Sugestão do escritor Valter Hugo Mãe, que diz gostar de ter “um certo aparato”. “Leio melhor quando estou sentado à mesa. Gosto que o livro esteja pousado, gosto também de uma boa luz…”

Gerir a lista de leitura em função da vida

Recomendação da leitora Joana Cardoso, que passa a explicar: “Se estiver num período mais trabalhoso, opto sempre por livros mais ‘leves’, que requeiram menos da minha atenção — livros de poesia pequenos, livros de leitura rápida, coisas desse género. Quando tenho mais tempo livre, opto sempre por ler coisas novas e que me desafiem, como psicologia e filosofia.”

Meditar

Enquanto prática diária, a meditação pode ser benéfica para a leitura: ajuda a reorganizar os pensamentos e a reduzir o ruído mental. Quem o diz é a escritora Yara Monteiro.

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