Isaura: triunfo pop depois do cancro

Cantado em português, Invisível é um eficaz e criativo disco pop, particularmente feliz quando abraça a música de dança.

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Invisível é o segundo álbum de Isaura DANIEL COIMBRA

O disco começa com um triunfo: Olhos em ti, tapete de sintetizadores, ritmo fulgurante (ora house ora quase drum’n’bass), a voz de Isaura livre e forte como leoa à solta. Daqui seguimos para Viagem, um single dançante com óbvio apelo pop, operação de catarse em directo: “Os dias agora já não passam/ Os medos ficam e dançam/ O ar já não é p’ra respirar/ Nenhuma viagem nos tira do lugar”. É pop que absorve interessantes pormenores de produção, como um loop que parece pilhado de uma corrida de Fórmula 1.

Invisível, sucessor de Human (2018) e o primeiro álbum em português da cantora e compositora de Gouveia, é uma conquista estética e pessoal. Isaura enfrentou um cancro da mama e a experiência difícil está presente nestas canções. No fulgor de Olhos em ti, ela canta: “Há qualquer coisa nos medicamentos/ que não me deixa viver os momentos/ Vejo neblina, mas os meus sentimentos/ são mais verdade que os mais pensamentos.” Ela explica, em comunicado: “São as canções mais honestas e verdadeiras que já escrevi; há frases que me deixam desconfortável. É esse desconforto que me faz sentir que o trabalho está feito”.

A urgência dos dois temas inaugurais não é repetida no disco, que se perde em alguns clichés pop-rock. Mas Isaura acerta várias vezes: PHTGDM? entrega-nos voz transformada em estúdio e beat vigorosamente mínimo, Só quero que te sintas bem é pop de sintetizadores com baixo dançável (catarse: “Tudo vai passar”) e Salto baila e balança com óbvio saber fazer (Ben Monteiro, dos amigos D’Alva, anda por aqui).

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