Associação de protecção civil desmente Moedas sobre segurança sísmica de Lisboa

Aprosoc diz que afirmação do presidente da autarquia alfacinha é “desprovida de qualquer verdade”.

Foto
Associação diz que Lisboa é frágil aos sismos Daniel Rocha

A Aprosoc/Associação de Protecção Civil desmentiu nesta quinta-feira o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, que afirmou que, com a excepção dos bairros antigos, a cidade está “extremamente preparada” para o risco sísmico.

Em comunicado assinado pelo presidente da associação, o técnico de protecção civil João Paulo Saraiva, é afirmado que se trata “de uma afirmação desprovida de qualquer verdade” e que “contraria aquilo que a comunidade científica vem alertando há vários anos”.

Em jeito de conclusão, os responsáveis pela Aprosoc dizem que a afirmação em causa, além de “falsa e ilusória, pode criar uma falsa sensação de segurança onde ela não existe”. Poderá, “por isso, ser passível de enquadramento criminal”.

Na quarta-feira, o presidente da autarquia alfacinha tinha afirmado que gostava de “deixar alguma tranquilidade sobre a preparação que Lisboa tem em relação a potenciais sismos”. “Todos sabemos que vivemos numa zona do país em que estes sismos podem acontecer. Como engenheiro civil e como alguém que trabalhou nesta área, [afirmo que] a nossa cidade está extremamente preparada depois dos anos de 1980, infelizmente não nos bairros mais antigos, mas muito, muito, preparada em termos de engenharia e de construção”, declarou Moedas.

A Aprosoc lembra que na passada quarta-feira a CML levou a efeito uma sessão do ciclo de capacitação do programa Resist de 2022 “que havia sido adiada em Dezembro devido às cheias e, uma vez mais, técnicos, cientistas e população identificaram precisamente o oposto daquilo que o sr. presidente da autarquia agora afirma”.

“De facto, é notório um esforço de preparação por parte da autarquia de Lisboa, contudo, daí a poder dizer-se que, face ao estado da arte e ao nível das cidades mais desenvolvidas da Europa, que ‘a cidade está extremamente preparada para’ é, no mínimo, muito rebuscado”, escreve a Aprosoc.

Logo de seguida os membros da associação apontam uma série de factores que dizem sustentar a sua acusação. Afirmam que “a capacidade de resposta de algumas unidades locais de protecção civil” face a um evento sísmico é “totalmente inócua” e que a “adequação dos veículos de socorro em caso de sismo é etérea”, já que “a esmagadora maioria da frota do Regimento de Sapadores Bombeiros, corporações de bombeiros voluntários, INEM e demais entidades que no município concorrem para as actividades de protecção civil não dispõe de tracção adequada”. As que possuem, acrescentam, “serão manifestamente insuficientes”.

Afirmam ainda que, em caso de sismo, o quartel dos bombeiros da Avenida D. Carlos I “ficará muito provavelmente inoperacional, e os seus meios inoperacionais”, o mesmo podendo acontecer com outros quartéis que podem ruir ou, ainda que tal não aconteça, estão em zonas em que outros edifícios podem muito provavelmente ruir, impossibilitando os acessos rodoviários”.

“Lisboa é, do ponto de vista rodoviário, face a um sismo, muito provavelmente uma ilha, já que todos os acessos rodoviários de comunicação com a cidade passam por pontes, viadutos e túneis em alguns casos cuja construção não teve em conta o risco sísmico. Aliás, precisamente por isso, por exemplo, a Ponte Eng.º Duarte Pacheco está, e bem, a ser intervencionada para lhe conferir um reforço sísmico”, acrescenta o comunicado.

Os responsáveis da Aprosoc dizem ainda que “a autarquia não investiu nas unidades locais de Protecção Civil nas freguesias, não sensibilizou os cidadãos nos bairros, não possibilitou a preparação das pessoas para a sua autoprotecção e para a entreajuda”.

“Foi realizado, de facto, algum trabalho de qualidade, contudo inexpressivo face à população existente em Lisboa num qualquer dia ou noite”, salienta a Aprosoc, esperando que “nenhum sismo e tsunami ocorram durante as Jornadas Portuguesas da Juventude para que não venhamos a descobrir o erro crasso da sua localização, bem como as inocuidades do dispositivo planeado”.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários