Lobby ilegal do Qatar no Parlamento Europeu: mulher e filha de ex-eurodeputado detidas

Tribunal italiano confirma prisão domiciliária de Maria Colleoni e Silvia Panzeri, mulher e filha do ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, detido na sexta-feira na investigação da polícia belga.

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O ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri numa conferência em Doha, no Qatar, em 2019 Twitter

Um tribunal italiano confirmou a detenção domiciliar da mulher e filha do ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, detido na Bélgica numa investigação sobre suspeita de participação num alegado lobby ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas no Parlamento Europeu (PE).

Segundo a imprensa local, o Ministério Público italiano alegou, no sábado, num tribunal da cidade de Brescia, no norte do país, que Maria Colleoni e Silvia Panzeri conheciam as actividades do antigo eurodeputado do grupo dos Socialistas e Democratas. As duas deverão comparecer perante o juiz a 19 de Dezembro.

Maria Colleoni, mulher de Panzeri, foi detida na noite de sexta-feira na cidade de Calusco d'Adda, enquanto a filha, Silvia, foi detida em Milão, ambas em resposta a um mandado de prisão europeu.

Panzeri, que foi presidente da subcomissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu entre Janeiro de 2017 e Julho de 2019, foi um dos cinco detidos na Bélgica, na sexta-feira, no âmbito de uma investigação sobre o alegado lobby ilegal do Qatar, segundo a imprensa belga.

Segundo o jornal Le Soir e a revista Knack, a polícia de Bruxelas realizou 16 buscas domiciliárias e efectuou as detenções, entre as quais estão o vice-presidente do Parlamento Europeu, a social-democrata grega Eva Kaili e o recém-eleito presidente do Confederação Sindical Internacional, o maior grupo de organizações sindicais do mundo, Luca Visentini.

Também o companheiro da eurodeputada, Francesco Giorgi, conselheiro parlamentar no âmbito dos negócios estrangeiros e dos direitos humanos, estará entre os detidos.

“Há vários meses que investigadores da polícia suspeitam que um Estado do Golfo tenta influenciar as decisões económicas e políticas do Parlamento Europeu”, confirmou na sexta-feira, o Ministério Público Federal belga em comunicado.

Este Estado teria executado esta estratégia através do “pagamento de quantias substanciais de dinheiro, e oferecendo presentes importantes a terceiros, a pessoas com uma posição política ou estratégica importante dentro do Parlamento Europeu", acrescentou.

Embora o Ministério Público belga não mencione explicitamente o Qatar, os dois meios de comunicação belgas citam várias fontes que confirmaram que se trata do país que organiza o Mundial de futebol.

De acordo com o Le Soir, o objectivo do Qatar era defender a sua imagem enquanto organizador desta competição, sobretudo depois da polémica sobre as condições de trabalho dos migrantes, bem como sobre a protecção de direitos humanos neste país.

O Ministério Público confirmou que durante as buscas foram apreendidos equipamentos informáticos, telemóveis e cerca de 600 mil euros em notas.

Ainda segundo as publicações belgas, foi localizado meio milhão de euros em numerário na casa de Panzeri, actualmente presidente da associação Fight Impunity, dedicada ao combate à impunidade por graves violações de direitos humanos ou crimes contra a humanidade.

A presidente do PE, Roberta Metsola, disse no sábado na rede social Twitter que a instituição “mantém-se firme contra a corrupção” e garantiu que vai cooperar “totalmente com as autoridades policiais e judiciárias competentes”.

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