Nova editora de Gabriel Matzneff, investigado por violação de menores, alvo de “ameaças de morte”

Editora de direita adia lançamento de livro que compila artigos do autor, acusado por Vanessa Springora e Francesca Gee de manter relações abusivas quando eram adolescentes.

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Gabriel Matzneff Sophie Bassouls/Sygma/Getty Images

Aquela que seria a nova editora do escritor francês Gabriel Matzneff, apologista na escrita e na vida real do sexo com menores e na mira da justiça desde 2020, anunciou esta segunda-feira que vai suspender provisoriamente os planos de lançar um novo livro do autor depois de ter sido alvo de ameaças de morte. A Nouvelle Librairie, avança a agência de notícias AFP, diz ter o dever de proteger os seus funcionários.

Gabriel Matzneff, hoje com 86 anos, passou de festejado autor libertário a pária intelectual desde que, no final de 2019, foram publicados os primeiros excertos do livro O Consentimento, da editora Vanessa Springora, em que esta revela a manipulação e as relações sexuais que manteve durante anos com o escritor desde que tinha 13 anos. O livro, editado em 2020 e com tradução portuguesa no final do mesmo ano, teve grande impacto em França - fez reavaliar não só a sua obra, em que defendia em ensaio a prática do sexo com crianças, mas também a relação do país com o seu meio intelectual. Um novo momento #MeToo em França.

Ainda assim, e enquanto Matzneff é visado numa investigação por violação de menor e editoras como a Gallimard se afastaram do escritor, a Nouvelle Librairie, que se descreve politicamente como “de direita identitária, patriota” e com uma abordagem à literatura “impetuosa”, aceitou publicar uma colectânea de artigos do autor. Escritos entre 2015 e 2019, detalha a AFP, intitular-se-iam Derniers écrits avant le massacre (Últimos escritos antes do massacre) e teriam lançamento já dia 8 de Novembro.

Porém, terá sido alvo de ameaças de morte e por isso suspenderá para já os planos de edição da obra do polémico escritor. “Certas reacções são totalmente desproporcionais. Numa altura em que a liberdade de expressão está a recuar perigosamente, a Nouvelle Librairie pretende garanti-la. No entanto, não pode aceitar sérias ameaças de morte dirigidas aos seus funcionários, que deve proteger”, lê-se no comunicado da editora, citado pela AFP. A Nouvelle Librairie, que também detém uma livraria homónima no Quartier Latin parisiense, diz já ter sido alvo de actos de vandalismo e que agora sente “um perigo real”.

Em Fevereiro de 2021, depois de uma carreira de largas décadas a publicar a sua obra com grande facilidade, Gabriel Matzneff pedia aos seus leitores que subscrevessem ou assinassem, por 100 euros, uma sua futura obra em que faria a sua defesa pública. Não havia casa editorial ainda associada ao projecto. Estes escritos agora alvo de pressão antecedem a denúncia pública de Springora, e depois de Francesca Gee, de relações abusivas entre um adulto e as jovens em pleno início de adolescência.

Ambos os casos, perante a lei francesa, já prescreveram e Matzneff é alvo de uma investigação que sobretudo procura alegadas vítimas mais recentes do autor para que possam avançar para a formulação de uma acusação e potencial julgamento.

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