Direita repudia apoio de Carlos Moedas a uma homenagem a Vasco Gonçalves

Para o líder da bancada do grupo municipal da IL, “homenagear alguém que quis uma ditadura de esquerda em Portugal seria um erro gravíssimo por parte do executivo camarário”. CDS também está contra.

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Vasco Gonçalves faleceu em 2005 MANUEL ROBERTO

O grupo municipal da Iniciativa Liberal (IL) de Lisboa repudiou nesta quinta-feira a intenção do presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), de continuar a homenagear Vasco Gonçalves, afirmando que o general “não merece uma estatueta que seja” na cidade.

“Uma homenagem por parte do executivo de Carlos Moedas a Vasco Gonçalves é uma homenagem a uma personagem iliberal que tentou colectivizar o país, preferindo uma ditadura de esquerda a uma democracia”, afirmou o grupo da IL, que conta com três eleitos na Assembleia Municipal de Lisboa, num comunicado enviado à agência Lusa.

A IL “condena veementemente” a intenção de criar um monumento a Vasco Gonçalves, indicando que o general é “responsável por um dos períodos mais conturbados do pós-25 de Abril” e a sua actuação, enquanto primeiro-ministro, “belisca a democracia ganha no 25 de Abril e reforçada no 25 de Novembro”.

Neste sentido, os deputados municipais da IL consideram que “qualquer homenagem é uma afronta às vítimas do PREC [Processo Revolucionário em Curso] e do COPCON [Comando Operacional do Continente], que fazia prisões arbitrárias e mandados de captura em branco”, acrescentando que Vasco Gonçalves é também responsável pelo “descalabro da reforma agrária imposta, nacionalizações e aos processos caóticos de descolonizações”.

Para o líder da bancada do grupo municipal da IL, Miguel Ferreira da Silva, “continuar a homenagear alguém que quis uma ditadura de esquerda em Portugal seria um erro gravíssimo por parte do executivo camarário”.

Miguel Ferreira da Silva refere ainda que “Vasco Gonçalves foi primeiro-ministro durante um ano e Portugal precisou de 10 [anos] para começar a recuperar de todos os erros cometidos”, reforçando que os atentados à liberdade, prisões arbitrárias, saneamentos, nacionalização da banca, reforma agrária e as várias ocupações atiraram Portugal para um estado de pobreza e atraso civilizacional.

“Vasco Gonçalves não merece uma estatueta que seja”, frisou o deputado municipal da IL.

CDS também contra

Também o CDS-PP de Lisboa anunciou que votará contra qualquer “homenagem, monumento ou evocação” ao general Vasco Gonçalves por simbolizar “o pior” na tentativa de “implantação de um regime totalitário” pela extrema-esquerda após o 25 de Abril.

Por sua vez, o ex-líder do CDS-PP Manuel Monteiro criticou Moedas por querer contribuir para criar um monumento de homenagem ao general Vasco Gonçalves, apelando que não se esqueça que foi eleito numa coligação.

“Seria do meu ponto de vista vantajoso que o senhor presidente da Câmara [Municipal de Lisboa], numa matéria desta natureza, tivesse o cuidado de nunca se esquecer que lidera uma câmara municipal em coligação e de uma coligação de partidos”, defendeu Manuel Monteiro.

Monteiro, que foi presidente do CDS-PP entre 1992 e 1997, considera “lamentável que o presidente da CML admita participar numa homenagem a alguém que teve a responsabilidade de quase provocar uma guerra civil em Portugal, que quis instaurar um regime ditatorial totalitário em Portugal, que é um dos responsáveis pelo atraso económico do país com a vaga de nacionalizações absurdas que provocou em 1975”.

“E acho estranho que um presidente de câmara, que deveria ter memória, eleito com os votos daqueles que também lutaram contra as ideias de Vasco Gonçalves, acho estranho que esse presidente se associe ou admita associar-se a homenagens conducentes à feitura de estátuas ou de bustos ou do que seja de alguém que representa o oposto ou representou o oposto dos valores dos que votaram no engenheiro Carlos Moedas para ser presidente da CML”, defendeu.

Monteiro vincou que as suas críticas são dirigidas a Carlos Moedas e “não aos partidos que suportam a coligação”. “O senhor engenheiro Carlos Moedas foi eleito em nome dos novos tempos, não é para estar agora a fazer homenagens e elogios a velhos tempos e esses velhos tempos que ainda por cima são maus e profundamente negativos”, criticou.

Manuel Monteiro confessou ainda não se sentir representado enquanto eleitor. “A mim não me está a representar seguramente. Eu votei nele e espero não me vir a arrepender com declarações e manifestações desta natureza”, disse.

Na quarta-feira, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), aceitou o desafio da Associação Conquistas da Revolução de trabalhar em conjunto na proposta de criação de um monumento de homenagem ao general Vasco Gonçalves (1921-2005).

O social-democrata referiu que houve já algumas homenagens feitas pela Câmara de Lisboa ao general Vasco Gonçalves, inclusive a atribuição do seu nome a uma rua junto à Quinta das Conchas, considerando que “é importante para a democracia” continuar a homenageá-lo na cidade.

“É óbvio que, para nós, será sempre uma honra e um gosto continuar a homenagear o senhor general Vasco Gonçalves”, reforçou o presidente da Câmara de Lisboa, manifestando a disponibilidade do município de trabalhar com a Associação Conquistas da Revolução: “Vou dar ordem para que isso aconteça e para que se possa começar a trabalhar nesse sentido”.

Manuel Begonha, presidente da associação criada em 2012 para preservar a memória, vida e obra do militar e político que foi primeiro-ministro durante quatro governos provisórios a seguir à Revolução do 25 de Abril, disse que a criação de um monumento para recordar a vida e obra do general Vasco Gonçalves é “de excepcional valia para o município de Lisboa e para Portugal”, indicando que a elaboração do projecto foi aceite pelo arquitecto Álvaro Siza.

Vasco Gonçalves foi chefe dos Governos Provisórios entre 18 de Julho de 1974 e 10 de Setembro de 1975 e o seu nome era aclamado nas manifestações e comícios durante o PREC em “slogans” como “Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, de uma canção interpretada por Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz.

O período em que chefiou o Governo ficou conhecido por “gonçalvismo” e ficou marcado principalmente pelo combate aos monopólios e aos latifúndios.

A nacionalização da banca e dos seguros, a par da aceleração da Reforma Agrária, foram decisões emblemáticas do “gonçalvismo”, ainda hoje sinónimo de extremismo de esquerda para as forças de direita.

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